SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil ocupa o 13º lugar no ranking de países com mais subsidiárias de empresas americanas no mundo, posição que contrasta com o discurso do governo Donald Trump de que há discriminação contra seu país no acesso ao mercado local.

Dificuldade para operar no país é uma das alegações feitas pelo USTR (Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos) na investigação aberta na esteira do anúncio da aplicação de sobretaxa de 50% sobre importação brasileiras a partir de agosto, anunciado por Trump.

Enquanto o tarifaço foi justificado politicamente, como uma punição pelo que o presidente americano chamou de caça às bruxas ao aliado Jair Bolsonaro (PL), a investigação dentro da chamada seção 301 pode gerar penalidades mais robustas e duradouras.

Isso porque ela já ocorre dentro de um marco legal consagrado, tanto que o Brasil já foi objeto dela no passado, assim como China e União Europeia. A apuração aponta dificuldades não tarifárias, regulatórias, ambientais e até a pirataria vendida na rua 25 de Março, em São Paulo.

Já a guerra tarifária de Trump é uma operação de vaivém declaratório por redes sociais, de efeitos e validade incertos.

O ranking com os cem países com mais empresas dos EUA foi compilado pela consultoria Moody’s Analytics, a pedido da reportagem. Ele engloba as 178.681 subsidiárias com 25% ou mais de controle acionário de norte-americanos.

Disparados no topo da lista vêm antigos aliados de Washington: o Reino Unido, com 38,6 mil empresas, e o Canadá, com 22,6 mil. O próximo degrau, na casa das 9.000 firmas, é ocupado por Alemanha e Austrália, enquanto Singapura, Itália, Índia, Holanda e China orbitam o campo das 6.000.

Um pouco abaixo vêm Ilhas Cayman (5.269), França (4.988), Noruega (4.688) e, enfim, o Brasil com 4.686. Um grande parceiro comercial americano, México, vem em 15º com 4.233 subsidiárias dentro desse recorte.

Se isso não significa que é fácil trabalhar no Brasil, como qualquer tentativa de abrir ou fechar uma empresa por um empreendedor nativo mesmo comprova, mostra que tais dificuldades não parecem ter coibido o apetite americano no país.

Ele se mostrou crescente nos últimos anos, aqui usando o recorte de subsidiárias de empresas com faturamento líquido igual ou superior a US$ 25 milhões anuais, feito em um ranking de 2009 a 2022 pelo BEA (Escritório de Análise Econômica, na sigla inglesa), órgão do governo americano.

Em 2009, havia 638 dessas empresas estabelecidas no Brasil. O número seguiu algo estável até 2014, quando pulou de 703 para 973, um salto de 38,4%. Curiosamente, a presidente na época era a petista ungida por Lula como sua sucessora no pleito de 2010, Dilma Rousseff.

A recessão sob seu governo e a tumultuada gestão de seu Michel Temer (MDB), que a sucedeu após o impeachment de 2016, contiveram a expansão americana: no ano eleitoral de 2018, havia 979 dessas firmas de maior porte no país.

O alinhamento aos EUA promovido pelo governo Bolsonaro, com Trump ocupando seu primeiro mandato como presidente, retomou levemente o crescimento: em 2022, havia 1.044 empresas. O BEA não tem dados posteriores aos daquele ano.

O argumento da dificuldades no Brasil foi usado também pelo encarregado de negócios da embaixada americana, Gabriel Escobar, durante reunião com empresários promovida pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) na terça (15).

Apadrinhado por Bolsonaro, o governador tenta se equilibrar na crise. Primeiro, culpou Lula pelo tarifaço. Tachado de traidor dos interesses nacionais, buscou dissociar o elemento político da crise e se mostrar como um negociador alternativo para ajudar as empresas paulistas —do estado saem 30% das exportações brasileiras aos EUA.

Fazendo isso, atraiu a ira do bolsonarismo, que depois acomodou-se para não exacerbar o racha na direita. Tarcísio é um dos nomes que pode enfrentar Lula na eleição do ano que vem. Por fim, com a imposição de medidas restritivas a Bolsonaro nesta sexta (18), voltou a defender o ex-chefe, mas sem falar em Trump.

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Empresas americanas no mundo

Brasil é 13º no ranking de presença dos EUA

1º – Reino Unido – 38.598

2º – Canadá – 22.571

3º – Alemanha – 9.359

4º – Austrália – 9.156

5º – Singapura – 6.542

6º – Itália – 6.242

7º – Índia – 6.149

8º – Holanda – 6.080

9º – China – 5.906

10º – Ilhas Cayman – 5.269

11º – França – 4.988

12º – Noruega – 4.688

*13º – Brasil – 4.686*

14º – Luxemburgo – 4.427

15º – México – 4.233

16º – Hong Kong – 3.765

17º – Romênia – 3.484

18º – Jamaica – 3.136

19º – Irlanda – 3.102

20º – Espanha – 3.057

Fonte: Moody’s Analytics