FOLHAPRESS – “Amores Materialistas”, novo longa-metragem de Celine Song, já dava o que falar antes de chegar aos cinemas. Sob o selo da produtora A24, o filme tem o galã da hora, Pedro Pascal, e é dirigido e escrito pela cineasta, indicada ao Oscar por roteiro original em 2024 pelo delicado “Vidas Passadas”.

A história é simples. Dakota Johnson encarna Lucy, uma casamenteira de grife desiludida com o amor. Ela vive de satisfazer as altas expectativas de seus clientes, que procuram homens sempre acima dos 1,80 m e com salários astronômicos ou estão atrás de mulheres interessantes, com IMC abaixo de 20 e idade pouco acima disso.

No casamento de um desses pares de ouro ela conhece Harry, vivido por Pascal. O irmão do noivo é descrito por Lucy como um “unicórnio”. Ele preenche todos os requisitos que uma mulher poderia querer. Bonito, cheio de cabelo, rico, inteligente, bem-sucedido, alto, sarado e solteiro.

Lucy o vê, a princípio, como um potencial cliente. Ele a vê como potencial namorada. No mesmo dia em que se conhecem, a casamenteira encontra John, um ex-namorado interpretado por Chris Evans.

Exige certa suspensão de realidade comprar a ideia de que Johnson e Evans são millennials que lutam para pagar aluguel em Nova York, e essa pobreza relativa é retratada por Song de forma caricata. John divide um apartamento com colegas pavorosos enquanto equilibra uma carreira de ator de teatro e um trabalho de garçom. Lucy largou a faculdade e foi viver “da única coisa que sabe fazer bem”: juntar metades da laranja.

Ela é pragmática e não hesita em escantear o amor. Ela é, afinal, uma casamenteira que procura bons negócios para seus clientes. Para si, ela procura um homem rico —e fala isso na cara do charmoso Harry.

O par vai a uma série de encontros em restaurantes caríssimos, para os quais ele leva flores igualmente caríssimas. Depois de algumas refeições, eles acabam no apartamento igualmente caríssimo dele. O valor do imóvel faz a casamenteira tremer na base. Harry não parece se importar, por mais que ela insista que ele consegue melhor. Ele a quer pelos “ativos intangíveis”.

Até aí, o filme parece construir um bom terreno sobre o qual se desenvolver. O amor moderno é, como qualquer aspecto da vida, atravessado pelas dinâmicas de troca do capitalismo. Mas o roteiro desanda, com viradas abruptas e pontas soltas esquisitas.

Lucy e Harry não brigam, não conversam. Eles só falam dos atributos um do outro, num esforço descritivo cansativo. Não existe construção de relação.

Harry conhece John porque Lucy o leva numa peça de teatro do ex. Tirando um aperto de mãos longo e truncado, o ricaço não faz menção a tentar entender quem é aquele homem para a namorada.

A virada dramática do filme se dá por meio de um triste revés com uma das clientes de Lucy. Desesperada por apoio, ela recorre ao ex, mesmo já sendo oficialmente namorada de Harry. Ela não tem amigos ou família e pouco se sabe sobre seus interesses. A casamenteira é pintada como o trabalho que faz e nada mais.

Mesmo com a trama embebida em drama, os personagens são ocos e superficiais. John é definido como um ator falido que ainda morre de amores pela ex. Harry é um rico à procura de uma mulher interessante, e as situações verdadeiramente dramáticas ficam reservadas a coadjuvantes.

O filme foi vendido com estardalhaço. Os trailers, que davam a entender que aquilo seria uma comédia romântica de alto orçamento e roteiro grifado, geraram burburinho. Mas “Amores Materialistas” não segura o “hype” que gerou em torno de si mesmo.

O roteiro é indeciso. Não sabe se é romance, se é drama. Atira para todos os lados e erra todos os alvos. As atuações não compensam a falta de estofo das personagens.

Fica a sensação de potencial desperdiçado —a dicotomia entre amor e estabilidade financeira é, apesar da execução fraca, uma boa proposta. Resta torcer para que um diretor ou diretora tenha mais coragem para abordar o tema de novo.

AMORES MATERIALISTAS

– Avaliação Regular

– Onde Nos cinemas

– Elenco Dakota Johnson, Chris Evans, Pedro Pascal

– Produção EUA, 2025

– Direção Celine Song