WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Senadores que viajaram a Washington nesta semana dizem ter recebido alertas tanto de empresários como de parlamentares da oposição e aliados ao governo de que o Congresso americano deve aprovar uma lei anti-Rússia que pode sancionar o Brasil.

Um projeto de lei apresentado em abril no Congresso dos Estados Unidos propõe impor uma sobretaxa de até 500% sobre produtos importados por países que continuem comprando mercadorias da Rússia.

A medida faz parte de um pacote de sanções econômicas mais amplas, voltadas a pressionar governos e empresas que ainda mantêm relações comerciais com Moscou, em meio ao prolongado conflito na Ucrânia. A sobretaxa seria uma ferramenta de retaliação econômica para enfraquecer a capacidade financeira do governo de Vladimir Putin.

O Brasil seria sancionado por importar alguns produtos da Rússia, como petróleo bruto.

Há o temor entre os senadores brasileiros que o Brasil seja atingido também por ser um grande importador de fertilizantes da Rússia. Caso os EUA resolvam sancionar o país em razão do comércio desse produto, haveria grandes consequências para o agronegócio.

A senadora Tereza Cristina afirmou que esse será um assunto a ser debatido na volta ao Brasil. “Estamos levando na bagagem de volta alguns pontos de atenção como esse assunto sensível do óleo, que é sensível tanto para os democratas quanto para os republicanos e que o Brasil tem que pensar sobre esse assunto”, afirmou Cristina.

O senador Carlos Viana (Podemos-MG) foi ainda mais enfático ressaltando que esta será uma decisão do próprio Congresso americano.

“Há outra crise pior que pode nos atingir em 90 dias. Tanto republicanos quanto democratas foram firmes em dizer que eles irão aprovar uma lei que vai criar sanções automáticas para todos os países que negociam com a Rússia. E não será um decreto do presidente da República, como o tarifaço”, disse Viana.

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), disse que os senadores ponderaram aos parlamentares dos EUA que essas sanções poderiam inviabilizar o agronegócio brasileiro.

Wagner ressaltou que 30% dos fertilizantes comprados pelo Brasil são da Rússia.

“Então não tem como deixar de comprar, só se for para parar o agronegócio. Também o negócio do combustível, quem compra não é o governo brasileiro. Quem compra são as empresas que importam para revender no mercado interno”, disse Wagner.

Um dos senadores autor da proposta é Lindsey Graham, aliado do ex-presidente Donald Trump e representante da Carolina do Sul, um dos principais defensores da proposta. O projeto, no entanto, é bipartidário.

Em entrevista à emissora CBS, Graham explicou que a lei daria ao presidente dos EUA ampla flexibilidade para ajustar a tarifa, podendo variar entre zero e 500%, conforme a política externa adotada. A proposta ainda não foi aprovada por nenhuma comissão no Congresso, mas sinaliza uma possível diretriz de endurecimento das sanções caso Trump retorne à presidência.

As conversas fizeram parte da agenda do grupo de oito senadores brasileiros em Washington em encontros com congressistas nesta terça-feira (29) para tentar melhorar os canais com os americanos.

De reuniões com nove parlamentares dos EUA nesta terça, porém, apenas uma foi com um republicano, do partido de Trump, indicando que a mensagem não ecoou entre aliados do presidente.

O republicano com o qual a comitiva brasileira se reuniu foi Thom Tillis, que foi atacado recentemente por Trump por se opor à lei fiscal enviada pelo governo, apelidada de “Big Beautiful Bill” (grande e bonito projeto de lei).

Os parlamentares também não têm encontros marcados com integrantes do Executivo americano, o que reduz as chances de avanços em acordos.

Os demais parlamentares democratas são Martin Heinrich (Novo México), Ed Markey (Massachusetts), Tim Kaine (Virginia), Mark Kelly (Arizona), Chris Coons (Delaware), Michael Bennett (Colorado), Jeane Shahhen (New Hampshire) e a deputada Sydney Kamlager-Dove.

O grupo evitou divulgar antecipadamente a agenda por receio de interferências. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou que trabalharia contra os encontros.

Segundo uma pessoa que faz parte do grupo dos senadores, pelo menos duas reuniões foram inviabilizadas devido à atuação: uma com o senador republicano Rick Scott, da Flórida, e outra com Ted Cruz, do Texas. A informação que chegou a integrantes da comitiva é que ligaram no gabinete de ambos chamando os parlamentares brasileiros de “golpistas”.

Trad evitou dizer quem seria o responsável pelas eventuais interferências e disse que não entraria em “bola dividida”.