SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma baleia-jubarte, que havia sido resgatada no fim do mês passado de uma rede de pesca em Ubatuba (SP), voltou a ficar presa em um enredamento. Ela foi libertada.

O resgate do animal ocorreu na última quinta-feira (17) por uma equipe de desemalhe do Instituto Argonauta, ONG nascida no Aquário de Ubatuba que faz projetos de preservação marinha e esse tipo de trabalho no litoral norte paulista.

A jubarte foi avistada nas proximidades da Praia de Itamambuca. A bordo de um bote, a equipe de biólogos constatou que era a mesma resgatada em 30 de junho, também em Ubatuba.

A rede, ancorada por poitas, envolvia a cabeça da baleia, com extremidades estendidas para ambos os lados. Apesar de conseguir mergulhar e retornar à superfície para respirar, o animal permanecia preso na mesma área, segundo os biólogos do instituto.

Por causa da boa visibilidade da água na última quinta, um dos socorristas, com uso de uma câmera de vídeo, conseguiu localizar a rede a cerca de 7 metros de profundidade.

“Com os procedimentos precisos, conseguiram efetuar os cortes que permitiram que a baleia se movimentasse e se desvencilhasse da rede”, diz o instituto.

Ao menos sete barcos chegaram próximos para acompanhar a operação, mas a equipe pediu que se afastassem pois havia risco de acidentes se a baleia se soltasse. O bote dos biólogos, inclusive, permaneceu com motor desligado durante a ação.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, a atual migração de baleias-jubarte tem expectativa de recorde de avistamentos no litoral norte paulista. A temporada vai de abril a agosto.

O instituto fez dois resgates no mês passado —número igual ao de todo o ano de 2024.

No primeiro caso, o instituto diz ter sido acionado em 16 de junho por observadores de uma operadora de turismo e do Projeto Baleia à Vista por causa de uma baleia emalhada em petrechos de pesca.

O Argonauta afirma ter avaliado a extensão do enredamento e, ao longo de três aproximações, conseguiu acoplar boias e realizar cortes parciais nos cabos presos à região da cabeça e nadadeira caudal da baleia.

A operação foi interrompida no fim da tarde e por motivos de segurança, e o animal acabou parcialmente liberado. Ou seja, continuou com parte dos petrechos.

O segundo caso aconteceu em Ubatuba e o resgate ocorreu em duas etapas. O primeiro atendimento foi no dia 19, após comunicação de um morador local sobre uma baleia juvenil, com cerca de sete metros de comprimento, presa em rede, nas proximidades da ilha Anchieta.

Na operação, houve a aplicação de técnicas de desenredamento que resultou em um desemalhe parcial.

No dia 30, a mesma jubarte foi reencontrada pela equipe de monitoramento embarcado do instituto e foi possível realizar cortes e remover completamente cerca de 27 metros do petrecho. Essa é a baleia encontrada na quinta-feira passada.

Segundo o instituto, as técnicas de resgate seguem protocolos internacionais de segurança desenvolvidos por instituições como o Center for Coastal Studies (EUA) e adaptados ao Brasil com treinamentos promovidos pelo CMA-ICMBio, o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos, ligado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente).

O procedimento envolve o uso de embarcações de pequeno porte e ferramentas adaptadas, que permitem cortar as redes sem a necessidade de contato direto com o animal —o que evita riscos tanto para a baleia quanto aos socorristas. A aproximação é feita de forma progressiva, observando o comportamento do animal e priorizando sua segurança.

Segundo Carla Beatriz Barbosa, bióloga coordenadora do instituto, o emalhe acidental de baleias ocorre principalmente devido à sobreposição das rotas migratórias desses animais com áreas de atividade pesqueira. “Por isso, ações integradas de monitoramento, resposta emergencial e educação ambiental são essenciais para mitigar os impactos sobre a biodiversidade marinha”, afirma.