SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Recuperar áreas degradadas e ampliar o uso de tecnologia para mitigar os efeitos das mudanças climáticas são passos importantes para a expansão da produção sustentável de alimentos no Brasil. Por outro lado, ainda há entraves para que pequenos e médios produtores tenham acesso a crédito e assistência técnica.

Este cenário foi tema de discussão entre os painelistas da primeira de duas mesas do seminário Agroindústria Sustentável, organizado pela Folha de S.Paulo nesta quarta-feira (23), com apoio do Banco do Nordeste.

Participaram da mesa Paulo Teixeira (ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar), Paulo Pianez (diretor de sustentabilidade da BRF e Marfrig), Edna Maria Morais Oliveira (chefe-geral da Embrapa Agroindústria de Alimentos) e Luiz Demattê, diretor de Produção e Indústria do Grupo Korin.

O debate foi mediado por Bruno Blecher, jornalista especializado em agronegócio e sustentabilidade.

O ministro Paulo Teixeira apontou a recuperação de áreas degradadas como um dos principais desafios do país para avançar na produção mundial de alimentos. “Essas áreas poderão ser recuperadas para a captura de carbono e vão poder se tornar florestas produtivas.”

No último ano, o desmatamento foi responsável pela degradação de mais de 1,2 milhão de hectares, segundo o MapBiomas.

Para o ministro, é preciso expandir o acesso à mecanização e à tecnologia pela agricultura familiar, responsável por 23% do valor da produção agropecuária brasileira, segundo o Censo Agro 2017, do IBGE. Estufas para cultivo de alimentos e uso de drones para pulverização da produção foram exemplos de inovações citados por ele e que ajudam agricultores a driblar os efeitos do clima.

Empresas do setor agrícola têm visto oportunidades de crescimento com base em modelos sustentáveis.

“Cada vez mais é possível que iniciativas como a Korin ganhem escala. Ainda tem muito déficit de pesquisa e desenvolvimento, mas hoje é muito mais fácil do que era no passado”, afirmou Luiz Demattê, diretor de Produção e Indústria do Grupo Korin.

A filosofia da empresa é baseada na agricultura natural, sistema que busca o equilíbrio entre saúde humana, preservação do ambiente e bem-estar dos produtores rurais.

Para Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade da BRF e Marfrig, é possível conciliar a produção agropecuária com conservação e baixa emissão de carbono.

“Conjugando a produção de gado de corte com manejo de pasto adequado e lavoura, você tem um balanço que permite classificar essa produção como de baixo carbono”, disse.

No Brasil, cerca de 75% das emissões de gases de efeito estufa são decorrentes da agricultura e de mudanças no uso do solo.

Segundo Pianez (BRF e Marfrig), tecnologias genéticas já possibilitam encurtar o tempo de engorda dos animais para o abate, reduzindo a quantidade de emissões. Outra solução sustentável é a utilização de dejetos suínos como insumo de biometano para geração de gás e energia.

Apesar das soluções existentes, o executivo afirmou que ainda há gargalos para que os pequenos produtores consigam crédito rural e expandam seus negócios de forma sustentável. “Sem acesso a esse crédito, é muito difícil de viabilizar a transição que ele tem que fazer lá na ponta.”

Em contrapartida, o ministro Paulo Teixeira destacou as taxas de juros do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), que variam de 0,5% a 5% ao ano.

Segundo ele, o país enfrenta um déficit na assistência técnica para orientar os produtores —cenário resultante do desmonte da Embrater (Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural), em 1989.

“Estamos hoje pensando em como ter um fundo nacional e um sistema único que possa organizar esse arranjo de assistência técnica para esse agricultor ter mais tecnologia e agregar valor na indústria.”

A desarticulação no sistema de assistência técnica fez a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) ampliar as parcerias para levar soluções tecnológicas aos produtores.

“Algumas instituições estaduais de assistência técnica sobreviveram e continuam atuando muito bem, então procuramos estabelecer parcerias com universidades, escolas técnicas e institutos federais de educação no Brasil inteiro”, explicou Edna Maria Morais Oliveira, chefe-geral da Embrapa Agroindústria de Alimentos.

Dentre as capacitações promovidas pela empresa, destacam-se os treinamentos para redução de perdas da produção, o que diminui desperdícios e amplia a geração de valor no campo.

“Temos um papel estratégico para que essas pequenas agroindústrias aproveitem integralmente produtos que não estão no padrão comercial e agreguem valor com a produção, por exemplo, de farinhas, geleias, polpas de frutas e snacks”, afirmou.