SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Praias charmosas, joias brilhantes, looks discretos e de muito glamour. Luxo não descreve a riqueza à vista no filme “O Brilho do Diamante Secreto”, que se passa na exuberante Côte d’Azur. Mas o litoral francês paradisíaco passa um tanto batido na pirotecnia visual da produção, que enche uma trama de espionagem de momentos para lá de extravagantes.

O longa já é bonito de se ver mesmo antes da fortuna dos personagens dar as caras. Cores saturadas e movimentos agressivos de câmera se multiplicam em cenas que mais parecem uma orgia de experimentos estéticos.

Em vários momentos, a obra mais parece uma aventura clássica de James Bond que se perde nos pequenos prazeres de um zoom nos olhos ou em detalhes da violência. O som goza dos mesmos prazeres -as roupas de couro, frequentes no figurino, gritam em toda torção.

Nesse balé para os sentidos, a história vira brincadeira de criança, revirando clichês e elementos dos filmes de ação dos anos 1960 e 1970. A premissa envolve um espião aposentado atrás de uma vilã do seu passado, mas vira um pesadelo de memórias em forma de bacanal visual.

Essa descrição cai como uma luva ao trabalho dos diretores do filme, Hélène Cattet e Bruno Forzani. O casal franco-belga trabalha há quase 20 anos com um cinema mais estiloso, obsessivo na estética e fascinado por gêneros cinematográficos específicos. Dos quatro longas que produziram, por exemplo, dois são gialli, um braço do horror italiano.

A mistura já conquistou o circuito dos festivais. “O Brilho do Diamante Secreto” esteve na mostra principal do último Festival de Berlim, brigando pelo Urso de Ouro.

“Nós gostamos de se comunicar com a plateia pelas sensações e pela intuição”, afirma Cattet em conversa por videochamada. “Não é algo cerebral ou intelectual, mas físico, bastante visceral. A gente procura por uma linguagem sensorial, que nos permita falar com qualquer pessoa no planeta.”

A dupla cita a sensação de um orgasmo como objetivo e diz que tenta trazer à tona o êxtase com o cinema que sentiam quando eram crianças. Eles só se conheceram no fim dos anos 1990, mas nasceram no mesmo ano e cresceram durante os anos 1970, quando o cinema europeu vivia um auge nas produções de ação e de terror.

As histórias de assassinato, faroeste e perseguições policiais formaram o casal, que agora retorna a essas obras como fonte de inspiração. “Estes filmes dos anos 1960 e 1970 tinham uma abordagem artística imensa, então você tinha tanto a parte divertida do gênero quanto um aspecto experimental”, diz Forzani.

O cineasta cita mestres como Sergio Leone, Dario Argento e Mario Bava como inspirações. “Todos os códigos que eles usavam eram muito gráficos, iam além do narrativo. Quando se usa esse código, você vai muito além de um faroeste ou de um giallo. Nós gostamos muito disso, porque é criativo e divertido.”

Toda essa experimentação é pensada já na escrita do roteiro, que a dupla assina desde o primeiro longa, “Amer”, de 2009. Eles decidem primeiro o gênero que querem fazer e depois como reutilizar os elementos tradicionais daquele tipo de história.

Com “O Brilho do Diamante Secreto”, a inspiração foram os primeiros filmes de James Bond e as cópias da série feitas na época. O longa também brinca com “Diabolik”, clássico europeu dos quadrinhos italianos, reproduzindo o macacão de couro icônico do personagem na misteriosa antagonista.

Mas a peça fundamental do projeto foi Fabio Testi, protagonista da trama e um dos nomes marcantes da geração de cinema europeu que formou Cattet e Forzani. O filme foi escrito em torno do veterano de 83 anos, que topou o convite de sair da aposentadoria após se encontrar com o casal.

A ideia do projeto surgiu quando a dupla viu a sua participação no longa “Caminho para o Nada” em 2011, usando um terno e chapéu panamá branco. “A gente ficou impressionado com o quanto ele lembrava uma mistura do Sean Connery quando idoso com o protagonista de ‘Morte em Veneza’. Eram dois tipos de cinema opostos e quisemos fazer essa mistura”, afirma Cattet, citando o clássico de Luchino Visconti.

Segundo Forzani, o ator também ficou empolgado com a ideia de fazer um filme rodado em película, outra constante no trabalho da dupla. “Ele chegou a nos dizer: ‘O que? Ainda tem gente que filma em película?’. Fazia anos que não trabalhava com o formato.”

Para os diretores, a proposta de escrever um filme a partir de um ator celebrado foi uma maneira de continuar a renovar o prazer com a profissão. Forzani diz que o casal entrou em crise artística ao concluir o seu segundo filme, o terror “A Estranha Cor das Lágrimas do seu Corpo”, em 2013.

“Nós trabalhamos naquele filme durante dez anos e no fim estávamos brigados, não conseguíamos mais trabalhar juntos”, diz o diretor. A solução veio em “Cadáveres Bronzeados”, lançado em 2017 e exibido no Festival do Rio, que adapta um livro querido pela dupla e se inspira nos faroestes italianos.

“O filme nos fez sair do terror e trabalhar com outro gênero. A gente descobriu algo novo no processo, a Hélène viu naquela violência toda uma performance, e a gente aprendeu muita coisa explorando aquilo. Isso nos permitiu continuar o trabalho juntos.”

O BRILHO DO DIAMANTE SECRETO

Quando Em cartaz

Onde Nos cinemas

Classificação não informada

Elenco Fabio Testi, Yannick Renier, Maria de Medeiros

Produção Bélgica, Luxemburgo, Itália, França, 2025

Direção Hélène Cattet, Bruno Forzani