SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em queda nesta terça-feira (29), com investidores acompanhando as tentativas de negociação comercial do Brasil com os Estados Unidos no âmbito das tarifas de importação.

O mercado também aguarda as decisões de juros do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) e do Fed (Federal Reserve, a autoridade norte-americana). Os encontros começam nesta terça e as deliberações serão anunciadas na quarta.

Às 14h19, o dólar caía 0,47%, cotado a R$ 5,565 na venda. Já a Bolsa subia 0,88%, a 133.294 pontos.

A pauta comercial segue sendo a tônica dos mercados —e não deve deixar de ser tão cedo.

O prazo para negociar as tarifas de importação impostas pelo governo Donald Trump se encerrará na sexta-feira, 1º de agosto. Enquanto algumas economias, como Japão e União Europeia, conseguiram desenhar acordos com os norte-americanos, outras, como o Brasil, têm enfrentado dificuldades para sentar à mesa com os norte-americanos.

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta contato com os Estados Unidos desde 9 de julho, quando Trump publicou uma carta na rede social Truth Social anunciando as sobretaxas de 50% a produtos brasileiros, mas os Estados Unidos parecem pouco dispostos a negociar.

Em falas a jornalistas nesta terça, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou que o vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, esteve em uma longa conversa na véspera com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick.

“Alckmin tem feito um esforço monumental de conversar com sua contraparte”, disse Haddad. O governo, segundo ele, não está “fixado” no prazo de 1º de agosto, porque pode “inibir que a conversa transcorra com mais liberdade e sinceridade entre os dois países”.

A assessoria do Ministério do Desenvolvimento afirmou à Folha de S.Paulo que o foco está na reversão total das tarifas. Mas, segundo ministros envolvidos com a negociação e integrantes da equipe de Alckmin, o governo Lula estuda negociar tarifas para setores específicos.

O Brasil é hoje, por exemplo, o maior produtor e exportador de suco de laranja do planeta, vendendo 95% de sua produção para o exterior. Desse volume, 42% tem os Estados Unidos como destino. O país também é o principal fornecedor de café ao mercado norte-americano. Entre janeiro e maio de 2025, os EUA compraram 2,87 milhões de sacas, o equivalente a 17,1% de todo o volume exportado pelo Brasil, conforme dados do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil).

Além de buscar junto à gestão Trump o adiamento do anúncio, haveria ainda um pedido de exclusão das aeronaves fabricadas pela empresa Embraer, que tem o mercado norte-americano como principal comprador para a aviação regional. Um dos argumentos em favor da medida seria o de que a fabricante brasileira importa peças dos EUA.

A falta de uma resposta concreta dos EUA também está levando o governo a avaliar cenários possíveis de reação. Um plano de contingência está sendo analisado “com muita tranquilidade” pelo presidente Lula, segundo Haddad, mas o foco do Brasil seguirá sendo a via diplomática.

Nesta semana, o chanceler Mauro Vieira foi aos Estados Unidos para uma conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) em Nova York. Mas até o momento não houve sinalizações positivas para um encontro com membros do governo Trump. Se não houver perspectiva de um encontro, o ministro não deve viajar a Washington.

Auxiliares do presidente Lula ressaltam que não haverá concessão na parte política ligada ao tarifaço, que inclui a questão jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ou qualquer outra decisão do Judiciário.

Em nota, o governo brasileiro reforçou que a soberania do Brasil é inegociável nas conversas sobre as tarifas impostas pelos americanos.

O mercado vê as movimentações com uma dose de ceticismo. Para os operadores, as chances de suspensão das sobretaxas ou de adiamento do prazo são baixas, e as decisões de investimento estão sendo marcadas por cautela.

“Ainda estamos patinando para tentar fazer um negócio com o governo dos EUA. Mercado está colocando expectativa sobre o plano de contingência do governo e como pode afetar a questão fiscal do país”, disse Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

A imposição das sobretaxas ao Brasil poderá levar a uma desaceleração do PIB (Produto Interno Bruto) mais acentuada do que o previsto, segundo uma avaliação preliminar do FMI (Fundo Monetário Internacional).

Algumas tarifas —por exemplo, as que incidem sobre produtos de aço e alumínio— já estão afetando a economia brasileira e foram levadas em conta na última previsão do Fundo, disse Petya Koeva-Brooks, vice-diretora do Departamento de Pesquisa do FMI.

“Agora, quando se trata da questão mais ampla do impacto de outras tarifas que foram apresentadas, nossa avaliação preliminar é que isso levaria a uma desaceleração mais acentuada na atividade do que a que estamos projetando atualmente”, disse Koeva-Brooks.

O FMI prevê que a economia brasileira crescerá 2,3% em 2025, ante uma expansão de 3,4% no ano passado, desacelerando a 2,1% em 2026.

Fora da pauta comercial, investidores ainda se posicionam para as decisões de política monetária do BC e do Fed. A expectativa é de que ambos mantenham suas taxas de juros estáveis.