SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Implementada em julho deste ano pelo Corinthians, a biometria facial na Neo Química Arena expôs falhas no Fiel Torcedor e reacendeu as suspeitas de um esquema paralelo de ingressos, que já tinha sido investigado pela Polícia Civil em 2024.
BIOMETRIA FACIAL EXPÕE IRREGULARIDADES
O inquérito foi arquivado em novembro do ano passado, mas, após a chegada da biometria, o Corinthians pediu o fim de sigilo dos autos, a fim de levar as informações para análise do Conselho Deliberativo e dos órgãos fiscalizadores. O UOL teve acesso à íntegra da investigação.
Na partida contra o Red Bull Bragantino, em 13 de julho, 81% dos ingressos foram adquiridos via Fiel Torcedor após a biometria. O jogo foi o primeiro com a implementação da tecnologia na Arena, respeitando a data imposta pela Lei Geral do Esporte.
O percentual foi superior aos 65% a 70% de média por jogo citados por Lúcio Blanco, ex-gerente de Arrecadação da Arena, que prestou depoimento à Polícia Civil em março deste ano. A discrepância revelou possíveis falhas no controle anterior, sobretudo em cortesias e cambismo.
Agora, os associados do Fiel Torcedor têm conseguido comprar ingressos mesmo com menor pontuação ou seja, os torcedores que não vão com tanta recorrência ao estádio. A regulação do programa de sócio é considerada a principal vitória da gestão interina.
O gerente de operações da Arena, Ricardo Okabe, relatou ter feito alertas sobre a presença de cambistas no estádio anteriormente. Segundo seu depoimento, a antiga gestão não fez qualquer tipo de movimento para investigar ou combater o problema.
Várias questões irregulares foram levadas a Lúcio Blanco, inclusive a quantidade de cambistas que permaneciam à frente do portão A em dias de jogos. Nenhuma atitude foi tomada, mesmo após testes com empresas de segurança que conseguiram reduzir a presença dos cambistas.Ricardo Okabe, em depoimento à Polícia Civil, em 31 de março de 2025
CORTESIAS TAMBÉM ERAM PROBLEMA
O Timão também apontou, por meio de documentos enviados à investigação, que a distribuição de cortesias tinha grande impacto na arrecadação. Documentos indicam que conselheiros, patrocinadores, parceiros comerciais e autoridades recebiam milhares de ingressos gratuitos ou com desconto, sendo que apenas o departamento de futebol masculino tinha direito a até 1.500 entradas, das quais 400 eram gratuitas.
Em depoimentos, funcionários contaram às autoridades que parte dessas cortesias eram utilizadas de forma irregular, alimentando o cambismo nos arredores do estádio. A redução desse tipo de ingresso se tornou uma das principais medidas para aumentar a transparência e a receita do clube.
Um exemplo é o jogo contra o Bragantino, em que a bilheteria de 33.847 pagantes arrecadou R$ 2,36 milhões, valor próximo de jogos anteriores com mais de 42 mil torcedores nas arquibancadas.
Citado nas investigações, Blanco afirmou, em depoimento obtido pelo UOL, que não tinha controle direto sobre as vendas, geridas pelo setor de tecnologia em parceria com a OneFan. Ele também nega qualquer favorecimento a torcidas organizadas ou convidados VIP.