Da Redação

Os medicamentos de alta complexidade e os produtos médicos estão no topo da lista de importações brasileiras vindas dos Estados Unidos em 2024. Embora esses itens estejam fora do alcance imediato da nova tarifa de 50% anunciada por Donald Trump, o setor de saúde teme que uma resposta do governo brasileiro à medida possa impactar diretamente o acesso a remédios essenciais, especialmente os usados no tratamento de câncer, doenças raras e procedimentos cirúrgicos.

Em 2023, o Brasil gastou cerca de US$ 10 bilhões na importação de materiais e equipamentos médicos — como reagentes, instrumentos cirúrgicos e dispositivos para diagnóstico — sendo os EUA um dos principais fornecedores. E essa tendência continua neste ano. Somente no primeiro semestre, o país importou US$ 4,3 bilhões em medicamentos de alto custo, número 10% superior ao do mesmo período do ano anterior.

Embora a maior parte dos medicamentos de uso comum, como os genéricos, sejam fabricados localmente, a dependência externa ainda é alta em dois pontos críticos: os medicamentos patenteados e os insumos farmacêuticos. Os primeiros vêm principalmente da União Europeia (responsável por 60% das importações), da Alemanha e dos EUA — estes dois últimos respondendo por cerca de 15% cada. Já no caso dos insumos, o Brasil depende quase exclusivamente da China, que fornece cerca de 95% do total usado pela indústria nacional.

Segundo Paulo Fraccaro, CEO da Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (Abimo), uma eventual retaliação brasileira às tarifas americanas pode gerar um aumento imediato de até 30% no custo dos produtos médicos importados. “Se houver reciprocidade, teremos que buscar alternativas como China, Índia e Turquia, mas esses caminhos exigem tempo e ajustes logísticos”, alerta.

Além do impacto nos preços, há o risco de escassez de itens críticos em hospitais e clínicas, especialmente os de tecnologia mais avançada, como terapias biológicas e tratamentos de precisão. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), Norberto Prestes, o momento reforça a urgência de fortalecer a produção nacional. “Temos cientistas qualificados, mas muitos vão embora por falta de incentivo. Precisamos de políticas públicas para reter esses talentos e garantir mais autonomia ao setor”, defende.

Com o cenário internacional cada vez mais instável, especialistas avaliam que o Brasil precisará rever com urgência sua estratégia industrial e de comércio exterior, especialmente em áreas sensíveis como a saúde. Uma guerra tarifária pode não apenas elevar preços, mas comprometer o acesso a tratamentos vitais para milhões de brasileiros.