da redação
Horas depois de ser incluído na lista de sanções da Lei Magnitsky, imposta pelos Estados Unidos, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), reapareceu em público em um cenário pouco convencional para um protagonista da política internacional: a arquibancada da Neo Química Arena, em São Paulo. Na noite desta quarta-feira (30), ele assistiu ao clássico Corinthians x Palmeiras pelas oitavas de final da Copa do Brasil — e não passou despercebido.
Acompanhado da esposa e vestido de forma discreta, Moraes acenou para o público, sorriu e chegou a responder com um gesto obsceno a provocações isoladas. A cena mais repercutida da noite foi quando, ao ser abordado por um torcedor, respondeu com um descontraído “Vai, Corinthians”, reforçando seu já conhecido amor pelo time alvinegro. Ele permaneceu em um dos camarotes do estádio e não houve registros de tumulto ou hostilidade.
Política e futebol se cruzam
A presença do ministro no estádio ganhou destaque também na transmissão ao vivo da Amazon Prime, com narração de Galvão Bueno. “Ali está o ministro Alexandre de Moraes, envolvido nessa disputa política com os Estados Unidos. Mas hoje ele está aqui como torcedor, e tem todo o direito de estar”, comentou Galvão, tentando separar os campos — literalmente — do esporte e da política.
Esta não foi a primeira vez que Moraes marcou presença em uma partida do Corinthians em momentos delicados. Em março, ele também esteve na Neo Química Arena durante a final do Campeonato Paulista, quando o Corinthians venceu o Palmeiras e se sagrou campeão. Para alguns, mais do que lazer, a ida ao estádio desta vez teve tom de resposta simbólica.
Alvo inédito da Lei Magnitsky
A aparição pública do ministro aconteceu poucas horas após o governo dos Estados Unidos anunciar sua inclusão no rol de sanções da Lei Magnitsky — um dispositivo usado historicamente contra líderes de regimes autoritários, terroristas e agentes envolvidos em violações graves de direitos humanos. É a primeira vez que uma autoridade de um país democrático é punida com base nessa legislação.
A sanção, determinada pela Secretaria do Tesouro dos EUA a pedido do presidente Donald Trump, congela eventuais ativos de Moraes em território norte-americano, bloqueia seu acesso ao sistema financeiro do país e impede sua entrada nos Estados Unidos. Na semana passada, o visto dele, de outros ministros do STF e do procurador-geral da República, Paulo Gonet, já havia sido suspenso por Washington.
O governo Trump justificou as medidas com acusações de abuso de poder, censura política e perseguição a opositores — uma narrativa alinhada ao discurso da base bolsonarista, com quem Trump mantém laços estreitos. O Supremo Tribunal Federal não comentou oficialmente o caso até o momento.
Um gesto, muitos significados
A postura de Alexandre de Moraes ao comparecer a um evento esportivo logo após uma das mais graves ações diplomáticas já enfrentadas por um membro do STF é vista por analistas como uma demonstração de despreocupação — ou, para alguns, de provocação calculada. O gesto do dedo médio, ainda que pontual e informal, foi interpretado por críticos como uma reação direta ao cenário político e internacional que o cerca.
Enquanto os desdobramentos da sanção seguem reverberando nos bastidores da diplomacia e da política brasileira, Moraes parece ter escolhido o futebol como palco para uma resposta silenciosa — e bem visível — aos que tentam pressioná-lo. Afinal, em tempos de tensão, até o grito de “Vai, Corinthians” pode carregar uma mensagem.