SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao menos 12 mulheres, frequentadoras de casas de forró em São Paulo, denunciam casos semelhantes de divulgação de imagens íntimas sem consentimento em grupos de mensagem no Telegram. Os relatos foram apresentados para a bancada do PSOL na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), que reuniu e levou os casos para o MPF (Ministério Público Federal).

O caso foi noticiado pelo G1 e confirmado pela Folha. A maioria dos casos teriam acontecido na capital paulista, mas há indícios de ocorrências em Cotia, região metropolitana, no Rio de Janeiro e na Itália.

Em nota, o MPF afirma que investiga o caso por meio de um procedimento que tramita em sigilo e já requisitou à Polícia Federal a instauração de um inquérito. A PF afirma que não vai confirmar nem se manifestar sobre eventuais investigações em andamento.

Os relatos já circulavam nas redes sociais desde fevereiro. Em meio às denúncias, ativistas filiadas ao PSOL e frequentadoras das casas de forró buscaram a bancada feminista para lidar com os casos. Em nota, o partido diz que há indícios de que essa rede criminosa atua há anos e, possivelmente, de forma coordenada internacionalmente.

“Foram recebidas 12 denúncias, que relatam que os grupos atuam como verdadeiras redes de predação sexual, violando a privacidade e a dignidade das mulheres. Práticas como o registro sem autorização de vídeos e fotos íntimas, que são posteriormente compartilhados e vendidos”, diz o partido.

As vítimas descrevem que conheceram os homens em diferentes casas e tiveram relações sexuais depois, em outros lugares. As relações foram gravadas, e as imagens, divulgadas nos grupos sem consentimento.

Uma delas afirma que soube da prática por meio de um homem que trabalhava em uma dessas casas, foi incluído no grupo e decidiu alertá-la sobre o conteúdo. Em outro caso, uma mulher diz ter visto o próprio vídeo circulando em grupos, e uma terceira notou o parceiro a fotografando durante a relação.

De acordo com a codeputada Simone Nascimento, foram descobertos dois grupos no Telegram, que existem há cerca de cinco e oito anos, respectivamente. A reportagem procurou o aplicativo, que não respondeu até a publicação deste texto.

Em ambos, é descrito que, para participar, o integrante é obrigado a enviar conteúdo adulto e informar, perfil, telefone, endereço e detalhes pessoais. Também são exigidas informações sobre as vítimas, como fragilidades, se possuem filhas, como foi a transa e quais lugares “a presa frequenta”.

“A descrição do grupo do Telegram revelava os lugares que eles atuavam. Isso é importante porque eles mostram um esquema operado, planejado e pensado”, diz Simone.

A codeputada ainda afirma que a investigação aponta que pessoas pagam para estar nesses grupos e que os participantes viram “em frequentadoras de forró um ponto de vulnerabilidade”. “Não se trata do forró, mas de pessoas que pensam e refletem sobre como praticar esse assédio”, diz.

Ela afirma que, além das 12 denúncias encaminhadas à Promotoria, a bancada já recebeu outras sete e que deve continuar contribuindo com a Justiça. Diante das denúncias, a bancada afirma também está desenvolvendo uma rede de apoio psicológico e jurídico às mulheres afetadas, além do estabelecimento de canais seguros de escuta e denúncia.

Ao menos oito casas de forró são citadas no print do grupo. A reportagem tentou contato com todas, mas apenas o Baile dos Ratos respondeu, afirmando que há nove anos a missão é fomentar a cultura do forró, sempre prezando por um ambiente “acolhedor, de boa música, energia e, acima de tudo, respeitoso”.

“Reafirmamos nosso repúdio a qualquer forma de assédio, abuso ou desrespeito. Não compartilhamos com esse tipo de atitude e, junto à casa Coringa, onde realizamos nossa festa às quartas-feiras, seguimos comprometidos em manter um ambiente seguro para todas as pessoas”, diz.