BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (30) manter inalterada a taxa básica de juros em 15% ao ano e interrompeu o ciclo de alta com a Selic no maior nível em 19 anos.
Com a decisão, a Selic fica estacionada no maior patamar observado desde julho de 2006. Naquela época, contudo, os juros estavam em trajetória de queda depois de terem atingido o pico de 19,75% ao ano, em 2005, durante o escândalo do mensalão.
O ciclo de alta de juros durou dez meses, de setembro do ano passado a junho deste ano. Ao longo do período, foram realizados sete aumentos seguidos. Nesse processo, a taxa básica foi de 10,5% a 15% ao ano, acumulando elevação de 4,5 pontos percentuais.
A Selic começou a subir na gestão de Roberto Campos Neto, cujo mandato terminou em 31 de dezembro de 2024. O primeiro passo foi gradual, com alta de 0,25 ponto percentual (a 10,75% ao ano). O comitê, então, acelerou o passo pela primeira vez e elevou a taxa básica em 0,5 ponto em novembro (a 11,25% ao ano).
Na decisão que marcou a transição de comando e a despedida de Campos Neto do BC, na última reunião de 2024, o Copom foi mais agressivo e indicou um choque de juros. Em dezembro, fez um aumento de um ponto percentual (a 12,25% ao ano) e sinalizou mais duas altas de mesma intensidade nos encontros seguintes, em janeiro e março.
No começo da nova gestão, o atual presidente do BC, Gabriel Galípolo, cumpriu a estratégia traçada, com duas altas de um ponto, alçando os juros a 14,25% ao ano em março. Depois disso, o comitê passou a desacelerar o ritmo e subiu a Selic em 0,5 ponto em maio (14,75% ao ano) e em 0,25 ponto em junho (15% ao ano).
No encontro de junho, o colegiado do BC antecipou prever a interrupção do ciclo de alta de juros -plano que agora se concretizou.
A decisão veio em linha com a expectativa consensual do mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que a manutenção da Selic em 15% ao ano era a aposta dos economistas consultados.
Nas últimas semanas, cresceu a incerteza no cenário econômico com o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicação da sobretaxa de 50% a produtos brasileiros. A ordem executiva foi assinada nesta quarta pelo republicano, com uma lista de quase 700 exceções.
A guerra comercial aberta pelos Estados Unidos e seus efeitos ainda nebulosos desafiam a atuação dos bancos centrais. Mais cedo, o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) manteve os juros inalterados no intervalo de 4,25% a 4,50% ao ano pela quinta vez consecutiva, como amplamente esperado pelo mercado.
No ambiente doméstico, concretizou-se o primeiro estouro da inflação desde que o sistema de avaliação contínua entrou em vigor, em janeiro deste ano. O BC projeta que o índice volte a ficar abaixo do teto da meta a partir do fim do primeiro trimestre de 2026.
O objetivo central perseguido pelo BC é 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. A meta de inflação é considerada cumprida se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
Devido aos efeitos defasados da política de juros sobre a economia, o Copom passa a ter a inflação do primeiro trimestre de 2027 na mira.
As expectativas de inflação de médio prazo seguem distantes do centro da meta. De acordo com o último boletim Focus, os analistas projetam que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) termine 2026 em 4,44%. Para 2027, a estimativa mediana do mercado financeiro segue em 4% pela 23ª semana seguida.
O Copom, que hoje é composto majoritariamente por representantes indicados pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) -com sete dos nove membros-, volta a se reunir nos dias 16 e 17 de setembro.