BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O plano para mitigar os efeitos do tarifaço imposto pelo presidente americano Donald Trump contra o Brasil está pronto e sendo refinado pelo governo, afirmou nesta quarta-feira (30) o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron.

Segundo ele, o governo está atento aos efeitos causados pela medida tomada pelos Estados Unidos e pretende dar uma resposta racional por meio do pacote para permitir a estabilidade do cenário econômico. Ele afirmou que as ações devem incluir medidas de crédito.

Como mostrou a Folha de S. Paulo, entre as medidas há a possibilidade de criar um fundo privado temporário para dar empréstimo a empresas ou setores afetados pelo tarifaço. O objetivo é exigir dos interessados a demonstração de que tiveram suas receitas afetadas negativamente pela imposição da sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros.

Mesmo dentro de setores afetados pelo tarifaço, como o siderúrgico, há empresas que são menos dependentes das relações comerciais com os americanos. Por isso, a definição do recorte será importante para garantir que a linha emergencial seja acessada por quem efetivamente sofreu impactos.

“Nosso trabalho foi montar um plano de ação, então nós temos olhado do ponto de vista de mitigação dos efeitos sobre a economia brasileira. Isso está preparado, estamos aqui refinando”, afirmou Ceron durante entrevista sobre o resultado do Tesouro.

O secretário não deu detalhes das iniciativas nem o quanto elas custariam ao Tesouro por dizer não ter autorização para aprofundar o assunto por enquanto. Segundo ele, ainda não há uma estimativa de quando o pacote será lançado porque a decisão depende de decisão do presidente Lula (PT).

Mesmo assim, ele falou que as medidas devem ser proporcionais aos efeitos sentidos pelos segmentos. “Se o setor é mais ou menos atingido, com aquele apoio também está calibrado e está flexível e [de forma que] atende proporcionalmente”, disse.

O secretário afirmou ainda que, em uma primeira avaliação, as medidas anunciadas pelos EUA, com exceções a diferentes produtos, são melhores do que o cenário inicialmente desenhado -de sobretaxa de 50% a toda a pauta exportadora brasileira. Mas que uma análise mais aprofundada exigira mais estudos por parte dos técnicos do governo.

De acordo com Ceron, as exceções anunciadas pelos EUA não mudam de forma significativa o desenho do programa concebido. “As ações estão construídas de forma compatível com essa calibragem, então não creio que demande grandes alterações em função desses ajustes. Claro que pode mudar a dimensão, um foco ou outro, mas, a rigor, na macroestrutura do desenho não creio [que precise de alterações relevantes]”, disse.

“[Vamos] fazer coisas com racionalidade, na medida certa para gerar o efeito econômico proporcional de mitigação daquele efeito que está sendo enfrentado”, disse.

O secretário evitou um comparação entre o programa e a medida criada na época da pandemia de Covid-19 para proteger empregos, que concedia um benefício emergencial do Tesouro no lugar de ao menos parte do salário dos empregados.

“Não acho que [o novo pacote e as medidas do passado] têm as mesmas características. São eventos diferentes, com características diferentes, com efeitos econômicos diferentes e que exigem medidas diferentes. Então, as situações são comparáveis”, disse.

Ele falou que a intenção é, enquanto o cenário não se resolver definitivamente, oferecer instrumentos para dar suporte na medida necessária “para que as coisas continuem bem como estão neste momento”. Segundo ele, não necessariamente as medidas vão ser executadas ao mesmo tempo, para dar a oportunidade de o governo medir a evolução do cenário.