SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O bailarino mineiro Décio Otero, fundador do Ballet Stagium e criador de mais de 100 coreografias, morreu aos 92 anos nesta segunda-feira (28), em São Paulo. A informação foi confirmada pela companhia de dança pelas redes sociais.

“Sua presença iluminou nossas vidas e seu amor permanecerá em nossos corações para sempre. Que possamos encontrar conforto nas memórias que compartilhamos e na certeza de que seu legado mais de 80 ‘Obras Primas’ e sua beleza viverá em cada um de nós”, publicou o Stagium.

Além de dançarino, Otero foi professor, diretor e autor de dois livros. Ele fundou o Stagium junto de Marika Gidali e esteve ativo no mundo da dança por mais de sete décadas.

Integrou o corpo de baile de inúmeras instituições, tanto brasileiras quanto internacionais –o Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde tornou-se solista em 1957; o Ballet do Rio de Janeiro (1959); em 1964 no Ballet du Grand Théâtre de Genebra, na Suíça; o Balé da Ópera de Colônia, na Alemanha (1966); o Balé da Ópera de Frankfurt (1967), também na Alemanha, onde foi primeiro-bailarino.

O artista também participou do filme musical “King”, exibido em Copenhague. Ele havia dançado obras do dinamarquês Harald Lander em Colônia, e foi convidado para protagonizar o longa.

Quando voltou para Minas Gerais, em 1970, trabalhou junto da bailarina húngara Marika Gidali no programa “Convite à Dança”, da TV Cultura, dedicado a expor as diversas vertentes da modalidade artística.

Otero casou-se com Gidali, que viria a se tornar sua companheira de arte e vida, e inaugurou o Ballet Stagium em 1971. A companhia consolidou a dança como ato político além de estético: apresentava-se em presídios e lares para menores infratores, e tinha projetos sociais voltados para crianças em situação de vulnerabilidade. Em 1988, ofereceram aulas de danças –desde o balé clássico ao jazz e street dance– para residentes das Casas de Convivência da Febem (renomeada para Fundação CASA) e levou-os para se apresentarem no Xingu, em Carajás e em Nicarágua.

As montagens do Ballet Stagium, fundado em plena ditadura militar, frequentemente tinham forte carga social e política. “Pantanal”, coreografada por Otero em 1986, trazia a questão ecológica; já “Kuarup ou A Questão do Índio” (1977) usava musicais originais, colhidas na região do Alto e Baixo Xingu, para reivindicar a liberdade dos povos indígenas.

O Stagium é a companhia privada de dança mais antiga do Brasil. Outros espetáculos de destaque incluem “Coisas do Brasil” (1979), um dos mais explícitos da fase de crítica social, “Batucada” (1980), união das linguagens das danças populares e clássicas, “Tangamente” (1996), incursão pela latinidade, e “Adoniran” (2010), da fase de coreografias com grandes nomes da MPB.

O artista publicou dois livros. “Stagium: As Paixões da Dança”, de 1999, trata da trajetória da companhia e foi publicado pela Editora Hucitec. Em 2001 escreveu sobre sua companheira em “Marika Gidali – Singular e Plural”, da Editora Senac, abordando a vida e obra da artista.

Otero nasceu em Ubá, no sudeste de Minas Gerais, em 15 de julho de 1933. Ele iniciou seus estudos em dança aos 17 anos no Ballet de Minas Gerais, em Belo Horizonte.

Durante sua trajetória recebeu vários prêmios, como o Prêmio Governador do Estado de São Paulo, em 1961 e prêmios da Associação Paulista de Críticos da Arte (APCA) –dois em 1974, em 1977 e em 1979. Mais recentemente, recebeu a distinção Ordem do Mérito Cultural (OMC), em 2005.