SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) anunciou nesta quarta-feira (30) a manutenção da taxa de juros do país entre 4,25% e 4,5% pela quinta reunião consecutiva e frustrou o presidente Donald Trump, que vem exigindo a queda da taxa desde o início de sua gestão.
Os juros permanecem neste patamar desde 18 de dezembro de 2024, quando o Fed fez um corte de 0,25 ponto percentual. Na ocasião, Trump havia sido eleito, mas não tinha tomado posse. Ele já criticava o Fed e pedia a redução dos juros. Depois disso, o BC dos EUA manteve a taxa nas reuniões de janeiro, março, maio, junho e julho.
A diferença é que na reunião encerrada nessa quarta houve dois votos contrários à manutenção da taxa de juros. A vice-presidente de supervisão Michelle Bowman e o governador do Fed Christopher Waller defenderam a redução de 0,25 ponto percentual. Mas eles foram vencidos por nove votos favoráveis a manutenção da taxa entre 4,25% e 4,5%. Nos outros quatro encontros deste ano, a decisão foi unânime. É a primeira vez em mais de 30 anos que dois membros se opõem à resolução do Fed.
Os dois votos contrários são de pessoas indicadas por Trump. Waller, inclusive, é um dos nomes apontados para suceder Jerome Powell na presidência do Fed e já havia anunciado que votaria pela redução da taxa.
Nesta manhã, antes do anúncio do Fed, o presidente norte-americano voltou a cobrar um corte na taxa depois da divulgação da aceleração do PIB (Produto Interno Bruto) para 3% no segundo trimestre.
“O PIB do 2º trimestre acabou de ser divulgado: 3%, muito melhor do que o esperado! Tarde demais. Agora tem que baixar a taxa. Sem inflação! Deixe as pessoas comprarem e refinanciarem suas casas”, postou Trump em sua rede social Truth Social.
Porém, Powell vem afirmando reiteradamente que não tem pressa para reduzir a taxa de juros. A preocupação do Fed é que a inflação, medida pelo IPC (Índice de Preços ao Consumidor), voltou a acelerar em junho, atingindo 2,7% no acumulado dos últimos 12 meses. A meta da inflação do Fed é 2%.
No comunicado após a decisão, o Fed afirma que o aumento dos preços influenciou na resolução desta quarta-feira. “A taxa de desemprego permanece baixa e as condições do mercado de trabalho permanecem sólidas. A inflação continua um pouco elevada”, disse o BC dos EUA.
Além disso, a autarquia quer avaliar o impacto das tarifas anunciadas por Trump sobre inúmeros países. Com a sobretaxa, a expectativa é que a inflação suba mais, pois o custo das matérias-primas deve aumentar. A maioria das tarifas sobre os países começa a vigorar nesta sexta-feira (1º). O Brasil passará a ter 50% de tarifa a partir de 6 de agosto.
“A incerteza sobre as perspectivas econômicas permanece elevada”, indicou o Fed, citando riscos para as metas de inflação e de emprego.
Porém, o comunicado indica que há uma possibilidade de redução na próxima reunião, marcada para 17 e 18 de setembro, mas a expectativa é que o corte seja de 0,25 ponto percentual, bem aquém do que Trump vem defendendo. Ele quer uma redução de três pontos percentuais.
DISSIDÊNCIA RARA
Essa foi a primeira vez que dois membros da diretoria do Fed, sediada em Washington, discordaram formalmente de uma decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto desde dezembro de 1993, de acordo com dados do Fed de Saint Louis.
Qualquer nível de oposição formal por parte dos diretores é relativamente raro, e a maioria dos votos dissidentes resulta de discordâncias mantidas pelos presidentes dos bancos regionais do Fed.
A última vez que um diretor discordou foi na reunião de setembro do ano passado, quando Michelle Bowman queria um corte na taxa menor do que o preferido por seus pares.
Em termos gerais, votos dissidentes no Comitê são incomuns. Até esta quarta-feira, nenhuma reunião do Fed neste ano tinha gerado oposição formal, com apenas duas dissidências ocorrendo em 2024 e nenhuma em 2023.
Os votos contrários de Waller e Bowman já eram esperados. Em um discurso em 17 de julho, Waller justificou seu desejo de reduzir os custos dos empréstimos de curto prazo ao dizer que “a economia ainda está crescendo, mas seu ritmo tem diminuído significativamente e os riscos para o mandato de emprego aumentaram”.
Um mês antes, Bowman afastou as preocupações de que as tarifas de Trump aumentarão a inflação e disse que, desde que as pressões inflacionárias permanecessem contidas, ela acreditava que “é hora de considerar” a redução dos juros na reunião de julho.
PRESSÃO SOBRE POWELL
Na semana passada, Trump visitou a sede do Fed e questionou Powell sobre os custos da reforma do prédio, previstos em US$ 2,5 bilhões, e voltou a defender a queda dos juros.
Desde que foi empossado em 20 de janeiro, o republicano subiu o tom das críticas e passou a atacar diretamente Powell, que foi nomeado pelo próprio republicano em sua primeira gestão em 2018.
O mandatário dos EUA já chamou Powell de “idiota” e “burro”, afirmou que ele era o responsável pela economia não subir da forma como a população pretendia e também era o culpado pelo déficit enfrentado pelo país.
Trump cogitou nomear a si próprio para o cargo e afirmou que deve substituir Powell até abril de 2026, um mês antes do término do mandato do presidente do Fed. Ao mesmo tempo, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou neste mês que o processo para substituição de Powell foi aberto.
Bessent, inclusive, é um dos cotados pela imprensa dos EUA para assumir o posto. Porém, ele é um dos azarões no momento. Os favoritos são Kevin Hassett (principal conselheiro econômico da Casa Branca) e Kevin Warsh (ex-governador do Fed), de acordo com a Bloomberg e o jornal The Washington Post. O outro nome mencionado na disputa é Christopher Waller (atual integrante do Fed).