SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A exposição “Hip Hop: A Origem -São Paulo, anos 80” estreia no Sesc 24 de Maio nesta quinta-feira (24) e reúne um acervo raro, que resgata a formação da cena na capital paulista durante a década de 1980.
Com mais de 3.000 peças, entre roupas, equipamentos, fotografias e registros audiovisuais, a mostra reconstrói a trajetória do movimento que transformou espaços públicos da cidade em palcos de expressão, resistência e identidade cultural.
Curada coletivamente por nomes que testemunharam o movimento desde o início -entre eles Os Gemeos, KL Jay, Thaíde, Rooneyoyo O Guardião, Sharylaine e Rose MC- ela enfatiza a importância de apresentar às novas gerações as origens do hip hop paulistano, apontando como a cultura foi se enraizando nas ruas e como os jovens encontraram nela um espaço de liberdade e sobrevivência.
A escolha do local de montagem é simbólica, já que o endereço do Sesc fica próximo de onde o break dance começou. O percurso da exposição é organizado a partir de uma linha de metrô que conecta o sul do Bronx –berço do movimento nos Estados Unidos– ao epicentro paulista da estação de metrô São Bento.
O visitante passa por documentos históricos, como fotografias inéditas de Martha Cooper, que registrou o nascimento do hip hop em Nova York, e pelo documentário “Style Wars” (1983), de Henry Chalfant, além de gravações de Michael Holman que capturam as primeiras batalhas de break.
A influência do cinema é destacada com trechos de filmes emblemáticos da época -como “Flashdance”, “Beat Street”, e “Breakin”- que foram exibidos nos cinemas do centro de São Paulo e serviram de inspiração para dançarinos e DJs que buscavam aprender os passos e o estilo da cultura hip hop.
O caminho segue com mais itens originais, grande parte do acervo d’Os Gemeos, de Rooneyoyo e alguns resgatados com personagens importantes da época. Entre os objetos curiosos, estão a demo original do disco do grupo Record Cultura de Lua, um cassete achado em brechó e a camisa original do cantor Tim Maia, doada pelo filho do artista.
Os corredores levam a um salão maior que representa a estação São Bento, o ponto-chave da cultura hip hop paulistana. Ali, há um vagão cenográfico que abrigará oficinas e rodas de conversa no período que a mostra estiver em cartaz.
Nesse ambiente, a curadoria também destaca o protagonismo das mulheres no rap e no breaking, com um recorte sobre as MCs e B-Girls que, mesmo diante de barreiras, apareceram desde os primeiros discos e coletâneas.
Além das capas de álbuns, flyers de bailes black e outros materiais históricos, o espaço traz instalações inéditas, como um piano-sintetizador d’Os Gemeos, que permite ao público gravar suas próprias bases no tape deck.
O universo do improviso também é resgatado através de objetos utilizados no início do movimento. Estão expostos uma lata de lixo usada para percussão nas rodas de rap, correntes feitas com argolas de cortina e jaquetas pintadas à mão. Enquanto uma extensa parede tem nichos com equipamentos de som da época, como os boomboxes e rádios gravadores.
Na perspectiva dos curadores, o hip hop brasileiro ganhou identidade própria a partir do contato com as referências norte-americanas, mas foi moldado pela realidade local e pela inventividade dos artistas, além de sobreviver à repressão da ditadura militar.