SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A disputa entre as galerias Almeida & Dale, a mais poderosa do Brasil, e a HOA, que chamou a atenção com jovens não brancos queer, ganhou fôlego depois que uma série de artistas afirmaram, neste fim de semana, que foram lesados pela HOA, alegando tiveram obras vendidas pela casa, mas não receberam sua parcela das vendas.
Igi Lola Ayedun, fundadora da HOA, afirma estar sendo atacada pela Almeida & Dale. “A HOA tem um problema financeiro muito grande por causa da inadimplência de outras pessoas que estão fazendo com que nós fiquemos inadimplentes. A partir disso, não temos estrutura para terminar todas as operações logísticas”, diz.
Já a Almeida & Dale diz, em nota, que lamenta “as declarações que deturpam os fatos” e confia na Justiça para que a situação seja resolvida.
Os sócios da Almeida & Dale, Antônio Almeida e Carlos Dale, entraram com um processo para reaver o imóvel atualmente ocupado pela HOA no bairro paulistano da Barra Funda. O galpão, na rua Brigadeiro Galvão, foi alugado de um terceiro pela Almeida & Dale e cedido até 2027 para a HOA, que lá faz exposições de seus artistas há dois anos e meio.
A Almeida & Dale diz que pagou o aluguel do imóvel até o fim do ano passado e que neste ano a HOA deveria ter desocupado o espaço –onde agora ocorre uma exposição de artistas da galeria Ora, parceria da HOA. Mas a HOA não saiu do endereço e não quitou os aluguéis nem o IPTU deste ano, segundo a Almeida & Dale. De acordo com o processo, a que a reportagem teve acesso, a HOA estava ciente de que deveria ter saído do imóvel.
Kelton Campos Fausto diz que tinha dezenas de obras representadas pela HOA. O artista conta que certa vez foi contratado por um colecionador para restaurar uma obra de sua autoria, mas depois se deu conta de que nunca tinha sido pago pela venda desse trabalho. O colecionador afirmou a ele que havia efetuado o pagamento integral à galeria.
Campos Fausto também reclama de falta de transparência. “Tenho obras de que não sei o paradeiro. Não sei se ela vendeu, se ela repassou, se ela sumiu, se elas foram danificadas”, diz.
Ayedun, por sua vez, afirma que a HOA tem um sistema de contratos que permite aos artistas “acompanhar o ritmo das vendas do próprio trabalho”. “Se os artistas não fizeram o próprio controle, não acompanhavam os contratos, não guardavam, obviamente eu não consigo me responsabilizar por isso”, diz.
Ayedun acrescenta que algumas obras que pertencem a artistas que passaram pela HOA “estão no exterior, sob responsabilidade da Almeida & Dale”, e a devolução desses trabalhos já foi solicitada formalmente. Ela diz que todos os artistas que pedem informações sobre o estado ou localização de seus trabalhos recebem as informações.
Samara Paiva é outra a reclamar da HOA. A artista diz que lhe foi prometido um contrato que nunca veio. Ela não chegou a ser representada pela galeria, mas fez colaborações pontuais. Diz que a HOA havia dito que exporia suas obras na SP-Arte, em 2022, sem custos com moldura e enquadramento. Ela ficaria com 60% do valor da venda das obras, e nesse valor estaria embutido todos os custos.
Paiva teria ficado sem resposta da galeria. “Finalmente consegui uma resposta no início deste ano. Eles realmente assumiram que o valor não tinha sido repassado para mim. Pediram para eu emitir nota fiscal”, conta. Ela afirma ter recebido um email, porém, solicitando o cancelamento das notas fiscais antes de receber. “Viram no sistema que era eu que estava a devendo a eles.”
A galeria, segundo a artista, passou então a cobrá-la por um custo relativo a outro evento de arte. Ela diz que a cobrança nunca havia sido feita antes e que nunca foi informada que teria que pagar por isso.
Ayedun também atribui o imbróglio no qual agora se vê envolvida a problemas pessoais. “Passei por um tratamento oncológico muito grave. Ainda estou me recuperando, estou em remissão”, diz ela, que conta ter precisado se afastar de atividades profissionais. “Não podia ter muito contato com tudo que era empresarial, porque isso me gerava um estresse que não era bom para o meu tratamento. Eu não tinha condições físicas, psicológicas e emocionais de trabalhar.”