SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em um momento de reestruturação, o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo anunciou a nomeação de Flávia Martins como nova diretora executiva nesta quarta-feira (30). A chegada da jornalista, escritora e executiva aponta uma tentativa de reforçar a presença de mulheres negras em cargos de liderança da instituição, vinculada à Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas de São Paulo.

A nomeação acontece poucos dias após a saída conturbada de Hélio Menezes da diretoria artística do museu. Em carta aberta publicada nas redes sociais, o antropólogo acusou a instituição de “práticas marcadas por informalidade, pessoalismo e pouca transparência”, além de criticar a baixa diversidade racial em espaços decisórios. Menezes afirmou ainda que foi demitido enquanto se recuperava de um problema de saúde e que a decisão interrompeu compromissos curatoriais assumidos até 2026.

A crise se aprofundou com a renúncia de dois conselheiros: o jornalista Wellinton Souza e a artista visual Rosana Paulino, ambos negros, que defendiam maior coerência entre o discurso e a estrutura de poder da instituição. No momento, o conselho do museu contava com 11 integrantes, dos quais sete eram brancos.

Um mês depois da demissão de Menezes, quase 800 artistas e intelectuais saíram em sua defesa num manifesto. Assinaram a carta nomes de peso da cultura do país e do mundo, entre eles a liderança indígena e escritor Ailton Krenak, a atriz Camila Pitanga, a escritora Conceição Evaristo e a artista e curadora portuguesa Grada Kilomba.

Em nota, o Museu Afro Brasil disse que a demissão de Menezes se deu por “critérios técnicos” e que não foi possível “chegar a um acordo que equilibrasse as expectativas do então diretor com os limites orçamentários”. A instituição afirmou ainda ter oferecido a ele a possibilidade de seguir como curador, sem resposta.

Souza, por sua vez, contesta a versão oficial. Em entrevista, afirmou que Menezes atuou por mais de um ano sem contrato formalizado e com salário abaixo do mercado. “Se o conselho não tem competência para formalizar um contrato com um dos principais curadores do país, qual o objetivo daquele conselho?”.

A direção do museu agora aposta na nova configuração como resposta institucional. A gestão executiva e os conselhos do Museu contam hoje com maior presença de mulheres negras em cargos estratégicos, incluindo áreas como comunicação, educação, RH, contratos e produção cultural. Entre os nomes estão Ana Beatriz do Nascimento, Clara Sitó, Edna Lúcia da Cruz, Simeia Araújo e Zélia Peixoto, além de Jandaraci Araújo, presidente do Conselho Administrativo, e Patrícia Albuquerque, presidente do Conselho Fiscal

O currículo da nova diretora-executiva, Flávia Martins, inclui passagens por organizações como o Pacto Global da ONU, AYA Earth Partners, TransUnion e Telefônica. Pós-graduada em marketing e autora de 12 livros, ela foi reconhecida em 2021 com o prêmio Ketchum Catalyst por sua liderança transformador