SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Até o início deste mês, o setor de rochas ornamentais comemorava um bom ano: um faturamento 24% maior em relação a 2024 e a projeção de um recorde de exportações para 2025. O cenário mudou drasticamente no dia 9 de julho, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma sobretaxa de 50% para os produtos brasileiros.

Duas semanas depois, o setor ainda está tentando processar o alcance do impacto negativo da decisão, que é má notícia em dobro para essas empresas. Quase metade da receita vem das vendas externas, e os Estados Unidos responderam por 65,4% do total exportado em 2024, como mostram dados levantados pela reportagem.

“Não sabemos o que vai acontecer. Uma taxa de 50% inviabiliza exportações”, afirma Fábio Cruz, vice-presidente do conselho da Centrorochas (Associação Brasileira de Rochas Naturais), que estima que o setor empregue 450 mil funcionários direta ou indiretamente.

A entidade representa empresas que produzem chapas de rochas semiacabadas, produtos que são usados em reformas ou que se transformam em bancadas de cozinha nos EUA. “Levamos décadas para nos consolidar no mercado americano, e hoje somos o principal fornecedor dos Estados Unidos”, diz Cruz.

O cenário mais provável, na avaliação da entidade, é conseguir renegociar para que a tarifa pelo menos se equipare à cobrada de concorrentes como a União Europeia, que hoje pagam 30%. “Se chegarmos nisso, pelo menos estaremos de igual para igual”.

Segundo o executivo, o setor está em conversas com o governo brasileiro e em contato também com os importadores de rochas ornamentais nos Estados Unidos. “Queremos que o prazo seja pelo menos prorrogado”, diz ele. “Entidades que representam importadores estão em Washington, apresentando um pleito para abrir exceção para o nosso setor”.

Segundo a associação, 1.140 contêineres deixarão de ser embarcados em julho, uma perda de cerca de US$ 38 milhões. Cruz aponta que, se a renegociação não for possível, o impacto negativo sobre o segmento será considerável.

“Teremos que nos readequar, porque não conseguiremos desovar produto em novos mercados com facilidade. Será um caminho longo que teremos que percorrer.”

Guardadas as devidas diferenças entre os setores, é um nível de incerteza parecido com o da Embraer, a maior exportadora de aeronaves do Brasil –o segmento é o segundo mais dependente dos Estados Unidos, ao destinar 61,7% das suas exportações para território americano em 2024.

Não por acaso, o presidente da fabricante, Francisco Gomes Neto, já afirmou que a tarifa de Trump pode ter impacto negativo similar ao da pandemia de coronavírus sobre os negócios. A empresa projeta um custo de R$ 2 bilhões em pagamento de tarifas somente neste ano. De acordo com Neto, o impacto pode chegar a R$ 20 bilhões até 2030 e gerar demissões.

Outro caso dramático é o do segmento de peixes, crustáceos e moluscos, que enviou 60,8% da sua produção aos Estados Unidos no ano passado.

Na semana retrasada, apenas um dia depois de Trump anunciar a sobretaxa de 50% para o Brasil, um total de 58 contêineres frigoríficos em portos do Nordeste, carregados com cerca de mil toneladas de peixes, deixaram de embarcar para o país.

O setor pesqueiro brasileiro movimenta cerca de R$ 20 bilhões por ano. A cadeia produtiva da exportação de pescados no Brasil gera 5.900 empregos diretos nas indústrias e cerca de 38 mil empregos indiretos, envolvendo pescadores artesanais e aquicultores familiares.

PAUTA DIVERSIFICADA

Levantamento do Icomex (Indicador de Comércio Exterior), da FGV/Ibre, reforça que o problema desses setores atinge uma grande variedade de empresas, já que a pauta exportadora para os Estados Unidos é bastante diversificada.

Os números do estudo revelam que 10 produtos explicaram 57% das exportações brasileiras para o mercado americano em 2024, enquanto no caso da China, por exemplo, apenas três produtos (petróleo, soja e minério de ferro) responderam por 96% das exportações brasileiras no ano passado.

Em 2023, 9.553 empresas brasileiras exportaram para os Estados Unidos, segundo os últimos dados disponibilizados pela Amcham (Câmara Americana de Comércio para o Brasil). De acordo com a entidade, os EUA só perdem para o Mercosul no ranking de destinos com a maior quantidade de empresas exportadoras.