SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Representantes de setores da economia brasileira potencialmente afetados pela sobretaxa de importação de 50% do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmam que ainda buscam soluções antes de considerar demissões. O início da cobrança da alíquota extra sobre produtos do Brasil está previsto para esta sexta, 1º de agosto.

Empresas da indústria de madeira processada deram férias coletivas e já começaram a demitir, mas isso não ocorre em todos os setores que devem ser atingidos.

A poucos dias da entrada em vigor dessa nova tarifa, dirigentes sindicais de setores econômicos brasileiros que podem ser afetados afirmam que há expectativa de soluções negociadas ou de que a produção possa ser redirecionada a outros mercados. Caso essas alternativas falhem, o governo federal ou os estaduais poderão negociar linhas de crédito ou acelerar a devolução de créditos de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) de exportadores.

Desde o anúncio das alíquotas, a situação da fabricante de aviões Embraer, com sua principal unidade em São José dos Campos (SP), tem sido discutida

Um trabalhador dessa fábrica, que prefere não ser identificado, afirma que, quando Trump anunciou a alíquota de importação, os funcionários ficaram preocupados, mas o clima na empresa foi melhorando com o passar das semanas.

No dia 15 de julho, o presidente da companhia, Francisco Gomes Neto, chegou a dizer que, se a situação não for resolvida, seria preciso “ajustar o quadro [de funcionários] ao nível de produção que teremos lá na frente”, e fez uma comparação com as demissões da época da Covid-19.

No entanto, segundo o funcionário de São José dos Campos, desde então os supervisores reuniram suas equipes e afirmaram que por ora não haverá cortes –segundo ele, nessas reuniões foi dito que não vão nem mesmo diminuir as horas extras que a companhia vem contratando, e isso tem tranquilizado os trabalhadores.

Outro fator é citado como motivo de esperança: segundo ele, a companhia tem muitos acionistas americanos, que talvez possam entrar em campo para amenizar a magnitude do “tarifaço”.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Weller Gonçalves, afirma que a situação não é tão tranquila assim.

O sindicalista diz que a Embraer demitiu bastante gente na época da pandemia, e seria preocupante se isso acontecesse novamente.

Para ele, a produção da companhia –ou seja, aviões– não pode ser enviada para outro mercado com facilidade.

Essa não é a preocupação dos trabalhadores das lavouras de laranja, afirma Carlos César Gonçalves, presidente do sindicato dos trabalhadores rurais de Barretos (SP) e da região. Para ele, há outros mercados que demandam além dos EUA.

Segundo Gonçalves, os armazéns estão cheios, mas isso não deve durar muito depois de uma definição sobre o que vai acontecer a respeito dessas tarifas, algo que ele espera para o dia 1º.

Tales Machado, da empresa Magban, presidente do Sindirochas (Sindicato da Indústria de Rochas Ornamentais), diz que ainda espera uma saída para que o aumento não entre em vigor. Ele conta com a proximidade que têm com o setor de construção nos EUA, uma relação que, segundo ele, foi construída durante muito tempo. As casas americanas usam muitas pedras brasileiras

“A Itália é um dos nossos concorrentes, e a União Europeia fechou (um acordo para que a tarifa para os europeus seja de) 15%. Se a nossa for de 50%, estamos fora.”

Ele disse que no setor já houve algumas demissões, mas isso aconteceu em empresas menores que, sozinhas, não conseguem exportar. No entanto, essas empresas são frequentemente subcontratadas pelas maiores, que fecham contratos grandes e precisam complementar a produção para atender à demanda.

Segundo ele, as entidades que representam o setor estão envolvidas em várias frentes de negociação: além dos parceiros americanos, há conversas com outras entidades de classe brasileira, como a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e o governo federal e do Espírito Santo, onde a indústria se concentra.

“O governo do estado avalia liberar crédito de ICMS de exportação, um valor que fica preso e pode ser liberado agora, e estamos estudando criar uma linha de financiamento em condições mais competitivas, com carência, mais prazo de pagamento”, diz ele.