SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A Prefeitura de São Paulo anunciou que lançará um edital de chamamento para abastecer os ônibus da cidade com biometano, gás renovável que reduz a emissão de poluentes. A medida é apontada como uma alternativa para os ônibus elétricos, cuja implementação anda a passos lentos na capital por problemas de carregamento.

O QUE ACONTECEU

Chamamento público vai pedir que empresas ofereçam soluções para produzir e abastecer os veículos nas garagens da cidade. A previsão da Secretaria Municipal de Transportes e Mobilidade Urbana de São Paulo é de que o edital seja publicado até 20 de agosto.

Medida é apontada como uma forma de acelerar o processo de descarbonização da frota. A meta atual, que já foi adiada mais de uma vez e diminuída, é de que 2.200 veículos sejam movidos a fontes não poluentes de energia até 2028.

Carros que já estão em circulação poderão ser adaptados para receber o biometano. Segundo Celso Jorge Caldeira, secretário de Mobilidade e Transporte, os veículos que já estão em circulação na cidade por diesel poderão ser requalificados e, para os carros novos, o processo para compra de veículos será semelhante aos já existentes para ônibus elétricos.

Hoje, 40 ônibus elétricos novos comprados pelas viações não podem circular porque não têm como ser abastecidos. O número foi divulgado pela prefeitura em evento de lançamento de 120 novos veículos elétricos que estão aptos a andar na capital. O número já foi maior e a deficiência no abastecimento já colocou a cidade em maus lençóis com ao menos uma fabricante de carros elétricos, que a acusou de “calote” após demora no pagamento de veículos comprados por uma viação.

Enel ainda é a maior “vilã” para a descarbonização da frota aos olhos da prefeitura. No evento desta quarta-feira (23), o prefeito Ricardo Nunes (MDB) voltou a chamar a concessionária de “irresponsável” e acrescentou que é uma empresa “sem compromisso com a cidade”. Nunes já havia culpado a Enel em junho.

“A Enel cobra uma fortuna das empresas de ônibus para poder fazer a instalação da energia e, mesmo assim, ela não consegue fazer essas ligações conforme a necessidade da frota. A gente já chegou a ter centenas de ônibus parados nas garagens sem ir para a rua porque não tinha energia. Então é um problema grave”, disse Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo.

A Enel, por sua vez, afirmou à reportagem que entregou energia a 20 garagens para abastecer 900 ônibus até o momento. A empresa também disse que alinha prazos relacionados ao abastecimento das garagens em reuniões semanais com representantes das viações, da SPTrans e da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana e que até o fim do ano serão mais 44 MW, já contratados pelas empresas, que possibilitarão o abastecimento de um total de ao menos 1.980 ônibus elétricos. O UOL questionou se a companhia queria se pronunciar sobre as acusações do prefeito, mas não teve retorno sobre o tópico.

PREFEITURA TEM BATERIAS AINDA NÃO INSTALADAS

Sistema chinês de baterias é outra alternativa para abastecimento dos veículos. Segundo Caldeira, sete garagens da cidade devem receber o sistema BESS, da Huawei, que funcionam como uma espécie de “superbateria” que armazena energia suficiente para abastecer os veículos.

Ao todo, 40 baterias com capacidade para abastecer 400 ônibus estão prontas para serem instaladas, segundo a prefeitura. O processo de implementação dessas baterias ainda não foi detalhado, mas o projeto para as sete garagens precisa passar por aval da SPTrans. Uma comitiva da prefeitura também vai viajar até a China para fazer os ajustes finais antes da oficialização dessa nova forma de abastecimento.

“Vamos fazer uma viagem para a China para poder concluir o processo tecnológico. A implantação é imediata. A perspectiva da gente é que ela possa acontecer nos próximos dois meses”, disse Caldeira, secretário de Transportes de São Paulo, à reportagem.

SÃO PAULO AINDA É DEPENDENTE DO DIESEL NO TRANSPORTE

São Paulo está longe de atingir a meta estipulada em 2018, de ter metade da frota descarbonizada até 2028. Uma mudança de lei em fevereiro de 2025 excluiu a meta em questão, mas foi suspensa na Justiça por “risco de danos ao meio ambiente”.

Frota total de ônibus limpos em São Paulo subiu para 841, equivalente a 6,4% do total de veículos em circulação na cidade. Desses carros, pouco mais de 200 são trólebus, ligados diretamente aos fios de energia. Os outros são movidos a bateria e 350 deles foram entregues em 2025.