SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar opera em queda nesta segunda-feira (21), enquanto a Bolsa registra alta, com os investidores ainda atentos aos desdobramentos das medidas do governo dos Estados Unidos contra o Brasil, enquanto no exterior a moeda norte-americana caía ante a maior parte das demais divisas.
Em entrevista à rádio CBN nesta manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva insistirá na negociação comercial com os Estados Unidos, mas não descarta a possibilidade de não haver resposta dos EUA até 1º de agosto, data prevista para iniciar a sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros.
Às 13h, a moeda norte-americana tinha oscilação negativa de 0,66%, a R$ 5,550. No mesmo horário, a Bolsa tinha uma forte alta de 1,03%, a 134.758 pontos.
Haddad afirmou ainda que o governo avalia implementar instrumentos de apoio a setores da economia impactados pela tarifa dos Estados Unidos, acrescentando que não necessariamente haverá impacto fiscal com a implementação dessas medidas.
“Pode ser que nós tenhamos que recorrer a instrumentos de apoio a setores que injustamente estão sendo afetados”, disse ele, sem detalhar as possíveis ações.
Na sexta-feira, na mais recente medida contra o Brasil, os EUA restringiram vistos para autoridades do Judiciário brasileiro e seus familiares imediatos, citando novamente objeções aos processos legais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Além das medidas já tomadas, investidores estarão atentos nesta semana a possíveis novas ações dos Estados Unidos contra o Brasil, que podem impactar o câmbio.
“Há promessa de novas sanções contra o Brasil, que seriam anunciadas ao longo da semana. A imprensa cogita aumento das tarifas para 100%, imposição da Lei Magnitsky para algumas autoridades, proibição de aviões brasileiros sobrevoarem os EUA e até mesmo o desligamento do GPS e descredenciamento do sistema Swift”, disse o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior.
Não é possível saber o que acontecerá. Mas o cenário piorou muito e escala rapidamente. Observamos que alguns bancos estrangeiros retiraram recomendações de venda de dólar e aplicações em taxa prefixada”, afirmou.
Do lado norte-americano, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou nesta segunda-feira que o governo está mais preocupado com a qualidade dos acordos comerciais do que com o tempo.
“Não vamos nos apressar para fechar acordos”, disse Bessent em uma entrevista à CNBC, referindo-se às negociações com os diversos países. Questionado se o prazo de 1º de agosto para os países fecharem um acordo comercial poderia ser prorrogado no caso de quem já está envolvido em negociações produtivas com Washington, Bessent afirmou que o presidente dos EUA, Donald Trump, é que decidirá sobre isso.
Já na frente dos dados, economistas reduziram pela oitava semana consecutiva a previsão da inflação para este ano e mantiveram a perspectiva para o PIB (Produto Interno Bruto), a taxa de juros e o dólar.
O boletim Focus divulgado nesta segunda-feira mostra que os analistas ouvidos pelo Banco Central estimam que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) terminará 2025 a 5,1%, uma queda de 0,07 ponto percentual em relação ao levantamento da semana passada. É a maior redução desde 16 de junho, quando houve uma diminuição de 0,19 ponto percentual.
O boletim indica que os especialistas não acreditam que a sobretaxa de 50% que o governo de Donald Trump promete impor sobre os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto terá muito impacto na economia nacional.
Além da queda da inflação, os analistas mantiveram a previsão para o PIB, Selic e dólar.
Na sexta-feira, o dólar encerrou a sessão com uma forte alta de 0,75%, cotado a R$ 5,588, maior nível desde 4 de junho, quando fechou em R$ 5,645.
A avanço foi na contramão da desvalorização da divisa dos EUA no mercado externo. Na semana, a moeda norte-americana acumulou alta 0,75%.
Já a Bolsa despencou 1,61%, a 133.381 pontos. Na mínima do pregão, chegou a 133.295 pontos, menor patamar intradiário desde 7 de maio, e, na máxima, atingiu 135.562 pontos. Na semana, a perda acumulada foi de 2,07%.
Com uma agenda econômica esvaziada no Brasil, sem a divulgação de indicadores econômicos, o mercado se voltou para o noticiário político interno.
A operação da PF (Polícia Federal) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro gerou apreensão entre os investidores, que temem que isso possa levar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a adotar uma postura mais agressiva em relação às tarifas aplicadas ao Brasil.
Bolsonaro terá de usar uma tornozeleira eletrônica, está proibido de usar as redes sociais e deve ficar recolhido em domicílio entre 19h e 6h de segunda a sexta e em tempo integral nos fins de semana e feriados.
O mercado avaliou os potenciais efeitos da operação contra o ex-presidente na disputa comercial entre Brasil e EUA. Há um receio por parte dos agentes financeiros de que Trump possa retaliar o Brasil, ampliando seu ataques comerciais, o que deu força ao dólar ante o real. Na máxima do dia, a moeda chegou a subir 0,93%, a R$ 5,598.
Na última sessão, os investidores também repercutiram as últimas declarações de Lula e Trump sobre a sobretaxa de 50% que será aplicada pelos EUA ao Brasil a partir de 1º de agosto.
Na noite de quinta-feira (17), Lula disse em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão que a decisão de Trump é uma chantagem inaceitável. O petista também criticou políticos favoráveis à sobretaxa, chamados por ele de “traidores da pátria”, e disse que todas as empresas, nacionais ou estrangeiras, devem cumprir as regras do país.
Trump havia mandado uma carta ao ex-presidente Jair Bolsonaro em que diz estar vendo “o tratamento terrível” que o aliado estaria recebendo em “um sistema injusto” que se v oltou contra ele. “Este julgamento deve terminar imediatamente!”, afirmou Trump em documento publicado na conta da sua rede social Truth Social.
Já no cenário externo, Trump voltou a ameaçar impor tarifas aos membros do Brics e disse que o grupo acabaria “muito rapidamente” se algum dia eles se formassem de modo significativo.
“Quando ouvi sobre esse grupo do Brics, seis países, basicamente, eu os ataquei com muita, muita força. E se algum dia eles realmente se formarem de modo significativo, isso acabará muito rapidamente”, disse Trump, sem mencionar os nomes dos países.
Trump também está pressionando por tarifas de 15% a 20% sobre a União Europeia.
Diante disso, os mercados globais analisam o impacto das tarifas de Trump sobre a atividade econômica nos EUA, com dados recentes demonstrando uma certa resiliência da maior economia do mundo.