SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil tem espaço de sobra? Tem gente que acha que sim. Eles têm uma ideia: ocupá-lo com um monte de computadores que armazenam dados.

Também aqui: enquanto o governo Lula liga, Trump parece ter riscado o nome dele da agenda; fundador de Davos é investigado depois de deixar chefia do Fórum Econômico e outros destaques do mercado nesta quinta-feira (24).

**LATIFÚNDIO DE DADOS**

Há muito espaço sobrando no Brasil? Tem gente que acha que sim. Uma ideia para ocupá-lo seria construir galpões repletos de computadores que armazenam dados.

Para impulsionar o desenvolvimento de uma estrutura de processamento de dados para atender às big techs, o Ministério da Fazenda quer criar um regime tributário especial que zera os impostos federais dos produtos comprados pelas empresas que estiverem construindo data centers no Brasil. A isenção deve durar um ano.

“Data center” é um lugar que abriga servidores e equipamentos para garantir o funcionamento de programas na rede. Com a explosão de IA, eles são cada vez mais necessários. Ou você achou que todas as informações eram armazenadas em outro plano metafísico?

A medida também isenta do imposto de importação os produtos que não são produzidos no país, como os chips da Nvidia.

Hoje, os chips de ponta necessários nos complexos mais modernos enfrentam uma carga tributária de 52,7% na importação.

VALE A PENA?

Especialistas em planejamento têm dúvidas sobre se as empresas estrangeiras trarão propriedade intelectual e pesquisa para o Brasil ou se apenas vão se beneficiar da eletricidade barata e dos benefícios fiscais.

Eles citam como exemplos negativos a Zona Franca de Manaus e o complexo de fabricação de alumínio no Maranhão.

↳ O texto passou pelos ministérios do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e da Fazenda, e agora está no Planalto, que avalia o melhor momento para enviar a proposta ao Congresso. Alterações ainda podem ser feitas na MP.

EM NÚMEROS

R$ 2 trilhões são quanto a medida pode destravar em investimentos nos data centers nos próximos dez anos, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

R$ 500 bilhões é o investimento estimado em infraestrutura para receber esses galpões.

**TELEFONE MUDO**

“Telefone mudo não pode chamar” é o que diz um modão sertanejo do Trio Parada Dura de 1983. Enquanto o governo Lula liga, a Casa Branca parece ter riscado seu telefone da agenda.

A oito dias do prazo final para o governo dos Estados Unidos aplicar sobretaxas de 50% sobre produtos importados do Brasil, os canais de negociação formais entre governo brasileiro e o americano seguem fechados.

ESPERANDO O SINAL

Oficiais de Washington sinalizaram a Brasília que as tratativas só devem caminhar a partir de uma autorização do presidente Donald Trump para a abertura de canal oficial de diálogo.

Dá para dizer que há uma fila de prioridades no Salão Oval e algumas estão à frente de um acordo como o Brasil, como a discussão das tarifas com a União Europeia.

Ou, simplesmente, o republicano está dando um gelo em Lula para ver se o medo lhe rende um acordo favorável.

TREMENDO NA BASE

Com o diálogo interditado nas vias formais, integrantes do governo brasileiro começam a duvidar de um desfecho a tempo hábil de reverter a aplicação da tarifa antes do prazo estipulado, em 1º de agosto.

Enquanto isso… autoridades brasileiras tentam conversas extraoficialmente com a equipe de interlocutores nos Estados Unidos —já que os ministros daqui também estão tendo dificuldade de se comunicar diretamente com seus homólogos norte-americanos.

Para o Planalto, essa ausência de resposta se deve ao medo entre os ministros do republicano de serem desautorizados pelo presidente Trump —e ninguém está a fim de tomar bronca do chefe.

Integrantes do órgão responsável pela área comercial dos EUA, por exemplo, dialogaram sobre tarifas com brasileiros e foram surpreendidos pela decisão do chefe de Estado americano de sobretaxar o país.

Em outra frente, o governo, capitaneado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), também tenta sensibilizar o empresariado diretamente atingido pelas medidas para auxiliarem na procura por uma solução.

**CRIATURA VS. CRIADOR**

Todos os anos, grandes nomes da economia global se reúnem no gelado inverno suíço para falar de negócios. Parece um programa animador? Para o mundo corporativo, tem sido um momento importante há 54 anos.

