Da Redação

A presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), Dilma Rousseff, afirmou que a instituição está se preparando para ampliar os empréstimos em moedas como o real e o rand sul-africano. A medida faz parte de um movimento estratégico que visa descentralizar a hegemonia do dólar e fortalecer um sistema financeiro global mais diverso e multipolar.

Criado por iniciativa dos países do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — e sediado em Xangai, o banco tem buscado formas de aumentar o uso de moedas locais nas operações de crédito. Segundo Dilma, o objetivo para 2025 é que cerca de 30% do volume total emprestado — que deve ficar entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões — seja concedido diretamente em moedas nacionais dos países membros.

“Queremos começar a operar mais com real, rand e rúpia, assim como já fazemos com o renminbi, da China”, explicou a ex-presidente em entrevista ao jornal britânico Financial Times. A proposta envolve tanto a emissão de títulos de dívida nessas moedas quanto o uso delas em financiamentos bilaterais entre os países do bloco.

Dilma reforçou que essa agenda está alinhada com a visão de um mundo menos dependente do dólar e menos sujeito às pressões geopolíticas das potências ocidentais. “O foco não é substituir o dólar, mas criar alternativas reais para transações internacionais em um sistema multipolar”, destacou.

Além da inovação cambial, o NDB tem buscado expandir sua presença global. Hoje, a instituição analisa o ingresso de novos membros — aproximadamente 15 países já manifestaram interesse, e ao menos quatro devem ser aprovados em breve. Atualmente, além dos fundadores, o banco conta com Bangladesh, Egito e Emirados Árabes Unidos como sócios, e negocia a adesão do Uruguai.

Desde sua fundação em 2015, o NDB já destinou US$ 33 bilhões a projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável. Um diferencial apontado por Dilma em relação a bancos tradicionais como o FMI e o Banco Mundial é a ausência de exigências políticas. “Não impomos condicionalidades. Respeitamos a soberania de cada país”, declarou.

Apesar das ambições, o banco também enfrenta desafios. Devido às sanções internacionais contra Moscou, as operações com a Rússia — que em 2021 detinha quase 20% do capital do banco — precisaram ser suspensas. A medida evitou retaliações ao NDB, mas também ressaltou os limites que ainda existem para uma atuação plenamente independente.

A agência Fitch Ratings chegou a rebaixar a nota de crédito do banco em 2023, atribuindo a decisão ao risco geopolítico trazido pela presença russa. A nota passou de AA+ para AA, e mesmo após a emissão de um título verde de US$ 1,25 bilhão no ano seguinte, a classificação anterior ainda não foi retomada. A perspectiva, no entanto, foi ajustada para estável em maio de 2024.

Apesar desses obstáculos, Dilma vê um caminho promissor pela frente. “Somos uma instituição jovem, mas com muito potencial. Queremos ser uma alternativa concreta de financiamento para os países em desenvolvimento — feita por eles e para eles”, concluiu.