Medida foi assinada nesta quarta-feira (30) e entra em vigor no dia 1º de agosto. Ordem executiva menciona perseguição judicial contra aliados de Trump no Brasil e ameaça de censura a empresas americanas.
Por Redação
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quarta-feira (30) uma ordem executiva que oficializa a aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil. A medida entra em vigor no dia 1º de agosto e atinge setores estratégicos da economia brasileira, como o agronegócio e a indústria farmacêutica.
A decisão marca o ponto mais tenso na relação diplomática entre os dois países desde a redemocratização brasileira e tem como pano de fundo uma série de embates políticos envolvendo o Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro e influenciadores ligados à direita norte-americana.
Liberdade de expressão e “perseguição”
No texto publicado pela Casa Branca, Trump afirma que a decisão foi motivada pela “ameaça incomum e extraordinária” que o governo brasileiro representaria à liberdade de expressão e aos interesses estratégicos dos Estados Unidos. A ordem cita diretamente o ministro Alexandre de Moraes, que tem conduzido investigações contra aliados de Bolsonaro, e aponta “abusos de autoridade” no bloqueio de perfis, na censura a plataformas digitais e no cerco judicial a figuras públicas que residem em território americano.
Entre os casos mencionados está o do comentarista político Paulo Figueiredo, neto do último presidente militar do Brasil, que vive nos EUA e se tornou alvo de mandados judiciais expedidos pelo STF. O documento também cita nominalmente Jair Bolsonaro, a quem Trump se refere como “amigo e defensor da liberdade”.
Impacto econômico
A nova tarifa atinge em cheio exportações brasileiras de carne bovina, suco de laranja, soja, café, produtos têxteis, medicamentos e até aeronaves, segundo analistas do setor. Estima-se que a medida possa causar prejuízo superior a US$ 6 bilhões ao ano, além da perda de milhares de empregos no setor exportador.
Após o anúncio, o dólar disparou frente ao real, e ações de empresas exportadoras brasileiras sofreram quedas significativas na bolsa de valores.
Governo Lula reage
O Palácio do Planalto reagiu com firmeza à decisão. Em nota oficial, o governo brasileiro classificou a medida como “arbitrária e injustificada” e anunciou que buscará retaliações comerciais com base na nova Lei de Defesa Comercial e Reciprocidade, sancionada no início do ano.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o Brasil vai apresentar uma queixa formal à Organização Mundial do Comércio (OMC) e pode adotar tarifas compensatórias sobre produtos americanos, além de revisar concessões já firmadas em acordos bilaterais.
“Não aceitamos ameaças nem interferências em nossa soberania jurídica. O Judiciário brasileiro é independente e atua dentro dos limites constitucionais”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista coletiva nesta manhã.
Polarização e eleições
A ordem executiva ocorre em meio ao acirramento do cenário eleitoral nos Estados Unidos, com Trump liderando as pesquisas dentro do Partido Republicano. A decisão pode agradar a setores conservadores da base trumpista, que veem Bolsonaro como símbolo da luta contra o “globalismo” e a esquerda internacional.
Analistas avaliam que a medida também busca mobilizar o eleitorado mais radical, ao apresentar Trump como defensor da liberdade de expressão global — ainda que o impacto econômico recaia sobre consumidores e empresas americanas, que passarão a pagar mais por produtos brasileiros.
Clima de tensão
Enquanto o governo brasileiro tenta articular apoio internacional para frear o avanço das sanções, diplomatas ouvidos pela imprensa consideram difícil reverter a decisão antes da eleição presidencial norte-americana. A União Europeia pediu diálogo e alertou sobre os riscos de uma escalada protecionista.
Em paralelo, entidades do agronegócio e da indústria pedem ação imediata do Itamaraty para preservar os empregos e evitar o fechamento de mercados estratégicos.