Da Redação

Um panorama detalhado do comércio exterior escancara uma assimetria econômica já percebida há algum tempo: o Brasil precisa muito mais dos Estados Unidos do que o contrário. Dados da plataforma UN Comtrade, da ONU, mostram que a maior economia do mundo é destino frequente de exportações brasileiras, mas trata o Brasil como um parceiro periférico em sua extensa lista de fornecedores.

Somente em 2024, os EUA foram o principal comprador de 323 produtos brasileiros — quase um terço de toda a pauta exportadora do país. Em valores, isso significou US$ 24 bilhões, o que representa 7% do total vendido pelo Brasil ao exterior. Já na via contrária, o Brasil aparece como principal origem de apenas 28 produtos entre os mais de 1.200 que os EUA importaram. Esses itens somaram US$ 13,8 bilhões, ou ínfimos 0,41% dos US$ 3,3 trilhões gastos pelos americanos com importações no mesmo ano.

Ou seja, embora o Brasil esteja presente na mesa, nos portos e nas fábricas americanas, sua relevância é pontual — e muito mais substituível do que gostaria.

Ainda assim, há setores em que a presença brasileira é dominante e, portanto, mais estratégica para os EUA. Um exemplo claro é o de produtos semimanufaturados de ferro e aço: o Brasil respondeu por impressionantes 76% dessas importações americanas em 2024, somando US$ 1,8 bilhão. O México, segundo colocado, ficou com apenas 12,5%.

A indústria de papel e celulose também revela uma posição forte. Só com pastas químicas de madeira, o Brasil respondeu por 42,4% das compras dos EUA (US$ 1,6 bilhão). No setor de minério de ferro, o Brasil lidera com 54,6% do total importado (US$ 455 milhões).

Na área de alimentos e bebidas, os dados apontam uma influência notável. O Brasil é o principal fornecedor de café para os Estados Unidos, especialmente do tipo cru e não descafeinado, que sozinho gerou US$ 1,9 bilhão — cerca de 22% de toda a demanda americana por café.

Outro destaque é a exportação de sucos: o Brasil enviou US$ 1,2 bilhão em sucos de frutas, sendo o suco de laranja não congelado (US$ 938 milhões) e congelado (US$ 741 milhões) os grandes protagonistas. Esses números representam 30% do mercado americano nesse segmento.

O Brasil também lidera as vendas aos EUA de tabaco não manufaturado (33% do total), sebo bovino (36,4%) e açúcar de cana ou beterraba (28,9%).

Apesar dessas participações expressivas em alguns setores, a balança segue desequilibrada. A dependência brasileira dos EUA como parceiro comercial é muito maior do que o inverso — e isso deixa o país vulnerável a mudanças de política externa e barreiras tarifárias impostas por Washington, como a tarifa de 50% aplicada por Donald Trump sobre o aço brasileiro em sua gestão.

O cenário expõe não apenas a necessidade de diversificação dos mercados de exportação, mas também de fortalecimento da presença brasileira em cadeias globais mais estratégicas. Hoje, mesmo onde brilha, o Brasil ainda é uma peça secundária no tabuleiro econômico americano.