SANTOS, SP (FOLHAPRESS) – A vitória por 1 a 0 do Santos sobre o Flamengo, na última quarta-feira (16), na Vila Belmiro, decidida com um gol de Neymar, teve a estreia de um jovem de 17 anos em um torneio profissional. Filho de Robinho -ídolo do clube que cumpre desde março de 2024 no presídio de Tremembé pena por estupro coletivo cometido em 2013, na Itália-, Robinho Júnior recebeu elogios por sua participação.
“É muito habilidoso, tem uma finalização de fora da área muito boa. Não é um jogador que se apavora. Tem um futuro muito grande. Também lembra o Neymar pelo biótipo: magrinho e pequeno”, afirmou o técnico Cleber Xavier, que acionou o garoto aos 21 minutos do segundo tempo.
Júnior já havia dado seus primeiros passos no profissional em um amistoso com a Desportiva Ferroviária, em Cariacica (ES), no último dia 10. A aparição chamara a atenção de veículos como o jornal espanhol As, mas o jogo não tinha o peso de um válido pelo Campeonato Brasileiro, que marcou um ponto de virada para um atleta que quase foi dispensado no fim de 2024.
“Ele fazia parte de uma lista de jogadores que não permaneceriam para o ano seguinte. Sempre teve potencial, mas estava abaixo no fim do ano. Avaliamos e mantivemos alguns. Hoje, ele está dando essa resposta”, afirmou José Renato Quaresma, diretor das categorias de base do Santos, à reportagem.
Robinho Júnior é visto como um “autodidata” no futebol por pessoas mais próximas. A habilidade é considerada acima da média, mesmo com um ciclo incomum nas categorias de base, por muitas vezes comprometido por mudanças de clube do pai.
“O Juninho chegou à minha mão com cinco para seis anos, em 2012, e sempre foi absolutamente diferente dos outros. Dizia para ele que precisava ficar com a bola nos pés. Os pais ficavam na bronca, mas eu insistia porque ele tem o drible melhor que o do pai. E tinha uma coragem para tentar que era incrível”, disse Robson Fernandes de Oliveira, primeiro treinador de Júnior no Portuários, clube de Santos.
Oliveira foi escolhido a dedo por Robinho pai. Era um velho conhecido do clube em que o craque teve sua formação no futsal antes da chegada às categorias de base do Santos.
Durante a passagem de Robinho pelo Atlético Mineiro, entre 2016 e 2017, Vivian Guglielmetti, mãe de Júnior e esposa de Robinho, viajava de Belo Horizonte todas as sextas para que o filho jogasse pelo Portuários, em Santos, aos sábados. A rotina foi mantida por mais de um ano.
“A migração para o [futebol de] campo foi feita aos dez anos. Além desse bate e volta de BH, por vezes ele voltava de viagem longa da China com o pai [que defendeu o Guangzhou em 2015] e já treinava no mesmo dia. Passava as férias todas comigo”, lembrou Oliveira.
A prisão do pai, contudo, mexeu com jovem em 2024. Desde o episódio, o clube escalou psicólogos para monitorar seus passos, temendo um declínio. Em março do ano passado, ele utilizou as redes sociais publicando diversas fotos respondendo a comentários sobre a prisão.
“‘Meu sonho é ser rico’, ‘meu sonho é ser médico’… Sabe qual é o meu sonho? Que todos saibam a verdade e que minha família possa viver em paz”, disse na ocasião. “É triste ver marmanjos de 30 anos comentando em um vídeo, xingando um menino de 16 anos. Espero que entendam, e Deus abençoe.”
No Santos, a ordem da vez é blindá-lo. O jogador não deve conceder entrevistas exclusivas e ainda é tratado como um atleta sub-20 em transição, não como um profissional, embora haja euforia por parte da torcida.
Há preocupação, principalmente, com um déficit físico com relação aos demais jogadores de sua idade e principalmente aos atletas profissionais.
“Todo atleta sub-20, caso não vá para o jogo do profissional, desce para jogar. Isso é regra nessa gestão. Veja o Luca Meirelles, o Gustavinho, o Alencar… Ele tem muito potencial e futuro, mas ainda o vejo como um nome muito promissor em formação. A torcida precisa ter paciência, temos 14 atletas sendo preparados para servir ao profissional, e ele é um deles”, explicou Quaresma.
De acordo com o técnico Elder Campos, o jogador precisou se reinventar na transição da categoria sub-15 para a sub-17, justamente por ser mais franzino que os demais.
“A técnica dele casa muito com um estilo que o Santos procura. É leve, veloz, tem o drible. Mas, como tem a maturação tardia, sofreu um pouco fisicamente no sub-17. Aos poucos foi ganhando espaço, ganhando minutagem, porque entendeu rapidamente como solucionar isso: fez a leitura de soltar a bola mais rapidamente, algo incomum para a idade”, disse Campos.
“Ele desenvolveu isso para fugir do contato e acabou também aprendendo a jogar em outras posições, isso confunde o adversário. Pode atuar pela ponta direita, pela esquerda, de falso 9 ou como meia”, acrescentou o treinador.
O Santos há alguns anos tirou de seu museu imagens de Robinho e evita promover seu nome em menções a antigos títulos conquistados. Partiu dos próprios dirigentes do clube, contudo, a ideia de oferecer a Robinho Júnior a camisa 7 usada pelo pai.
O jovem conta com o apadrinhamento de Neymar, que prometeu cuidados semelhantes aos que recebeu de Robinho quando foi seu companheiro, em 2010. Ao final da estreia, Neymar não poupou elogios ao garoto.