SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um lutador que trabalha como segurança é considerado um dos principais suspeitos no envolvimento da morte do empresário Adalberto Amarilio dos Santos Junior, 35, cujo corpo foi encontrado em um buraco no autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo, no começo de junho.
Leandro de Tallis Pinheiro, 45, foi preso durante operação de busca e apreensão realizada nesta sexta-feira (18) por policiais do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), da Polícia Civil.
Ele foi detido porque a polícia encontrou 21 munições de calibre 38 no imóvel do lutador. Leandro pagou fiança de R$ 1.800 e foi solto depois. A reportagem não conseguiu localizar a defesa.
A principal linha de investigação continua concentrada em seguranças, cerca de 180, que trabalharam no evento do qual o empresário participou, em Interlagos, no fim de maio. A empresa responsável pela segurança era a ESC Fonseccas Segurança.
A reportagem tentou contato com a empresa na noite desta sexta, mas não localizou nenhum representante.
A polícia chegou a Leandro após depoimentos de outros seguranças, que mencionaram o nome dele durante a conversa com policiais. Chamou a atenção o fato de ele não constar em uma lista enviada pela empresa de segurança com as pessoas que trabalharam no evento.
“Foram conduzidas quatro pessoas para cá. Um representante da empresa e três pessoas ligadas à segurança. Estranhamente, duas dessas três pessoas não estavam na lista que a empresa forneceu de quem estava trabalhando no dia. Eles tinham posição de mando e não foram relacionados”, disse a jornalistas o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, secretário-adjunto de Segurança Pública.
Segundo a polícia, advogados da ESC estiveram no DHPP e pediram para que os quatro permanecessem em silêncio.
“Nós conseguimos uma lista através de investigação e não bateu com a lista que a empresa forneceu. Eles estão na qualidade de investigado, ninguém está culpando ninguém. Não está nada descartado. É um passo a mais que estamos dando”, acrescentou.
Os investigadores ainda chegaram a um outro homem, que também foi mencionado em depoimentos e não estava na lista. Ambos exerciam funções de liderança no dia da morte do empresário.
Leandro era supervisor justamente da área que Adalberto teria tentado acessar para pegar o carro no estacionamento do autódromo, disse a diretora do DHPP, Ivalda Aleixo.
“O lutador, no dia seguinte já não veio mais trabalhar. Ele foi retirado”, disse Gonçalves, situação que gerou mais suspeitas sobre o homem.
Durante as apurações, outros seguranças apresentaram aos policiais celulares com mensagens apagadas, o que também chamou atenção.
No decorrer das buscas nesta sexta no imóvel de Leandro, foram apreendidos cinco computadores e sete celulares, além das munições. Segundo a polícia, ele não disse por que mantinha o armamento.
Além dele, um representante da empresa e mais dois seguranças foram levados para o DHPP. Eles ficaram em silêncio a pedido dos advogados da companhia. Um outro alvo de mandado de busca e apreensão não foi localizado.
Leandro tem passagens pela polícia sob suspeita de furto e associação criminosa e ameaça, de acordo com os investigadores.
O delegado Rogério Thomaz, que coordena a apuração, disse que equipes vão analisar os objetos apreendidos em busca de subsídios para possíveis pedidos de prisões.
Segundo Gonçalves, foi descartado que o sangue encontrado no veículo de Adalberto tenha relação com o dia da morte. O material genético já estaria no carro em uma data anterior.
O empresário foi a Interlagos na companhia de um amigo para participar de um evento de motos, no dia 30 de maio. Eles correram com motocicletas potentes e depois assistiram a um show no local. A dupla se separou quando cada um foi buscar o seu veículo para ir embora. Sobre o que vem depois ainda há muitas perguntas e poucas respostas.
O corpo dele foi encontrado no dia 3 de junho em um buraco em uma área de terra entre o autódromo e o kartódromo.
A perícia realizada no corpo apontou lesões no pulmão compatíveis com asfixia. Com isso, a Polícia Polícia Civil passou a tratar o caso como homicídio. De acordo com o laudo, foi encontrada uma discreta hemorragia recente no pulmão.
Outro exame não encontrou lesões na traqueia do empresário que pudessem levar à morte. Os laudos também não descrevem como o empresário morreu. O corpo não tinha fraturas, apenas uma lesão superficial na pele na altura do joelho, uma espécie de arranhão.
O exame toxicológico não constatou a presença de álcool ou drogas no sangue dele.
Uma das maiores dúvidas sobre o crime é a situação na qual o corpo foi encontrado: sem a calça e sem tênis, com uma uma jaqueta e um capacete -que estava sem a câmera acoplada.
Os policiais já tinham descartado a hipótese de latrocínio (roubo seguido de morte) de início. Isso porque junto com o empresário estava sua aliança de ouro e a carteira com R$ 300 e cartões.
No fim de junho, a mulher do empresário, a farmacêutica Fernanda Dandalo, 34, disse à reportagem só restar “tristeza e dor aos familiares”. “Infelizmente, sem retorno do Estado e dos organizadores [do evento].”