SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar ronda a estabilidade e a Bolsa está em alta nesta terça-feira (22), com os investidores na expectativa de novas informações sobre os acordos comerciais entre EUA e vários países, incluindo o Brasil, que passará a ter sobretaxa de 50% a partir de 1º de agosto.
Às 12h47, a moeda norte-americana tinha uma variação negativa de 0,10%, cotada a R$ 5,559. No mesmo horário, a Bolsa tinha alta de 0,63%, a 135.012 pontos.
Na segunda-feira (21), o dólar fechou com uma queda de 0,42%, cotado a R$ 5,565, com os investidores ainda atentos aos impactos das medidas do governo dos Estados Unidos contra o Brasil.
No exterior, o dólar tem sinais mistos ante as demais divisas, com investidores à espera dos desdobramentos das negociações comerciais norte-americanas, cujo prazo é de 1º de agosto para boa parte dos países.
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, disse que se reunirá com seu colega chinês na próxima semana e discutirá o que provavelmente será uma prorrogação do prazo neste caso, de 12 de agosto para tarifas mais altas para a China. Bessent disse ainda que os EUA estão prestes a anunciar “uma série de acordos comerciais” com outros países.
O caso do Brasil, no entanto, segue sem avanços claros. Em Brasília, o governo Lula se prepara para o dia 1º de agosto, quando começa a cobrança da tarifa de 50% dos EUA sobre os produtos brasileiros.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, que está no centro do atrito entre EUA e Brasil, tem 24 horas para prestar esclarecimentos, por meio de seus advogados, ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes sobre o que o magistrado classificou como descumprimento das medidas cautelares impostas na semana passada.
Na sexta passada, Moraes determinou que Bolsonaro terá de usar uma tornozeleira eletrônica, está proibido de usar as redes sociais e deve ficar recolhido em domicílio entre 19h e 6h de segunda a sexta e em tempo integral nos fins de semana e feriados. Moraes também proibiu a transmissão ou veiculação de áudios e vídeos de entrevistas do ex-presidente nas redes sociais.
Em resposta, os EUA restringiram vistos para autoridades do Judiciário brasileiro e seus familiares imediatos, citando novamente objeções aos processos legais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A dificuldade do Brasil em negociar passa pelo fato de Trump estar exigindo como contrapartida o fim do julgamento de Bolsonaro no STF por tentativa de golpe de Estado. A questão é do campo jurídico, e não do comercial.
Investidores temem que tudo isso possa levar Trump a adotar uma postura mais agressiva em relação às tarifas aplicadas ao Brasil.
Em entrevista à rádio CBN na segunda, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva insistirá na negociação comercial com os EUA, mas não descarta a possibilidade de não haver resposta dos EUA até 1º de agosto, data prevista para iniciar a sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros.
Haddad afirmou ainda que o governo avalia implementar instrumentos de apoio a setores da economia impactados pela tarifa dos Estados Unidos, acrescentando que não necessariamente haverá impacto fiscal com a implementação dessas medidas.
“Pode ser que nós tenhamos que recorrer a instrumentos de apoio a setores que injustamente estão sendo afetados”, disse ele, sem detalhar as possíveis ações.
“Não vamos nos apressar para fechar acordos”, disse Bessent em uma entrevista à CNBC, referindo-se às negociações com os diversos países. Questionado se o prazo de 1º de agosto para os países fecharem um acordo comercial poderia ser prorrogado no caso de quem já está envolvido em negociações produtivas com Washington, Bessent afirmou que Trump é quem decidirá sobre isso.
Enquanto isso, negociações comerciais estavam no radar, conforme diplomatas disseram que a União Europeia está explorando medidas “anti-coerção” abrangentes que permitirão que o bloco vise serviços dos EUA ou restrinja o acesso a licitações públicas na ausência de um acordo.
Trump ameaçou impor tarifas de 30% sobre produtos da Europa se nenhum acordo for assinado antes do prazo final de 1º de agosto.
A queda do dólar na segunda seguiu em linha com a desvalorização da moeda norte-americana ante a maior parte das divisas, diante da cautela dos mercados sobre os desdobramentos da guerra comercial dos EUA com diversos países. Ao fim do pregão, o índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a outras seis moedas, caía 0,59%, a 97,88.
Já a Bolsa fechou com um ganho de 0,58%, a 134.166 pontos, influenciada pelo bom desempenho da Vale. Os papeis da empresa subiram 2,73% em razão do avanço dos futuros do minério de ferro, que atingiram as máximas em quase cinco meses.
Na sessão de véspera, o dólar recuperou as fortes perdas registradas na sexta-feira, quando encerrou com uma forte alta de 0,75%, cotado a R$ 5,588, maior nível desde 4 de junho. Já na máxima intradiária daquele dia, chegou a subir 0,93%, a R$ 5,598.
A recuperação também ocorreu com a Bolsa. Na semana passada, o índice acumulou perda de 2% em meio a preocupações em torno das relações tensas entre Brasil e Estados Unidos.