SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Começa o morde e assopra de Donald Trump em relação às tarifas contra o Brasil, aço a preço de banana e outros destaques do mercado nesta quarta-feira (30).

**TARIFAÇO (QUASE) TOTAL**

Desde o início, o tarifaço imposto por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, tem sido um jogo de morde e assopra: aumenta uma taxa aqui, diminui outra ali e assim caminha.

No caso do Brasil, será diferente? O elemento político da decisão de tarifar as exportações do país em 50% deixa o questionamento aberto —pelo menos até o dia 1º de agosto, quando a determinação entra em vigor.

Mas… rachaduras começam a aparecer no discurso aparentemente impenetrável do líder republicano.

O secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou ontem que produtos que não são produzidos internamente pelos Estados Unidos podem receber uma tarifa zero.

Ele mencionou manga, café, abacaxi e cacau como exemplos.

Segundo analistas do agronegócio, o USTR (Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos) elaborou uma lista de produtos que o país não consegue produzir localmente e pesam na alimentação americana.

Na tal lista, figuram —além dos itens já mencionados— mais frutas tropicais, frutos do mar, suco e óleo de palma.

As negociações seriam feitas com tarifas diversificadas em relação ao limite imposto ao país —as mudanças podem envolver isenção, cotas e reduções na alíquota.

MUITA CALMA NESSA HORA

A eventual isenção tarifária para os produtos mencionados por Lutnick não seria automática. Ela depende das negociações bilaterais e o que cada país colocará na mesa.

O governo brasileiro se queixa de dificuldades para falar sobre a taxa com os americanos. Contudo, a Casa Branca acha que o Planalto não está fazendo esforço o suficiente para reverter os encargos.

Enquanto isso… acordos que foram fechados parecem não estar tão bem definidos assim. As autoridades dos EUA e da União Europeia continuam discutindo as tarifas do aço e do alumínio, além das regulamentações de serviços digitais.

No caso da China, os americanos ainda mantêm negociações separadas do resto sobre a prorrogação da trégua tarifária entre os dois países.

**AÇO PARA DAR E VENDER**

Preços baixos, estoques cheios e produto disponível para todos que quiserem comprar. Parece o cenário dos sonhos para uma indústria, não? Na verdade, esses podem ser indicativos que ela está diante de um problemão.

A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) estima que o excesso de produção de aço alcançará 721 milhões de toneladas até 2027. Até lá, as siderúrgicas podem ver as vendas caírem e o preço do produto despencar —levando-as à beira da falência.

A PERGUNTA DO MILHÃO

Não é só parar de fabricar aço? Em tese, sim. Mas quem vai querer ser aquele que abandona a produção de um material considerado essencial para a segurança econômica e nacional de qualquer país?

A fabricação de aço é vista globalmente como símbolo de poder econômico e prestígio. Afinal, o material é usado na construção de edifícios, estradas, carros, eletrodomésticos, eletrônicos, até talheres e parafusos —além de tanques, armamentos e caças.

PIORA

Na última década, a China inundou o mundo com aço a preços baixos e transformou o mercado global. O país tem milhares de usinas e produz mais aço e alumínio do que o todo o resto do mundo somado.

A economia chinesa desacelerou e o país passou a exportar mais metal a preço de banana. O resultado é a queda dos preços e, consequentemente, dos lucros —acarretando demissões, usinas fechadas e tudo mais.

O quilo do aço custa menos do que uma garrafa de água no país.

E O TARIFAÇO COM ISSO?

Tudo a ver. As tarifas que Trump impôs dificultam a exportação do aço produzido na Europa, na China e em outros países para os EUA. Sem comprar de fora, a solução é fabricar dentro. Isto é, para sobreviver, as siderúrgicas americanas vão produzir ainda mais metal, em nome de suprir a demanda interna.

**OBRA-PRIMA**

Alguns entusiastas do mercado financeiro consideram o IPO, a abertura do capital de uma empresa na bolsa de valores, um momento de coroação do sucesso dela. A partir de então, todo mundo que acredita no potencial dela pode ter um pedacinho para si.

Mas nem tudo são flores. É um processo caro, que exige um aumento do trabalho de registro e transparência, além de deixar a empresa mais vulnerável às flutuações da economia. A Figma, prodígio do design, decidiu pagar para ver se vale a pena.

QUEM?

A Figma é uma startup que criou uma ferramenta de design colaborativo —funciona mais ou menos como o Google Docs, para quem conhece. Nela, diferentes usuários podem alterar um arquivo ao mesmo tempo.

