SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Israel atacou três vezes instalações da OMS (Organização Mundial da Saúde) em Deir al-Balah, no centro da Faixa de Gaza, nesta segunda-feira (21), afirmou a agência da ONU. Segundo o órgão, os prédios atingidos são a residência de funcionários e o seu principal armazém, o que compromete operações em um contexto de catástrofe humanitária no território.

A ofensiva incluiu ataques aéreos que causaram incêndio e danos extensos, segundo a OMS, colocando funcionários e suas famílias, incluindo crianças, em perigo.

O relato confirma os temores que organizações humanitárias expressaram após Israel lançar o primeiro ataque em larga escala contra a cidade, que funciona como um centro de esforços humanitários no devastado território palestino e abriga dezenas de milhares de civis. Tel Aviv diz acreditar que os reféns capturados no ataque terrorista do Hamas em outubro de 2023 estão ali.

De acordo com o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, dois membros da organização e dois familiares de funcionários foram detidos. Posteriormente, três deles foram libertados, enquanto o quarto permaneceu preso. “A OMS exige a libertação imediata do funcionário detido e a proteção de todos os seus funcionários”, afirmou.

Em um comunicado, o órgão afirmou que militares israelenses entraram nas instalações, forçaram mulheres e crianças a se retirarem a pé em direção a uma cidade vizinha em meio a bombardeios e tiroteios e algemaram funcionários e seus familiares, obrigando-os a se despir enquanto eram interrogados e revistados sob a mira de armas.

Em nota, as Forças Armadas de Israel disseram ter prendido pessoas suspeitas de envolvimento com terrorismo em uma operação que começou depois que soldados israelenses foram alvo de disparos. Sem mencionar a OMS, Tel Aviv disse que “depois de interrogatório, durante o qual os suspeitos foram tratados de acordo com o direito internacional, a maioria foi libertada e retirada do local”.

A OMS afirmou que permanecerá em Deir al-Balah e expandirá suas operações apesar dos ataques. As capacidades do órgão, no entanto, estão comprometidas após a destruição de seu principal armazém e a transferências às pressas de 43 funcionários e suas famílias para outro local.

“A vida em Gaza está sendo implacavelmente pressionada, e a chance de prevenir a perda de vidas e reverter os imensos danos ao sistema de saúde escapa cada vez mais a cada dia. Um cessar-fogo não é apenas necessário, está atrasado”, concluiu a OMS.

A mais recente zona de retirada de civis determinada por Israel, em Deir al-Balah, é uma área de 5,6 km² que abrigava de 50 mil a 80 mil pessoas, segundo estimativas iniciais do Ocha, o escritório de ajuda humanitária da ONU.

Agora, o órgão estima que 87,8% do território esteja sob ordens de deslocamento ou dentro de zonas militarizadas, o que significa que 2,1 milhões de civis teriam de se espremer em pouco mais de 12% de Gaza, um dos territórios mais densos do mundo mesmo antes do conflito.

O ataque torna ainda mais dramática a situação em Gaza, onde 100% da população no território está em risco de crise alimentar devido a restrições à entrada de ajuda humanitária impostas por Tel Aviv, segundo projeção da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), iniciativa apoiada pela ONU.

Mohamed Abu Salmiya, diretor do Al-Shifa, que antes da guerra era o maior hospital do território palestino, afirmou nesta terça que 21 crianças morreram de desnutrição e fome em 72 horas.

Agentes humanitários também não escapam da fome, segundo o chefe da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, que descreveu a situação em Gaza como o “inferno na Terra”.

“Ninguém é poupado: os cuidadores em Gaza também precisam de cuidados. Médicos, enfermeiros, jornalistas e trabalhadores humanitários estão com fome”, disse em um comunicado. “Muitos agora estão desmaiando devido à fome e à exaustão enquanto desempenham suas funções: relatando atrocidades ou aliviando parte do sofrimento.”

Já aqueles que tentam conseguir comida por meio do controverso sistema de distribuição de ajuda da FHG (Fundação Humanitária de Gaza), apoiado por Estados Unidos e Israel e classificado por Lazzarini de “armadilha mortal sádica”, correm risco de vida, de acordo com relatos.

Nesta terça, a ONU acusou o Exército israelense de matar mais de 1.000 pessoas que tentavam obter ajuda em Gaza desde o final de maio, a grande maioria perto das instalações da fundação.

“Até 21 de julho, registramos 1.054 pessoas mortas em Gaza enquanto tentavam obter alimentos; 766 delas morreram perto das instalações da FHG e 288 perto de comboios de ajuda da ONU e de outras organizações humanitárias”, disse o Alto Comissariado para os Direitos Humanos à agência de notícias AFP, afirmando que foi o Exército israelense que matou essas pessoas.

O patriarca latino de Jerusalém, principal autoridade católica na região, afirmou nesta terça, após uma visita a Gaza na esteira de um ataque de Israel à única igreja no território, que a situação humanitária ali é inaceitável. “Vimos homens esperando ao sol durante horas com a esperança de receber uma simples refeição”, disse o cardeal Pierbattista Pizzaballa em uma entrevista coletiva. “É moralmente inaceitável e injustificável.”

Citado como forte concorrente a ser escolhido como papa após a morte de Francisco, por fim sucedido por Leão 14, Pizzaballa propôs, dias após o atentado de outubro de 2023, ser levado a Gaza como refém em troca da libertação de crianças que foram sequestradas pelo Hamas. Sua visita ao território nesta terça é uma das raríssimas ocasiões em que autoridades estrangeiras puderam entrar na zona de guerra desde o início do conflito, em outubro de 2023.