RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – A Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM) destinou mais de R$ 500 mil em premiação a dirigentes como “incentivo para que contribuam para o desempenho global da CBTM, no que diz respeito às suas metas financeiras anuais”, segundo consta no balanço de 2024.
O bônus vai para presidente, vice-presidente, secretário geral, CEO, assessor especial e diretor esportivo.
Recentemente, a entidade foi alvo de denúncias de mesa-tenistas medalhistas em Jogos Paralímpicos e Mundial. Em documento enviado ao Ministério do Esporte, constava que a CBTM exigia de beneficiários do Bolsa Pódio o investimento de parte do recurso para participação em competições internacionais.
Em carta publicada após matéria do UOL, a confederação citou que “não tem recursos suficientes para custear todos os planos esportivos”.
O que diz o balanço
O tópico “contas a pagar” indica R$ 531.435 em “prêmio a pagar”, com a seguinte explicação: “no exercício de 2024, foi deliberado o valor de R$ 531.435, referente prêmios a pagar aos seus diretores, devido ao alcance das metas definidas no regimento interno”.
Houve ainda a ressalva que “no exercício de 2024, foram adiantados R$ 420 mil. Este montante faz parte do saldo de ‘Outros créditos’ no ativo circulante. Em janeiro de 2025, a CBTM quitou a diferença”.
Ao UOL, a CBTM disse que “o prêmio por performance apresenta-se como um incentivo financeiro para que os dirigentes da entidade tragam novas fontes de arrecadação, mantenham e ampliem as atuais, garantindo a sustentabilidade da entidade, caso ocorrências dificultem o recebimento das verbas consideradas de natureza pública”.
A reportagem questionou como foi determinado o valor para o prêmio e como foram definidas as metas financeiras (veja a íntegra da resposta abaixo). A CBTM não deixou claro quais são as metas.
Segundo o regimento interno, a “avaliação Institucional quanto às metas financeiras da entidade” é um “processo que avalia o alcance das metas financeiras, a partir de uma visão global sobre a entidade, considerando as metas e prioridades institucionais. Mede-se, portanto, o valor acumulado, anualmente, em caixa, no que diz respeito aos recursos de natureza privada, assim entendidos aqueles que são oriundos de patrocínio, anuidades, eventos, direitos de transmissão e outros, excluídos, portanto, os recursos das Loterias Federais e outras verbas consideradas públicas”.
O documento aponta que a divisão do pagamento é da seguinte forma: 7% do valor em caixa para o presidente; 3% para vice-presidente; 2% ao secretário geral; 2% ao CEO, 2% ao assessor especial e outros 2% ao diretor esportivo.
O atual assessor especial da CBTM é Alaor Azevedo, que foi presidente ininterruptamente de 1995 a 2024. Em 2025, Vilmar Schindler tomou posse como presidente, e Alaor passou a ocupar o novo cargo.
A Comissão de Atletas da CBTM disse ter tomado ciência da premiação após o UOL pedir um posicionamento. Os integrantes tomaram posse em junho de 2025, e o grupo “está iniciando suas atividades”.
“A comissão espera entender em detalhes a formação do orçamento da CBTM e os critérios de uso dos recursos nas reuniões que já solicitamos para este ano”. A resposta da confederação à comissão foi a mesma enviada à reportagem.
A CBTM integra o CEPIM (Cadastro de Entidades Privadas Sem Fins Lucrativos Impedidas). Advogados consultados indicam que a jurisprudência do STJ (Superior Tribunal de Justiça) diz que o pagamento de qualquer quantia, seja “prêmio” ou “gratificação”, a dirigentes fere diretamente a finalidade não lucrativa da entidade, caracterizando distribuição disfarçada de resultados e de salários.
CBTM recuou após alegar falta de recursos
A CBTM recuou em algumas exigências feitas quanto ao Bolsa Pódio após um ofício do Ministério do Esporte apontar que algumas práticas da entidade estavam fora das normas determinadas.
O movimento aconteceu após um grupo de nove mesa-tenistas endereçar um documento ao ministério com protestos em relação à confederação e um pedido de “intervenção imediata” para garantir que “o processo da Bolsa Pódio respeite os princípios da legalidade”.
Segundo os atletas, a CBTM solicitou um percentual mínimo de investimento por parte dos bolsistas. Essa fatia era estabelecida pela própria confederação, dependendo do valor da bolsa à qual o atleta tem direito. Mensagens às quais o UOL teve acesso mostram indicações que variavam em 60%, 50%, 40% e 30%, além de um escopo de como a discriminação das competições deveria ser feita.
Os atletas ouvidos à época reclamaram da falta de transparência sobre os critérios usados pela CBTM. Ainda segundo relatos, a entidade apresentava um contrato para o uso do centro de treinamento do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e uma das cláusulas determinava que não se podia “falar mal publicamente da confederação”.
Após a publicação da matéria, a confederação publicou uma nota em seu site oficial. Ela admite que pediu aos atletas o investimento de dinheiro próprio e, posteriormente, citou não ter “recursos suficientes para custear todos os planos esportivos”.
“A CBTM propôs, sim, que os atletas paralímpicos brasileiros com resultados esportivos estratégicos direcionassem recursos próprios para seus planos esportivos e para suas próprias evoluções no ranking profissional (e cabe aqui um mea culpa: a confederação reconhece que o pedido pode ter sido mal interpretado, mas seu intuito foi puramente educativo)
(…)
Porém, convidamos a todos, em conjunto, à seguinte reflexão: se cumprirmos o mínimo, provavelmente não atingiremos o máximo, que, em outras palavras, é a tão sonhada medalha de ouro paralímpica nos Jogos Paralímpicos de Los Angeles, em 2028. Pelo simples fato que a CBTM, sozinha, não tem recursos suficientes para custear todos os planos esportivos para que todos os mais de 20 atletas paralímpicos brasileiros de ponta se mantenham entre os primeiros colocados do ranking mundial e cheguem a 2028 em condições propícias para brigar por medalhas”
O que diz a CBTM sobre a premiação
“O Prêmio por Performance é um incentivo para que os principais gestores contribuam para o desempenho global da CBTM, no que diz respeito às suas metas financeiras anuais.
Mensalmente, na reunião do Comitê Executivo, os resultados de cada medição do fluxo de caixa e custos com recursos humanos deverão ser apresentados, com encaminhamento para ações específicas que ajudem a aumentar a arrecadação dos recursos de natureza privada da entidade ou equalizar gastos excessivos com mão-de-obra.
O prêmio por performance apresenta-se como um incentivo financeiro para que os dirigentes da entidade tragam novas fontes de arrecadação, mantenham e ampliem as atuais, garantindo a sustentabilidade da entidade, caso ocorrências dificultem o recebimento das verbas consideradas de natureza pública.
Como consta do regimento interno da CBTM, para fins desta premiação, são considerados dirigentes os ocupantes dos cargos de Presidente, Vice-Presidente, Secretário Geral, CEO, Assessor Especial e Diretor Esportivo, devendo ocorrer a modificação desta regra em caso de alteração na estrutura de governança da entidade.
Vale informar que o orçamento anual é executado de acordo com a aprovação dos colegiados de direção da entidade, incluindo a Assembleia Geral, que aprova anualmente a prestação de contas de cada exercício financeiro, com base nas demonstrações financeiras subscritas por auditoria externa e parecer do Conselho Fiscal da entidade”.