SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Virar campeão mundial é o combustível de todos os atletas de elite. Depois, repetir a dose —quantas vezes for possível. Mas como manter a chama à vera após conquistar o topo 13 vezes e se tornar o maior campeão de seu esporte?

Para Marcos Almeida, a resposta foi buscar um novo desafio. Quando percebeu que sua ambição tremulava após consolidar seu nome na história do jiu-jítsu, ele decidiu migrar para o MMA. Nesta tarde, meia década depois de dar uma guinada na carreira, o brasileiro de 35 anos estreia no UFC.

O RECOMEÇO DO CAMPEÃO

Buchecha, como é chamado no meio da luta, é o recordista isolado de títulos no jiu-jítsu. Ele dominou o cenário da arte marcial ao conquistar treze títulos mundiais, criando uma hegemonia durante a década de 2010 tanto na categoria peso pesado quanto no absoluto. Também foi bicampeão no ADCC, campeonato sem quimono, “zerando” a luta de solo.

Decidiu, portanto, buscar no MMA a fuga da temida zona de conforto. Fez sua primeira aparição na modalidade e pegou gosto: sentiu outra vez a adrenalina que o moveu até o topo e passou a recalcular a rota da carreira em 2020. Retirou de si a pressão de quem ocupa o trono e embarcou na nova aventura.

“Tive uma carreira vitoriosa no jiu-jítsu. Consegui me tornar o maior recordista de títulos mundiais da história do esporte, com treze títulos mundiais na faixa preta. Ganhei os principais títulos do esporte e já não tinha mais ambição nenhuma para treinar e ir atrás dos mesmos títulos”, diz Marcos à reportagem.

“Para mim, um lutador de verdade tem que se testar com quimono, sem quimono, no MMA… e é o que eu estou fazendo. Acabou que acabei gostando de lutar e isso me trouxe uma nova vontade de treinar que eu já não tinha mais só no jiu-jítsu. O MMA reacendeu ali a chama de atleta que eu já não tinha tanto em mim.”

Ele voltou a ser “novato” e trabalhou por cinco anos até chegar a oportunidade de estrear no UFC. Durante esse período, Marcou subiu ao octógono em seis combates e terminou ganhador cinco vezes. Só perdeu um duelo, há dois anos, por decisão unânime. Agora, o desafio é no UFC Abu Dhabi —o card preliminar começa às 13h (de Brasília).

Queira ou não, o jiu-jítsu acabou ficando confortável. Não que fosse fácil —que ia lutar e ganhar—, mas eu já estava fazendo aquilo há anos. Então acabava sendo, de uma certa forma, um conforto, e o MMA tirou isso totalmente. Um esporte totalmente novo, onde eu ia começar como um faixa branca. Claro, com experiência e bagagem, mas onde sou apenas um novato. Estou aprendendo e melhorando a cada dia.

Sua estreia na principal organização de MMA do mundo será contra um ranqueado peso pesado: Buchecha mede forças contra o eslovaco Martin Buday, atual 13º colocado na categoria e que está 6-1 no UFC. O brasileiro nem sequer sabia que o UFC tinha reservado para ele um adversário que mira o top 10 quando ofereceram a luta. Só aceitou, não se importando com quem terá pela frente.

Aos 35, Marcus escreve novo capítulo de sua trajetória e nem se atreve a pensar em parar. Mantém a forma física se aproveitando dos “atalhos” de quem treina há décadas e confia na bagagem que carrega como trunfo —tanto na preparação como durante a luta. Em sua primeira luta no UFC, quer voltar às origens e, idealizando um final perfeito, espera vencer por finalização ainda no primeiro round.

“Eu sentia muita pressão lutando jiu-jítsu e, por incrível que pareça, sinto bem menos no MMA. Mas acho que, a partir do momento que um atleta entra em uma luta e não sente essa adrenalina, já está mais do que na hora de parar. Eu ainda sinto muito isso. Então, não tem nem como estar pensando em parar, e eu acho que tem muita coisa boa ainda por vir na minha carreira”, disse Marcus.