SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil acompanhou de perto o caso de Rafael Miguel, ator conhecido pelo papel de Paçoca na novela “Chiquititas” (SBT). Quatro anos após o crime que tirou a vida dele e de seus pais, João Alcisio e Miriam Selma, a história ganha novos contornos em “O Assassinato de Rafael Miguel”, série documental que estreia na quinta-feira (31) na HBO Max.

Dirigida por Maurício Dias e produzida pela Grifa Filmes, a produção propõe um olhar mais íntimo e delicado para um caso que foi amplamente noticiado. A série traz elementos inéditos da investigação e foca, principalmente, as vítimas que sobreviveram –com destaque para Isabela Tibcherani, então namorada de Rafael e filha do assassino confesso, Paulo Cupertino.

“Essa narrativa conduzida pela Isabela e sua mãe, além da própria investigação, é o que torna a série especial. Tivemos acesso aos bastidores, como os julgamentos, e acompanhamos a reação dela em tempo real. O que se vê ali é de verdade, sem reencenação”, afirma o produtor Fernando Dias.

O crime aconteceu em 2019, no bairro de Pedreira, zona sul de São Paulo, quando Rafael, aos 22 anos, foi com os pais visitar Isabela. Eles foram surpreendidos por Cupertino, que disparou 13 tiros contra os três. O assassino fugiu e ficou foragido por mais de três anos, até ser preso em 2022. Em maio deste ano, foi condenado a 98 anos de prisão.

Para os responsáveis pelo documentário, a proposta é sair da abordagem puramente criminal e dar espaço à dor, à reconstrução e ao impacto emocional dos envolvidos. “A gente sempre tenta responder o que essa história tem de novo a oferecer. Vamos mostrar o lado das vítimas que sobreviveram. Fugir só das manchetes e mergulhar na humanidade dessas pessoas”, explica Adriana Cechetti, diretora de produção sênior da Warner Bros. Discovery.

Segundo o diretor Maurício Dias, a série também serve como um retrato da sociedade brasileira. “Esse é um filme sobre uma estrutura patriarcal, machista e misógina, que é muito mais comum no Brasil do que se imagina. A voz da Isabela e da investigadora são símbolos de resistência dentro desse contexto.”

A própria Isabela, que foi alvo de ataques nas redes sociais após o crime, ganha espaço para compartilhar sua versão dos fatos e revelar suas cicatrizes. “Ela sofreu muito com os haters, e esperamos que, com a série, as pessoas finalmente conheçam a história dela. Ela era só uma menina de 18 anos, mas muita gente a julgou por aparência, por postura, por ser articulada. Nunca viram sua dor”, diz o produtor Fernando Dias.

O documentário também mostra a complexidade emocional vivida por Isabela, ao mesmo tempo filha do assassino e parceira da vítima. “No fim, você vê que ela não pode comemorar a prisão do pai. Isso é muito forte. Esperamos que isso gere reflexão sobre como olhamos para esses casos”, afirma o diretor.

Além dos depoimentos, a série apresenta registros pessoais como o diário de Isabela e áudios do podcast de Rafael, que ajudam a construir o pano de fundo da relação entre os dois. “Isso permite que o público sinta o amor deles, a cumplicidade. Rafael continua presente, mesmo não estando mais aqui”, completa Cechetti.