Da Redação

Deputada federal foi condenada pelo STF a 10 anos de prisão e estava foragida desde maio; governo brasileiro acompanha processo de extradição junto à Justiça italiana

ROMA – A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi presa nesta terça-feira (29) em um apartamento na cidade de Roma, na Itália. A detenção foi confirmada pelo Ministério da Justiça do Brasil e ocorre após Zambelli ter sido considerada foragida desde maio, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) a condenou a 10 anos de prisão por crimes relacionados à invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e por falsidade ideológica.

A prisão aconteceu com base em informações repassadas às autoridades italianas pelo deputado e ambientalista italiano Angelo Bonelli, que afirmou em sua conta oficial na rede X (antigo Twitter) ter comunicado o paradeiro da brasileira à polícia. Segundo Bonelli, Zambelli estava hospedada em um apartamento na capital italiana.

“Forneci o endereço à polícia. Neste momento, ela está sendo identificada pelas autoridades”, publicou o parlamentar.

Zambelli possui cidadania italiana, o que pode influenciar nos trâmites legais da extradição. Mesmo assim, o governo brasileiro já havia solicitado oficialmente, há semanas, a extradição da parlamentar. O Ministério da Justiça informou que acompanha de perto o desenrolar do processo junto à Interpol e às autoridades italianas.

Condenação e fuga

Em maio deste ano, a deputada foi condenada pelo STF a dez anos de reclusão em regime inicial fechado. A decisão levou em consideração sua participação em crimes cibernéticos, incluindo a invasão do sistema eletrônico do CNJ para a inserção fraudulenta de um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes.

A sentença determinou também a perda de seu mandato parlamentar e a suspensão de seus direitos políticos por oito anos. Pouco depois da condenação, Zambelli deixou o Brasil e passou a ser considerada foragida da Justiça.

A Polícia Federal solicitou à Interpol a inclusão do nome de Zambelli na lista vermelha de procurados internacionais, o que foi atendido. A parlamentar chegou a circular entre os Estados Unidos e a Itália, onde acabou localizada.

Defesa diz que houve entrega voluntária

Em nota, o advogado da deputada, Fábio Pagnozzi, afirmou que sua cliente se apresentou voluntariamente às autoridades italianas após tomar ciência do processo de extradição.

“Ela não estava escondida. Não foi capturada. Se apresentou, como forma de demonstrar boa-fé e disposição em colaborar com os trâmites legais”, afirmou.

Já o líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (RJ), reforçou que Zambelli pretende pedir asilo político à Itália, alegando perseguição ideológica no Brasil. A defesa estuda, inclusive, acionar cortes internacionais de direitos humanos.

Em vídeo publicado nas redes sociais antes da prisão, Zambelli disse confiar no sistema judiciário italiano:

“Se eu tiver que cumprir qualquer pena, vai ser aqui na Itália, que é um país justo e democrático. Estou segura de que as autoridades italianas vão perceber que eu sou inocente”, afirmou.

Extradição em andamento

Agora, a Justiça italiana terá até 48 horas para decidir se mantém Zambelli presa ou a coloca em prisão domiciliar enquanto avalia o pedido de extradição feito pelo governo brasileiro. O processo pode levar semanas, ou até meses, dependendo da tramitação jurídica e de eventuais recursos apresentados pela defesa.

Apesar da cidadania italiana, especialistas afirmam que o caso pode resultar em extradição, já que os crimes atribuídos à deputada não têm natureza política — fator que geralmente impede a entrega de cidadãos entre países.

“A Itália pode sim extraditar seus próprios cidadãos, desde que os crimes não sejam considerados políticos. No caso de Zambelli, trata-se de crimes cibernéticos e falsidade ideológica, o que torna a extradição possível”, explica o advogado e especialista em direito internacional, Pedro Rangel.

Consequências no Brasil

Com a prisão e a confirmação da sentença no STF, o processo de cassação definitiva do mandato de Zambelli deve seguir na Câmara dos Deputados. A Constituição Federal prevê perda automática de mandato em casos de condenação criminal transitada em julgado.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ainda não se manifestou sobre o caso, mas parlamentares da oposição e até da base aliada do governo já se mobilizam para acelerar o trâmite no Conselho de Ética.