PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – O governo do Rio Grande do Sul anunciou, nesta sexta-feira (25), um programa de crédito de R$ 100 milhões para exportadores gaúchos impactados pelas tarifas de 50% para produtos brasileiros anunciadas pelo governo de Donald Trump.
O valor será disponibilizado pelo BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul), ligado à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, a partir do dia 4 de agosto.
De acordo com o governador Eduardo Leite (PSD), a medida é fundamental para garantir a competitividade da economia gaúcha e suportar a oscilação da demanda causada pelas tarifas.
Um estudo da Fiergs (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul) apontou que o RS está atrás apenas de São Paulo como o estado mais atingido pelas tarifas, com previsão de perda de R$ 1,92 bilhão no PIB em 2025, caso elas entrem em vigor.
“Estamos mobilizando interlocutores, acionando o consulado americano, dialogando com embaixadas e pretendemos, inclusive, buscar interlocução com governadores americanos, como o de Indiana, nosso estado-irmão”, disse Leite em reunião com representantes de setores empresariais no Palácio Piratini, em Porto Alegre. Segundo ele, é preciso desarmar tensões e construir pontes neste momento.
O setor mais afetado pelas tarifas de Trump é o de armas, impulsionado pela Taurus, gigante mundial do setor com fábrica em São Leopoldo. Em 2024, as exportações para os Estados Unidos somaram US$ 170,2 milhões, o que representa 85,9% das vendas externas do setor.
Os Estados Unidos são o principal destino das exportações da indústria gaúcha, representando 11,2% dos US$ 16,3 bilhões enviados pelo setor de transformação do Rio Grande do Sul em 2024.
Segundo a Fiergs, cerca de 145 mil pessoas trabalham nos segmentos mais dependentes do mercado norte-americano.
Os impactos devem ser mais sentidos nos setores calçadista, madeireiro e metalomecânico, especialmente neste último, que destina 45,8% das vendas de produtos metálicos e 44,4% dos minerais não metálicos aos EUA.
Além disso, 30,1% das exportações de madeira, totalizando US$ 105,2 milhões, seguiram para os EUA, assim como 19,4% das vendas de couro e calçados (US$ 176,2 milhões).
Outros setores atingidos são o moveleiro, fumageiro e de borrachas e plásticos.
O governo disse que empresas de qualquer porte que exportaram para o mercado norte-americano em 2024 ou no primeiro semestre de 2025 terão acesso ao financiamento. O crédito tem custo fixado de IPCA mais 4% ao ano, com taxa final estimada de 8% a 9% anuais, e prazo de pagamento de cinco anos, com carência de até 12 meses.
“Enquanto as negociações não avançam, precisamos proteger empregos e prevenir prejuízos maiores”, disse o diretor-presidente do BRDE, Ranolfo Vieira Júnior. Segundo Ranolfo, as empresas gaúchas ainda vivem sob os impactos de dois anos de estiagem, seguidos pela pior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul, em maio de 2024.
Representantes da Fiergs se reuniram com o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin (PSB), em Brasília, na segunda-feira (21), para discutir os impactos das tarifas. Na próxima segunda-feira (28), haverá uma nova reunião, desta vez entre representantes de federações estaduais e o presidente Lula (PT).
O Rio Grande do Sul se junta a outros estados que já adotaram medidas para mitigar os impactos das tarifas comerciais anunciadas por Trump no dia 9, que devem entrar em vigência no dia 1º de agosto.
Na quarta-feira (23), o governo de São Paulo lançou uma linha de crédito de R$ 200 milhões voltada a empresas atingidas pelas novas cobranças.
Um dia antes, o governo de Goiás apresentou um financiamento com custo anual de aproximadamente 10% ao ano, com base em um fundo de fomento com previsão de R$ 628 milhões em crédito. Segundo o governo de Ronaldo Caiado (União Brasil), metade do fundo será composto por créditos de ICMS e a outra metade por aportes de investidores interessados. O fundo será apresentado formalmente na B3 no começo de agosto.
O governo goiano também vai liberar recursos pelo Fundeq (Fundo de Equalização para o Empreendedor), criado durante a pandemia de Covid-19 em 2020, e também por um fundo estadual de estabilização econômica. Para aderir aos programas, as empresas precisam se comprometer a manter empregos durante o período.
Também na terça-feira (22), o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), instituiu um comitê para analisar os efeitos das tarifas. De acordo com a secretaria estadual de Comércio Exterior, 28,5% das exportações capixabas têm como destino os Estados Unidos.