SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Disparos feitos pelo Exército israelense perto de centros de distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza deixaram 93 palestinos mortos e dezenas de feridos neste domingo (20), segundo a Defesa Civil do território, controlada pelo Hamas. De acordo com o porta-voz do órgão, Mahmoud Bassal, as pessoas esperavam por ajuda em diversos locais nas regiões norte, noroeste e sudoeste da faixa.
O Programa Mundial de Alimentos da ONU (Organização das Nações Unidas) afirmou que uma de suas caravanas de 25 caminhões com alimentos entrou no norte de Gaza na manhã neste domingo e viu “imensas multidões de civis famintos que recebiam disparos”.
À agência de notícias AFP, o Exército israelense negou o balanço divulgado pela Defesa Civil de Gaza e disse ter feito “disparos de alerta para evitar uma ameaça imediata que pesava sobre ele, diante da aglomeração de milhares de pessoas”.
“Havia milhares de pessoas reunidas, todas em busca de farinha. Os tanques dispararam a esmo contra nós, e os atiradores de Israel abriram fogo como se estivessem caçando animais selvagens na floresta “, afirmou Qassem Abu Khater, 36, homem que estava no ponto de distribuição e disse ter testemunhado as mortes de dezenas de pessoas.
“Perguntamos a nós mesmos: devo voltar com um ferido para salvá-lo, ou com um saco de farinha para salvar minha família e meus filhos? Meu Deus, a que fomos reduzidos?”, acrescentou.
Ataques do tipo viraram rotina desde que a FHG (Fundação Humanitária de Gaza), sistema de distribuição de ajuda apoiado por Israel e Estados Unidos, começou a funcionar. Na última terça-feira (15), o escritório de direitos humanos da ONU em Genebra informou ter registrado 875 assassinatos nas últimas seis semanas nos arredores dos pontos de ajuda, a maioria deles perto de locais de distribuição da FHG.
A fundação, que utiliza empresas privadas de segurança e logística dos EUA para levar suprimentos a Gaza, distribui alimentos aos palestinos desde o fim de maio, quando já lidava com críticas a respeito de seus procedimentos. Às vésperas do início da operação, o então chefe da FHG, Jake Wood, abandonou o cargo sob a justificativa de que a organização não conseguiria aderir aos “princípios humanitários de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência”.
O caos na entrega de alimentos foi previsto pela ONU e por outras entidades que atuam no território palestino e que se recusaram a colaborar com a FHG devido ao seu modo de funcionamento, considerado pouco transparente.
Antes da operação, autoridades israelenses disseram que iriam verificar se as famílias atendidas tinham envolvimento com o Hamas antes de distribuir a comida Tel Aviv afirma que o sistema anterior, liderado pelas ONU, permitiu que membros do grupo terrorista saqueassem carregamentos de ajuda humanitária destinados a civis, o que a facção nega.
Após quase dois anos da guerra de Israel na Faixa de Gaza, a Defesa Civil do território palestino afirma ter constatado um aumento no número de mortes de bebês causadas por fome e desnutrição, e reportou ao menos três mortes de crianças apenas na semana passada. “Nossas crianças morrem e gritam para poder comer. Adormecem famintas”, diz Ziad Mousleh, um pai de 45 anos.