SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Existem duas igrejas da Nossa Senhora Achiropita no mundo. Uma no Bexiga, na região central de São Paulo, e a outra na Itália, em Rossano, na região da Calábria. O santuário paulista realiza uma festa em homenagem à santa todos os fins de semana do mês de agosto, desde 1909. A próxima começa no sábado, dia 2.
A história da Achiropita é cercada de lendas. Conta-se que no ano 580 um capitão estava em alto mar, no Mediterrâneo, e seu barco ameaçava ir a pique. Diante do infortúnio, ele pediu que Nossa Senhora salvasse a ele e a sua tripulação, o que acabou atendido.
Quando chegou em Rossano, que ainda era uma aldeia, um monge chamado Éfren lhe disse que não haviam sido os ventos que levaram o barco para a terra, mas as preces para Nossa Senhora, e pediu ao capitão que construísse um santuário em homenagem a ela. Isso foi feito.
Também foi realizada uma pintura da santa na parede que toda noite, misteriosamente, se apagava e tinha que ser refeita. Um dia, uma mulher com uma criança pediu para entrar na igreja e não saiu. Quando um vigilante foi verificar o que tinha acontecido viu que a imagem da mulher com o menino estava impressa na parede. Daí vem o nome Achiropita, que significa “não criado por mãos humanas”.
A devoção à santa foi trazida para São Paulo pelos calabreses que se instalaram no Bixiga e trouxeram uma imagem da Achiropita feita na Itália em 1904, que ficava na casa dos imigrantes. Cinco anos depois, os italianos começaram a fazer festas de rua para arrecadar fundos para construir uma capela na rua 13 de Maio, que depois virou uma igreja.
A festa está na sua 99ª edição porque houve várias interrupções em seu caminho. Aconteceram duas guerras, a revolução de 1932 e a ditadura de Getúlio Vargas, quando os italianos não podiam se reunir. Nestes intervalos, o evento parou de ser realizado.
A festa serve para manter obras sociais que alcançam 1.100 pessoas diariamente, sendo 218 crianças de até 6 anos, 350 adolescentes de até 17 anos, 120 pessoas da terceira idade e mais de 300 moradores de rua. Não é só uma obra para distribuir alimento, mas para o desenvolvimento dos indivíduos. Há cursos profissionalizantes, alfabetização de adultos e recuperação de dependência química.
“Tudo isso é bancado pela festa, que tem patrocinadores e colaboradores”, diz Maria Emília Conte, relações públicas da Achiropita. “Toda a estrutura é feita por nós mesmos, com trabalho social voluntário. Além disso temos cem funcionários registrados e o apoio da prefeitura.”
A obra social foi iniciada por São Luís Orione, da ordem da Pequena Obra da Divina Providência, canonizado em 2004 pelo papa João Paulo 2. A primeira vez que o santo veio ao Brasil foi em 1921, quando só havia uma capela no Bixiga. Depois voltou em 1937, e a igreja já tinha sido erguida. Maria Emília diz que a obra segue o carisma dele: “Fazer o bem sempre, fazer o bem a todos, o mal nunca a ninguém”, dizia.
A principal atração da festa é a fogaça, um pastel recheado. Segue a receita das mães italianas antigas e leva duas toneladas de farinha por dia. É montada e frita. Duzentas pessoas trabalham para fazer a iguaria, todas voluntárias. São feitas cerca de 10 mil por dia. Outro evento é a procissão do dia 17, às 15h, seguida da celebração de uma missa.