RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A inflação medida pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) acelerou a 0,33% em julho, após marcar 0,26% em junho, apontam dados divulgados sexta (25) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O novo resultado ficou acima da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 0,3%, segundo a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,20% a 0,36%.
A alta da energia elétrica (3,01%) e da passagem aérea (19,86%) pressionou o IPCA-15 em julho. O índice, por outro lado, teve alívio com a segunda queda consecutiva da alimentação no domicílio (-0,4%) e da gasolina (-0,5%).
A taxa de 0,33% foi a maior para o IPCA-15 em meses de julho em quatro anos, desde 2021 (0,72%).
Com os novos dados, o índice acelerou a alta para 5,3% no acumulado de 12 meses. A variação era de 5,27% até junho.
O acumulado segue acima do teto de 4,5% da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
Por ser divulgado antes, o IPCA-15 sinaliza uma tendência para o IPCA. Uma das diferenças entre os dois é o período de coleta das informações.
A apuração dos preços do IPCA-15 se concentra na segunda metade do mês anterior e na primeira metade do mês de referência. No caso do índice de julho, a coleta foi realizada de 14 de junho a 15 de julho.
Já a apuração do IPCA ocorre no mês de referência. Por isso, o resultado de julho ainda não é conhecido. Será divulgado em 12 de agosto.
Conforme economistas, o IPCA-15 ainda não conseguiu captar eventuais impactos do tarifaço prometido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Ele anunciou em 9 de julho que vai sobretaxar as exportações brasileiras em 50% a partir de 1º de agosto. Já há relatos de embarques travados à espera de uma definição sobre o que vai acontecer a partir do próximo mês.
“Ainda é prematuro afirmar que o tarifaço já tenha impactado os dados do IPCA-15”, afirma o economista Leonardo Costa, do ASA, que atua no setor financeiro.
“Embora haja relatos de embarques travados e ajustes pontuais no comércio, o intervalo entre a decisão tarifária e a coleta dos preços é curto, o que dificulta a captura imediata de eventuais efeitos nos índices de inflação no Brasil”, acrescenta.
O QUE IMPACTOU O IPCA-15?
Com alta de 3,01%, a energia elétrica exerceu a maior pressão individual sobre o IPCA-15 em julho (0,12 ponto percentual).
A conta de luz subiu com a aplicação da bandeira vermelha patamar 1 e os reajustes de concessionárias em parte das regiões pesquisadas.
O segundo maior impacto (0,11 p.p.) veio da alta de 19,86% na passagem aérea. O período de férias em julho costuma impulsionar a demanda por viagens, o que tende a afetar os preços do bilhete de avião.
A baixa da gasolina (-0,5%), por outro lado, ajudou a conter o IPCA-15 deste mês. O combustível gerou a principal contribuição individual do lado das quedas no índice (-0,03 p.p.).
Outro componente que impediu um avanço mais intenso do IPCA-15 foi o grupo alimentação e bebidas, que voltou a recuar (-0,06%). O resultado foi influenciado pela redução de preços da alimentação no domicílio (-0,4%).
Houve quedas em produtos como batata-inglesa (-10,48%), cebola (-9,08%) e arroz (-2,69%). As carnes também registraram baixa (-0,36%).
Do lado das altas, o destaque ficou com o tomate (6,39%), após dois meses de recuo.
Segundo economistas, parte dos preços da comida começou a baixar a partir de melhores condições de produção no campo.
Problemas climáticos haviam reduzido a oferta anteriormente, contribuindo para uma sequência de altas.
INCERTEZAS DO TARIFAÇO
Um elemento de incerteza para o cenário de inflação é o tarifaço prometido por Trump a partir de agosto.
Economistas afirmam que a redução das vendas externas pode resultar em uma oferta maior de produtos no mercado interno em um primeiro momento, aliviando parte dos preços.
Em seguida, porém, as empresas afetadas podem encontrar parceiros comerciais substitutos ou simplesmente reduzir a produção, com riscos a empregos no Brasil.
Além disso, períodos de incerteza ou turbulência na economia trazem chance de aumento na cotação do dólar. Uma eventual desvalorização do real ameaçaria a inflação brasileira.
“No curto prazo, o tarifaço pode até contribuir para um alívio adicional nos preços de alimentos, sobretudo de carnes, caso haja redirecionamento de oferta para o mercado interno em função da guerra comercial”, diz o economista Leonardo Costa, do ASA.
“No médio prazo, contudo, o impacto tende a ser neutro, uma vez que a oferta adicional deve ser absorvida gradualmente. O principal risco altista segue sendo a desvalorização cambial, fator mais imprevisível e com efeitos mais relevantes sobre a inflação do que o aumento temporário de oferta doméstica”, completa.
PROJEÇÕES E META
Na mediana, as projeções do mercado financeiro apontam IPCA de 5,1% no acumulado de 2025, de acordo com a edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC na segunda (21).
A previsão caiu pela oitava semana consecutiva, mas segue acima do teto da meta de 4,5%.
Em janeiro de 2025, o BC passou a perseguir o alvo de maneira contínua, abandonando o chamado ano-calendário (janeiro a dezembro).
Nesse modelo, a meta de inflação é considerada descumprida quando o IPCA acumulado permanece por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto). O centro é de 3%.
O IPCA estourou a meta contínua pela primeira vez em junho.
“A inflação segue acima da meta, e o nível de preços nos serviços continua elevado, exigindo cautela por parte do Banco Central na condução da política monetária”, disse Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, após a divulgação do IPCA-15 de julho.