BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Palácio do Planalto tem recomendado cautela a seus ministros ao tratar da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de pôr uma tornozeleira eletrônica no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A orientação do governo Lula (PT) é para que não se dê margem a um discurso de perseguição política, comum entre bolsonaristas.

Os ministros Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e Sidônio Palmeira (Secretaria de Comunicação) têm sido porta-vozes da recomendação. Sidônio, que conversou com o presidente Lula na manhã desta sexta-feira (18), tem orientado para que não se leve o debate para dentro do governo nem se toque no assunto.

O ministro da Secom não tomou a iniciativa de procurar os colegas de Esplanada, mas tem feito a recomendação quando consultado sobre o assunto.

Gleisi, por sua vez, chegou a determinar a exclusão de um post publicado por sua assessoria com alusões à PF e à sexta-feira. “Bom dia PF! Sextou com busca e apreensão na casa do golpista. Grande dia!”.

A ministra disse que não tinha conhecimento da postagem e que não se deve brincar com coisa séria. “O governo está adotando uma postura de sobriedade em relação à situação. É um assunto da justiça, que tem conduzido respeitando o devido processo legal”, afirmou.

“Sobre post que modifiquei: A postagem foi feita sem meu conhecimento. Pedi para alterarem. Lamento que tenha sido feito ironia com assunto tão sério”, acrescentou.

Sem tomar conhecimento da orientação, o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) publicou a notícia nas redes sociais e fez um gracejo, sugerindo que o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) se cuide na volta ao Brasil.

“O bananinha @BolsonaroSP que se cuide porque ao voltar para o Brasil pode ter uma tornozeleira eletrônica esperando por ele aqui”, ironizou.

Minutos depois, Teixeira listou o que, na sua opinião, são indícios de um plano de fuga de Bolsonaro. “1) Dormiu uma noite na embaixada da Hungria em Brasília; 2) o governador @tarcisiogdf foi ao STF pedir a liberação do passaporte de @jairbolsonaro ; 3) seu filho @BolsonaroSP foi aos EUA pedir para @realDonaldTrump pressionar o judiciário brasileiro para absolver @jairbolsonaro”, publicou.

O ministro Luiz Marinho também fez uma postagem sobre a operação. “TOC, TOC, TOC! Agora, um possível plano de fuga ficou mais difícil. O @STF determinou uso de tornozeleira eletrônica no ex-presidente golpista, e a @policiafederal já cumpriu a decisão da Justiça. Como não é uma joia das “Arábias”, não poderá ser desviada nem vendida. #AnistiaNão”, escreveu.

Integrantes do PT têm comemorado nas redes sociais a ação contra Bolsonaro, mas dirigentes do partido têm desestimulado um foco sobre o assunto. “Bolsonaro é problema do Ministério Público e do Judiciário”, disse o presidente eleito do PT, Edinho Silva.

A ideia da cúpula petista é manter o foco do debate público em discussões sobre justiça tributária e soberania nacional.

Essas duas pautas unificaram os discursos do partido e do governo nas últimas semanas e são apontadas como responsáveis pela oscilação positiva na popularidade de Lula detectada em pesquisas de opinião.

Uma semana após o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil e de uma série de declarações da família Bolsonaro e do próprio americano explorando a medida para fazer pressão contra a ação penal da trama golpista em que Jair Bolsonaro é réu, o ex-presidente foi alvo, nesta sexta-feira (18), de operação da PF e terá que usar tornozeleira eletrônica.

As medidas, autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes do STF (Supremo Tribunal Federal), se deram em um procedimento que tramita sob sigilo na corte e que foi autuado e distribuído para o gabinete do ministro em 11 de julho, dois dias depois que Trump anunciou a sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros citando o processo contra Bolsonaro.

Em sua decisão, Moraes afirma que as falas de Bolsonaro e a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos EUA são atentados à soberania nacional.