SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Câmeras de monitoramento registraram a movimentação do veículo da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) que seria conduzido pelo suspeito de realizar diversos ataques contra ônibus na região metropolitana de São Paulo.
Preso preventivamente na noite desta terça-feira (23), Edson Aparecido Campolongo, 68, funcionário concursado da companhia, foi indiciado sob suspeita de vandalizar 17 coletivos, sendo 13 em São Bernardo, 3 na cidade de São Paulo e 1 no município de Santo André.
Campolongo confessou ter praticado os atos nos quais teria utilizado o carro oficial do órgão público, segundo a Polícia Civil. A Folha de S.Paulo não conseguiu contato com a defesa do suspeito.
A identificação, por meio das imagens, horários e locais de circulação do carro dirigido pelo suspeito contribuíram para que investigadores do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) de São Bernardo do Campo chegassem ao possível autor.
Autor de diversas postagens na internet com críticas ao governo do presidente Lula (PT) e a decisões do ministro Alexandre de Mores, do STF (Supremo Tribunal Federal), em desfavor do ex-presidente Jair Bolsonaro, o suspeito teria alegado que praticava os atentados para consertar o país, segundo o secretário-executivo de Segurança Pública, Osvaldo Nico Gonçalves.
Outras etapas da investigação, como análises de trocas de mensagens por celular e de perfis em redes sociais, poderão confirmar ou não a veracidade das declarações.
Ele ainda teria confessado ter recebido ajuda em ao menos duas ocorrências do irmão dele, Sérgio Aparecido Campolongo, 56, que se entregou nesta quarta-feira (23) à polícia e foi preso. Também neste caso, a reportagem não conseguiu falar com a defesa.
Campolongo, que mora no município de Taboão da Serra, dirigia rotineiramente o veículo Volkswagen Virtus de cor branca para transportar um chefe de gabinete da CDHU, da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), no trajeto entre a residência dele, em São Bernardo do Campo, e o escritório onde funciona a sede do órgão público, na região central de São Paulo.
Os ataques a ônibus atribuídos ao motorista ocorriam antes que o executivo fosse apanhado em sua residência ou após esse chefe de gabinete ser deixado em casa. Não há evidência do envolvimento de quaisquer outros funcionários da CDHU. A reportagem apurou que o órgão pretende demitir o indiciado, informação não confirmada oficialmente até a publicação deste texto.
O suspeito ainda pode ter realizado ataques no percurso até a residência do irmão, em Osasco. A investigação sobre os caminhos habitualmente percorridos pelo veículo oficial e a ocorrência de diversos casos em áreas limítrofes de municípios da região metropolitana reforçaram as suspeitas de que o condutor do automóvel estivesse envolvido nos crimes.
Antes que investigadores concluíssem que Campolongo poderia estar ligado aos crimes, o suspeito chegou a ser interceptado por policiais que patrulhavam vias em que ônibus tinham sido depredados. Como não havia nada que o pudesse incriminar na ocasião, ele foi liberado.
Evidências da atuação do motorista ganharam força na última quinta-feira (17), quando o veículo da CDHU foi gravado próximo a diversas cenas de crimes. Segundo nota da SSP (Secretaria de Segurança Pública), do governo estadual de Tarcísio de Freitas (Republicanos), o homem estaria envolvido em 16 depredações ocorridas na referida data.
Após ter confessado os crimes, o suspeito colaborou com diligências realizadas na residência, onde um estilingue foi encontrado, e no local de trabalho, cujo armário guardava pequenas esferas metálicas.
Ao examinar o carro, peritos constaram a substituição do vidro traseiro, situação que se repetiu na averiguação do automóvel particular do suspeito. A coincidência é avaliada como eventual indício de que disparos com o estilingue podem ter acidentalmente danificado os automóveis. Tais avarias também levantam suspeitas de que o carro particular também tenha sido empregado em atentados.
Em um dos ataques, em São Bernardo do Campo, Campolongo ainda teria utilizado um artefato semelhante a um coquetel molotov, que não resultou em incêndio. Uma perícia irá confirmar ou não se o objeto efetivamente possuía potencial incendiário.
A identificação dos responsáveis por ataques em série não elimina outras linhas de investigação.
Disputas sindicais ou entre empresas insatisfeitas com mudanças em contratos de transporte, desafios feitos na internet e até a suposta participação do PCC (Primeiro Comando da Capital) são algumas das possibilidades discutidas pelos órgãos de segurança.
Também não pode ser atribuída aos irmãos Campolongo a totalidade de ataques, tampouco que outros criminosos compartilhem das mesmas motivações.
Os irmãos se diferenciam dos demais casos identificados porque eles são os únicos suspeitos de estarem presentes em diversas cenas, além da confissão de uma motivação específica.
Outros ataques, considerando depoimentos de mais de 20 suspeitos identificados, podem ter sido praticados por “lobos solitários”, conforme descreveu Nico Gonçalves.
Seriam pessoas que viram o noticiário sobre as depredações contra o transporte e resolveram imitar as ações porque “está na moda”, nas palavras do secretário-executivo de Segurança Pública.
Durante entrevista a jornalistas nesta terça-feira (22), autoridades de segurança do estado de São Paulo manifestaram preocupação com um possível efeito manada que já poderia estar em curso, ou seja, uma série de indivíduos que pode ter decidido imitar os crimes noticiados.
Só a capital paulista registra 543 depredações desde 12 de junho, sendo duas realizadas nesta quarta-feira (23), segundo a SPTrans, a companhia que faz a gestão do serviço no município.