SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Altos funcionários de alguns dos principais parceiros comerciais dos EUA correram para Washington na tentativa de fechar acordos de última hora com o presidente do país, Donald Trump, a menos de 24 horas de serem atingidos novamente com os níveis mais altos de tarifas.

Aliados dos EUA, Canadá e México enviaram delegações, segundo informações do jornal Financial Times, e estavam em intensas conversas com funcionários da administração Trump na quarta-feira (30).

Porém, nesta quinta-feira (31), o presidente norte-americano voltou a colocar o acordo com os canadenses em risco. Trump afirmou que será “muito difícil” chegar a um consenso depois de o país vizinho apoiar a criação do Estado da Palestina.

“O Canadá acaba de anunciar que está apoiando a criação de um Estado para a Palestina. Isso tornará muito difícil para nós fazermos um acordo comercial com eles”, afirmou Trump em post na sua rede social Truth Social.

O primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, também admitiu que os países podem não estabelecer um acordo. Segundo ele, as negociações estavam em uma fase intensa, mas um consenso para retirar todas as tarifas dos EUA era improvável.

O Canadá seguiu a França e o Reino Unido ao dizer na quarta-feira que seu país estava planejando reconhecer o Estado da Palestina em uma reunião das Nações Unidas em setembro.

“O Canadá condena o fato de o governo israelense ter permitido a ocorrência de uma catástrofe em Gaza”, disse o premiê. Israel e EUA, aliado mais próximo dos israelenses, rejeitaram os comentários de Carney.

O Canadá é o segundo maior parceiro comercial dos EUA, depois do México, e o maior comprador das exportações norte-americanas. Comprou US$ 349,4 bilhões em produtos norte-americanos no ano passado e exportou US$ 412,7 bilhões para os EUA, de acordo com dados do U.S. Census Bureau.

O Canadá também é o principal fornecedor de aço e alumínio para os Estados Unidos e enfrenta tarifas sobre ambos os metais, bem como sobre as exportações de veículos.

Trump ainda não divulgou uma tarifa para o Canadá, mas os jornais The New York Times e Financial Times informaram que os EUA devem aplicar uma sobretaxa de 35%. Já o México teve anunciada uma tarifa de 30%, que entra em vigor nesta sexta-feira (1º).

O presidente dos EUA afirmou na quarta-feira que o prazo não será estendido. “O prazo de 1º de agosto é o prazo de 1º de agosto. Permanece firme e não será prorrogado”, disse em post no Truth Social.

As ameaças, juntamente com acordos firmados nos últimos dias com a UE e o Japão, deixaram negociadores de outros parceiros comerciais correndo para encontrar tempo para se reunir com funcionários da administração e acertar termos.

A Índia estava próxima de um acordo, segundo uma pessoa familiarizada com as negociações que foi ouvida pelo Financial Times. Porém, o país foi alvo de uma tarifa de 25% anunciada nessa quarta.

Diplomatas estrangeiros passaram horas nas últimas semanas negociando com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer.

Embora um diplomata tenha descrito Lutnick como “fundamental” para garantir qualquer acordo, muitos disseram que ele os havia advertido que todas as decisões finais cabiam a Trump.

Pessoas familiarizadas com várias negociações comerciais ouvidas pelo Financial Times disseram que o presidente, em mais de uma ocasião, rejeitou possíveis acordos propostos a ele por Lutnick e outros assessores, e exigiu que eles pressionassem por mais concessões aos EUA.

O presidente interveio pessoalmente em vários acordos, incluindo a participação em uma ligação entre Lutnick e o ministro do Comércio indiano, de acordo com o Financial Times.

Trump também deve decidir se estenderá uma pausa em sua guerra comercial com a China, depois que o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o negociador Greer realizaram uma terceira rodada de conversas com uma equipe de Pequim na Suécia esta semana.

Os esforços diplomáticos fazem parte do período de seis meses tumultuados nas relações comerciais dos EUA, marcados por retórica truculenta e ameaças tarifárias de Trump, frequentemente seguidas por reversões e recuos.

Parceiros comerciais dos EUA sem um acordo têm até 0h01 (horário de Nova York) desta sexta-feira para encontrar um consenso ou enfrentar Trump reimpondo as altas tarifas que ele anunciou em abril, mas suspendeu após dias de grave turbulência no mercado.

Por enquanto, Trump está distante de cumprir a sua promessa de fechar 90 acordos em 90 dias. Até o momento, sete países e a União Europeia anunciaram um acordo com os EUA.