Os bastidores do Fórum Econômico Mundial –ou Davos, para os íntimos– não são glamourosos, segundo denúncias reveladas primeiro pelo Wall Street Journal e depois apuradas em investigação do próprio Fórum.

O alvo principal das denúncias é o fundador da organização, Klaus Schwab, de 87 anos. As acusações contra ele passam por gastos não autorizados do dinheiro do Fórum, comportamento intimidador e tratamento inadequado de funcionárias.

De acordo com os investigadores, Schwab tratava a organização como seu feudo: tolerava assédio e discriminação, e recorria à intimidação e ao medo para impor sua vontade.

OLHANDO DE PERTO

A investigação conduzida pelo comitê de Davos começou em abril deste ano, a partir de uma denúncia.

Vale destacar que a reportagem denunciando a hostilidade no ambiente de trabalho contra funcionários negros e mulheres havia sido publicada um ano antes da abertura da apuração.

Segundo o Wall Street Journal, há evidências de que Schwab fez comentários sugestivos e inadequados a uma funcionária.

Ele e sua esposa, Hilde Schwab, gastaram mais de US$ 1,1 milhão (R$ 6 milhões) em viagens. Ainda, foram encontradas outras despesas de US$ 63 mil (R$ 347 mil) dos Schwabs em férias –com pouca ou nenhuma evidência de negócios envolvidos.

Ainda, o chefão teria recebido presentes sofisticados, como abotoaduras personalizadas da Tiffany e casacos de pele, em violação às políticas do Fórum.

SAINDO DE CENA

Depois de 55 anos à frente de Davos, Schwab renunciou ao cargo na Páscoa e não exerce mais nenhum papel no Fórum.

**FESTIVAL EM CHAMAS**

Quem gosta de acompanhar o mundo dos negócios —ou melhor, as personalidades dele— já ouviu o nome “Burning Man”.

É um festival de música eletrônica que atrai pessoas de todo o mundo para o meio do deserto, mais especificamente em Black Rock City, no estado americano de Nevada. A festança, no entanto, pode estar prestes a morrer, sufocada pelo próprio ideal.

A investigação foi feita pela Bloomberg, e você pode conferi-la na íntegra aqui.

O CONCEITO

Durante os nove dias em que acontece, os participantes do evento não mexem com dinheiro. Para sobreviver, montam acampamentos, levam mantimentos e trocam o que for necessário entre eles. É o que torna a experiência “transcendental” para alguns.

POR QUE IMPORTA?

Pois os engravatados mais importantes do mundo são figurinhas carimbadas por lá.

Larry Page e Sergey Brin escolheram Eric Schmidt como o primeiro CEO da Google, em parte, pelas experiências que viveram juntos no Burning Man.

Sam Altman, chefe executivo da OpenAI, disse que o festival “é a coisa mais bonita feita pelo homem que ele já viu”.

Elon Musk, Joe Gebbia, bilionário membro do conselho da Tesla, e Mark Zuckerberg são devotos de longa data.

RISCO DE INCÊNDIO

Em 2023, os frequentadores do festival passaram por um perrengue: fortes chuvas e inundações isolaram-nos no deserto, sem mantimentos e sem meios de ir embora.

No ano seguinte, 2024, a organização ficou no prejuízo para realizar o evento –os ingressos não esgotaram, como era de praxe em anos anteriores. Ficaram devendo pelo menos US$ 20 milhões (R$ 110 milhões) para fazer as contas fecharem.

“Tudo está em risco agora”, disse a CEO Marian Goodell, em publicações nas redes sociais.

Se a organização fosse como as outras, procuraria seus amantes bilionários para pedir doações e manter o festival vivo. Contudo, o código moral do Burning Man impede patrocínios, comercialização, publicidade ou venda de mercadoria.

Ou seja, ele tem que sobreviver por si próprio, apenas com o que gera na venda de ingressos –o que não está acontecendo. Pode ser o fim do refúgio dos bilionários.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

Reiniciando o cronômetro. Segundo o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, o país considera prolongar a pausa das tarifas sobre a China por três meses.

O novo ouro (?) A Índia afirmou que trabalha em acordos para o comércio de terras raras com o Brasil e a República Dominicana.

Casa do Pikachu. O primeiro parque temático de Pokémon será inaugurado no Japão em 2026.

Olha o dedão. O cadastro da biometria passa a ser obrigatório para acessar benefícios sociais, como o Bolsa Família.