TEL AVIV, ISRAEL (FOLHAPRESS) – As fotos dos 50 reféns ainda em posse do Hamas e de outros grupos terroristas na Faixa de Gaza são algumas das primeiras imagens com as quais se depara um visitante que chega ao Aeroporto Internacional Ben Gurion, em Tel Aviv, logo em uma das rampas de acesso do terminal de desembarque.
As fotografias contêm os nomes dos reféns e suas idades, riscadas a caneta e atualizadas por quem passa por ali e sabe que aqueles sequestrados já fizeram aniversários nos mais de 650 dias de cativeiro.
As imagens estão sempre juntas de fitas e faixas na cor amarela que adornam também placas, carros, viadutos e muros por todo o país, inclusive em frente à residência do premiê Binyamin Netanyahu.
Essas manifestações silenciosas estão também ao longo de toda a estrada que vai de Tel Aviv a Jerusalém, um trajeto de cerca de 60 km feito pelas famílias dos sequestrados em protestos contra a lentidão do governo durante as negociações por um cessar-fogo e o retorno dos reféns.
Anúncios de que Israel ou Hamas aceitam partes das demandas nas negociações mais recentes, mediadas por Estados Unidos, Qatar e Egito, terminam por voltar à estaca zero, e os dois lados acusam um ao outro de fazer propostas inaceitáveis. Segundo o Departamento de Estado americano, o negociador principal do país, Steve Witkoff, viaja em breve novamente à região.
Circundada por uma biblioteca pública, pelo museu de arte de Tel Aviv e pelo Ministério da Defesa, a chamada “praça dos reféns” se tornou o local de reunião de familiares e manifestantes, que se concentram todos os dias, particularmente aos sábados, quando ocorrem os maiores protestos.
Há barracas vendendo camisetas e outros itens em apoio à demanda dos familiares, e o trabalho animado de voluntários na praça cheia se mistura a pedidos pelo retorno dos sequestrados e à angústia das famílias, refletida em um grande relógio no canto da praça contando cada segundo desde o ataque do Hamas no dia 7 de outubro de 2023.
Na última quinta-feira (17), as pessoas na praça celebravam o segundo aniversário de Nimrod Cohen no cativeiro. O soldado de uma equipe blindada foi capturado aos 20 anos durante o enfrentamento contra o grupo terrorista e é um dos reféns mais jovens ainda em Gaza.
“Não importa se é um aniversário ou um feriado, para o Nimrod todo dia é o mesmo. E não dá nem para falar em dia porque ele não pode diferenciar o dia da noite, já que está nos túneis sem ver a luz do sol”, diz à Folha Yehuda Cohen, pai do aniversariante e crítico do governo de Netanyahu.
“Mal posso chamá-lo de meu governo porque não me representa. Vimos por um ano e meio Netanyahu preocupado mais com sabotar acordos por razões políticas e pessoais. Talvez com seu governo balançando ele passe a olhar para o outro lado para tentar sair disso tudo como um grande herói e com um acordo”, diz Cohen, em referência à debandada de partidos ultraortodoxos que sustentam o governo.
Na segunda-feira (21), as forças israelenses iniciaram operações por terra e bombardeios na cidade de Deir al-Balah, no centro de Gaza, onde acredita-se que estejam os reféns. Familiares dos sequestrados criticam a operação e exigem de Netanyahu, do ministro da Defesa, Israel Katz, e do chefe do Exército, Eyal Zamir, explicações sobre como seus parentes serão protegidos dos bombardeios.
A ONG Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos, que usa também como nome e slogan a frase “Bring Them Home Now” (tragam-nos para casa agora), tem sido o principal vetor de articulação das demandas das famílias. O grupo foi criado por familiares que se descobriram na mesma situação após as primeiras horas dos atentados do Hamas, nas quais o choque paralisava o governo e o Exército e ainda não se sabia o paradeiro de vários dos 251 que foram, enfim, identificados como sequestrados.
“Nada em Israel vai se resolver e não poderemos voltar para as nossas vidas ou tratar das feridas abertas, até que todos eles estejam de volta”, diz a voluntária Revital Poleg na sede da ONG, cedida por uma empresa de tecnologia.
Familiares dos reféns, que segundo Poleg têm acesso facilitado ao governo dos EUA e ao enviado americano, Steve Witkoff, fizeram uma entrevista coletiva no Capitólio, em Washington, nesta quarta (23), onde estiveram há um ano, véspera de pronunciamento de Netanyahu ao Congresso dos EUA em 2024.
“Na ocasião, um acordo para trazer de volta os reféns supostamente estava próximo. Ele fracassou, e as consequências foram devastadoras: mais reféns foram assassinados, e mais famílias foram deixadas com uma angústia inimaginável. Não deixem outro acordo colapsar”, afirmou a ONG.
Poleg reforça essa crítica ao governo de Netanyahu, que é generalizada entre os mais engajados na causa dos reféns. “Se o trabalho fosse bom, não estaríamos sentados aqui. Quando se trata com o Hamas não podemos esperar milagres, mas falamos com nosso governo; como ele vai tratar isso é problema dele. É seu dever, e qualquer explicação são só palavras.”