Da Redação
A Embraer, um dos maiores símbolos da indústria brasileira no exterior, acaba de escapar de uma pancada bilionária que poderia comprometer sua presença no mercado norte-americano. A fabricante de aeronaves foi incluída na lista de exceções das duras tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a centenas de produtos brasileiros, o que livra da sobretaxa aviões, motores, peças e componentes ligados à aviação.
O alívio chega em um momento de tensão entre os dois países, impulsionada por acusações do ex-presidente Donald Trump de que o Brasil representa uma ameaça à segurança nacional dos EUA — um discurso até então reservado a países como Irã, Cuba e Venezuela.
A própria Embraer, terceira maior fabricante de aviões do mundo, estimava que, caso a tarifa fosse mantida, cada venda aos EUA poderia ficar até R$ 50 milhões mais cara, o que tornaria inviável boa parte das negociações previstas até 2030. O prejuízo acumulado poderia ultrapassar R$ 20 bilhões.
A empresa comemorou a decisão como uma vitória da diplomacia e do bom senso. “Reforçamos nosso apoio ao diálogo contínuo entre os governos brasileiro e americano e acreditamos no retorno à tarifa zero para o setor aeroespacial global”, afirmou a Embraer em nota.
Impacto no mercado e nas exportações
A notícia fez bem também à bolsa. As ações da Embraer fecharam o dia com alta de 10,93%, refletindo a confiança renovada dos investidores na permanência da empresa no competitivo mercado dos EUA.
Segundo a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), os produtos brasileiros retirados da lista de taxação somaram US$ 18,4 bilhões em exportações no último ano — o equivalente a 43,4% de tudo que o Brasil vendeu para os Estados Unidos em 2024. Desse total, o setor aeronáutico respondeu por US$ 2 bilhões, sendo metade concentrada em aeronaves leves, segmento dominado pela Embraer. Apenas as exportações de combustíveis superaram esse valor.
Ainda assim, a Embraer segue enfrentando um imposto de 10% sobre seus produtos desde abril, valor que continua em vigor até nova reavaliação do governo norte-americano.
Tarifaço com viés político
A exceção concedida à Embraer contrasta com a retórica explosiva da Ordem Executiva assinada por Trump. O documento classifica o Brasil como “ameaça incomum e extraordinária” à segurança dos EUA e acusa o governo brasileiro de “perseguição política” contra Jair Bolsonaro e seus apoiadores.
O texto ainda responsabiliza o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, por supostos abusos de autoridade, censura e prisões ilegais — argumentos que, segundo especialistas, têm forte conotação ideológica e refletem a aproximação de Trump com o ex-presidente brasileiro.
Apesar da turbulência política, a permanência da Embraer entre os produtos isentos de taxação revela que, mesmo em tempos de confronto, os interesses econômicos e estratégicos ainda têm peso significativo nas relações bilaterais.