SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O setor pesqueiro vê a maré virar e precisa correr atrás de desafetos para não perder a lucratividade, China começa as obras da maior usina hidrelétrica do mundo e outros destaques do mercado nesta terça-feira (22).

**O MAR NÃO ESTÁ PARA PEIXE**

O leitor pode estar cansado de ler sobre a taxa de 50% imposta por Donald Trump às importações brasileiras para os EUA a partir de 1º de agosto. A questão é que as consequências desse tarifaço vão aparecendo aos poucos e é melhor digeri-las em doses homeopáticas. Hoje, vamos falar sobre mais um aspecto do problema.

Ainda que não tenha entrado em vigor, a medida já congelou a comercialização de produtos entre importadores americanos e produtores brasileiros. A Abipesca (Associação Brasileira da Indústria da Pesca) disparou pedidos emergenciais ao governo federal na tentativa de minimizar os impactos causados pela sobretaxa.

A ideia do setor é que o governo opte por um dos dois caminhos: reverta o tarifaço de Washington ou viabilize a reabertura do mercado europeu ao pescado brasileiro.

Ainda, a associação pediu formalmente ao governo que libere uma linha emergencial de crédito de R$ 900 milhões.

NO FREEZER

As exportações de pescado do Brasil para a União Europeia estão suspensas desde 2018, quando uma auditoria do bloco europeu apontou deficiências nos controles oficiais, além de infraestrutura e higiene inadequadas.

Em resposta à auditoria, o Mapa (Ministério da Agricultura) suspendeu temporariamente e de forma voluntária a emissão de certificados sanitários para exportação à União Europeia, visando evitar que o bloco impusesse a proibição por conta própria. As vendas, porém, não foram retomadas até hoje.

QUEM NÃO ARRISCA, NÃO PETISCA

Diante do novo cenário com o mercado americano, o setor pesqueiro quer retomar o contato com os europeus. Os empresários acreditam que o bloco composto por 27 países é o único com capacidade de absorver de forma imediata os produtos brasileiros.

Poder vender para os europeus seria uma vantagem e tanto para a pesca do Brasil –seria abrir a possibilidade de ter um setor a menos prejudicado pelo tarifaço.

Estima-se que haja cerca de R$ 300 milhões em produtos de pescado distribuídos entre pátios portuários, indústrias e embarcações, prontos para exportação ou prestes a iniciar esse processo.

**ÁGUA PARA TODOS OS LADOS**

Começou, na China, a construção daquela que pode ser a maior usina hidrelétrica do mundo. Quem deu a notícia foi o primeiro-ministro do país, Li Qiang.

O início do projeto hidrelétrico, o mais ambicioso da nação desde a usina de Três Gargantas no Yangtze, foi considerado pelos mercados chineses como prova de estímulo econômico, impulsionando os preços das ações e os rendimentos dos títulos ontem. Pelo menos, esta é a leitura que o governo chinês faz da situação.

PRODUZ QUANTO?

A capacidade é de 300 bilhões de quilowatts-hora de eletricidade por ano.

Isso equivale à quantidade de eletricidade consumida pelo Reino Unido em 2024.

Ela poderá gerar de 233% a 300% mais eletricidade do que Itaipu.

ONDE FICA?

Na borda Leste do Planalto Tibetano. A barragem vai ficar na parte inferior do rio Yarlung Zangbo, o maior do Tibete e o quinto maior da China. Nesta área, há uma queda de 2.000 metros com extensão de 50 km, o que cria potencial para a produção de energia hidrelétrica.

Usinas deste tipo usam a energia cinética da queda da água em turbinas e transformam-na em energia elétrica.

O lado bom: Pequim afirmou que a hidrelétrica ajudará a atender à demanda de energia no Tibete e no resto da China sem afetar muito o abastecimento de água ou o meio ambiente. As operações estão previstas para a década de 2030.

O lado ruim: Vizinhos da obra, Índia e Bangladesh já demonstraram estar preocupados com o possível impacto do projeto na parte do rio que está depois da barragem. A obra pode diminuir o fluxo de água na região, prejudicando a irrigação e a atividade agrícola.

ONGs regionais também alertam sobre o risco de perda da diversidade de fauna e flora locais devido às alterações significativas no ambiente provocadas por uma obra desse porte.

**MAIS QUE AMIGOS, HERMANOS 🇦🇷**

Já são 590 dias de Javier Milei no comando da Argentina. Nesse período, muita coisa mudou no país vizinho: ele impôs um duro corte de gastos e esfriou a atividade econômica. O resultado é a melhora de indicadores como a inflação e a piora da qualidade de vida de camadas mais pobres da população.

Sob a promessa de recuperação da movimentação da economia, algumas empresas brasileiras voltaram a olhar para os hermanos e estão aumentando –cautelosamente–o número de funcionários e de lojas por lá. O mundo ainda não segue a tendência.

NÓS E ELES

Em 2024, o primeiro ano em que o presidente ultraliberal governou por completo, o fluxo de investimentos diretos do Brasil na Argentina foi de US$ 131,4 milhões (R$ 731 milhões). O valor representa uma alta de 66,8% em relação a 2023.

PESOU NO BOLSO

Em 2022 e 2023, Buenos Aires e outros destinos do país eram relativamente baratos para viajantes brasileiros. As mudanças de Milei deixaram as férias lá muito mais caras para os turistas daqui.

Ainda assim, o faturamento do setor turístico com o intercâmbio entre os dois países não esfriou –agora, eles são quem estão aproveitando preços melhores do que a média para visitar cidades brasileiras.

“Temos as maiores empresas de turismo do Brasil e da Argentina. Se a gente não está vendendo para que os brasileiros viajem para a Argentina, a gente está vendendo na Argentina para que eles venham ao Brasil. De algum jeito, ganhamos”, diz à Folha de S.Paulo o CEO da CVC, Fábio Godinho.

NEM TUDO SÃO FLORES

Os números ainda estão muito distantes do pico de investimentos brasileiros em 2018, de US$ 1,18 bilhão, quando o então presidente Mauricio Macri conseguiu um empréstimo do FMI (Fundo Monetário Internacional), como Milei acabou de conseguir em abril.

Os eventos semelhantes não geraram reações iguais: agora, os investidores entram devagar no país, mesmo com o apoio da instituição internacional.

↳ Em 2024, multinacionais de diferentes países retiraram investimentos da Argentina. Ao menos sete grandes empresas deixaram a nação nos últimos meses –entre elas, Clorox, Xerox, HSBC, Prudential Financial, P&G e Raízen.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

Sem salvação. As gigantes da saúde Fleury e Rede D’Or negam que tenham alcançado um acordo de combinação de negócios.

Apertando laços. O Ministério da Fazenda anunciou que o Brasil terá uma representação tributária na China –mais um reflexo da aproximação entre as nações.

De mala e cuia. O vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, cogita a formação de uma comitiva para negociar o tarifaço nos Estados Unidos.

Não foi dada a largada. Para Lula, a guerra comercial contra os Estados Unidos só começa quando o Brasil responder às tarifas.