O programa foi criado em 2012, mas o sucesso veio durante a pandemia, quando designers, desenvolvedores, publicitários e o pessoal do marketing tiveram que trabalhar juntos, mas à distância.

No primeiro trimestre do ano, a plataforma registrou uma receita de US$ 228,2 milhões (R$ 1 bilhão) e triplicou o lucro líquido, levando-o a US$ 44,9 milhões (R$ 250 milhões).

O AGUARDADO

A promessa de um IPO da Figma é antiga e será concretizada hoje, quando a companhia abre seu capital na NYSE (Bolsa de Valores de Nova York). Apesar da guerra comercial, os investidores avaliam que é um bom momento para tal —as bolsas vivem um rali com o alívio de acordos entre os EUA e Japão e UE.

A startup pretende levantar US$ 1,18 bilhão (R$ 6,6 bilhões) com a venda de quase 37 milhões de ações com preços entre US$ 30 (R$ 167) e US$ 32 (R$ 178) cada.

A ideia é que a empresa termine a operação avaliada em US$ 18,8 bilhões (R$ 104,5 bilhões).

SEGUNDO ROUND

O IPO ajuda a Figma a superar um trauma de 2023, quando recebeu uma oferta para ser comprado pela Adobe, sua principal concorrente, por US$ 20 bilhões (R$ 111,6 bilhões) —mas a criadora do Photoshop caiu fora ao enfrentar ações antitruste na Europa e no Reino Unido.

Mais IPOs estão acontecendo nas bolsas americanas, o que pode ser um sinal de que os investidores começam a se sentir confortáveis com a incerteza tarifária global.

**TEMPO DE MAGREZA**

O que acontece quando uma indústria que recebia estímulos sem fim deixa de ganhar dinheiro? Emagrece?

As ações da Novo Nordisk despencaram mais de um quinto ontem, o que fez com que a companhia perdesse mais de 60 milhões de euros (R$ 386 milhões) em valor de mercado. Vamos entender o que aconteceu.

No final do pregão, o recuo dos papéis da empresa foi de 23%.

QUEM?

A Novo Nordisk é uma farmacêutica dinamarquesa, responsável pelo Ozempic e o Wegovy, medicamentos que bombaram nos últimos anos —depois que o mundo descobriu a capacidade deles de induzir a perda de peso.

A popularidade foi tanta que mudou a Dinamarca: melhorou o PIB (Produto Interno Bruto) e aumentou a densidade populacional e a urbanização nos arredores da fábrica dos medicamentos.

BRIGA DE CACHORRO GRANDE

A queda se deve à redução das previsões de vendas e lucros para este ano. Quando o Ozempic começou a ser usado para o tratamento da obesidade, não tinha ninguém no quintal da Novo Nordisk, cenário que mudou com o sucesso do medicamento.

Agora, as projeções refletem o aumento da concorrência no mercado, tanto da rival americana Eli Lilly, fabricante do similar Mounjaro e do Zepbound, quanto de versões “manipuladas” disponíveis no mercado dos Estados Unidos.

O crescimento de vendas anuais da dinamarquesa deve ficar entre 8 e 14%, muito abaixo da estimativa de maio, que era de 13 a 21%.

A empresa também reduziu sua previsão de crescimento de lucro para o ano, de 16 a 24% para 10 a 16%.

O APERTO

Os problemas da Novo com os genéricos produzidos nos Estados Unidos começaram em 2022, quando o Wegovy e o Ozempic sumiram das prateleiras das farmácias. O FDA (Administradora de Alimentos e Remédios) do país respondeu permitindo que outras empresas fabricassem versões desses medicamentos.

O órgão encerrou a permissão neste ano, mas a missão de interromper a circulação desses genéricos está se provando quase impossível —chegou a hora de admitir que, talvez, os impactos dos genéricos no lucro da farmacêutica seja permanente.

OBS.: A patente do Ozempic cai em 2026. Isso significa que não somente os EUA, mas todo o mundo, produzirão versões genéricas do remédio. A vida da Novo Nordisk está prestes a se complicar mais.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

Morando de favor. A inadimplência no aluguel atingiu o maior patamar em um ano no Brasil, segundo um levantamento da Superlógica.

Jogando Verde. A gestora Vinci Compass estuda a compra da Verde Asset Management, de Luis Stuhlberger.

Sem freio. A iFood comprou uma participação de 20% na empresa brasileira de tecnologia CRMBonus.

Voando baixo. A Boeing divulgou um prejuízo de US$ 697 milhões no segundo trimestre. O período foi marcado pela queda de um dos modelos da empresa operado pela Air India, que matou mais de 200 pessoas.