SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um ato organizado pelo Sindicato dos Comerciários motivado pelas críticas do governo americano à venda de produtos piratas na rua 25 de Março, no centro de São Paulo, buscou convencer trabalhadores sobre a responsabilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro na ameaça de taxação das exportações brasileiras para os Estados Unidos.

Esvaziado, o protesto na manhã desta sexta-feira (18) contou com cerca de cem militantes sindicais que seguiram um pequeno carro de som parando o trânsito por cerca de uma hora. Manifestantes usavam máscaras de Trump e de Jair Bolsonaro.

Menções elogiosas aos Brics e críticas ao sistema financeiro eram gritadas no sistema de som por integrantes das centrais sindicais Força Sindical e UGT União Geral dos Trabalhadores.

A movimentação despertou curiosidade, desconfiança, reclamações e apoios pontuais entre lojistas que a observavam.

“O que tá acontecendo?”, perguntou a vendedora de cigarros eletrônicos e perfumes Brenda Soares, 21. “O Trump tá errado de taxar o Brasil, mas se esse dinheiro voltar pra cá, o Lula também vai roubar”, argumentou o repositor Wagner Pereira, 21.

“Essa coisa [o protesto] é desnecessária, não vai mudar nada”, comentou a administradora de loja Débora Bruning, 39. “Mas é claro que eu não gostei que o Trump veio mexer com a 25 de Março, não tem nada que se meter aqui”, reclamou.

Enquanto o carro de som destacava a força econômica da China em detrimento de eventual perda de protagonismo econômico dos Estados Unidos, a gerente Lorraine Regina, 39, aumentava o volume das caixas que anunciavam a placa alisadora da influenciadora digital Virgínia Fonseca por R$ 29,90. “Tá difícil, já tentei aumentar o volume, mas não dá para competir”, comentou Lorraine. Apesar do transtorno, ela apoia o protesto. “É mentira do Trump que aqui só tem mercadorias falsas”, afirma.

Na calçada, após ouvir um pedestre perguntar se o próprio Lula estaria no carro de som, a analista de marketing Juliana Oliveira, 40, gritou “Bolsonaro”. “Se eu soubesse dessa palhaçada, nem tinha vindo fazer compras hoje.”

Secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, classificou como normal a baixa adesão à um protesto marcado na noite anterior. Para ele, o importante era marcar uma posição e reagir rapidamente às críticas de Trump.

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VEJA TODOS OS PONTOS MENCIONADOS NA INVESTIGAÇÃO DOS EUA

Comércio digital e serviços de pagamento eletrônico: Aponta supostas práticas desleais em relação aos serviços de pagamento eletrônico, incluindo o favorecimento de serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo brasileiro, como o Pix.

Diz de que o Supremo Tribunal Federal brasileiro tornou as empresas de mídia social responsáveis por publicações ilegais de seus usuários, mesmo sem ordem judicial, incluindo uma ampla gama de discursos como o político, o que poderia levar à remoção preemptiva de conteúdo e aumentar o risco de danos econômicos para empresas de mídia social dos EUA.

Cita “ordens secretas” de tribunais para que empresas de mídia social dos EUA censurassem milhares de postagens e desativassem dezenas de críticos políticos, incluindo cidadãos dos EUA, por discurso lícito em solo norte-americano.

Menciona restrições excessivamente amplas à transferência de dados pessoais para fora do Brasil, incluindo para os Estados Unidos, que podem impedir o processamento seguro de dados ou a prestação de serviços a partir de servidores dos EUA.

Tarifas preferenciais injustas do Brasil: Afirma que o Brasil reduziu tarifas de forma injusta e preferencial para certos parceiros comerciais grandes (como Índia e México) em setores específicos, aplicando tarifas mais altas às importações dos EUA, o que desfavorece as exportações dos EUA.

Aplicação da Lei Anticorrupção: Indicações de que os esforços anticorrupção do Brasil enfraqueceram, com promotores se engajando em acordos opacos de leniência e evidências de conflitos de interesse em decisões judiciais, o que pode desfavorecer empresas dos EUA engajadas em comércio e investimento no Brasil.

Proteção da propriedade intelectual: Aponta falha em combater eficazmente a importação, distribuição, venda e uso generalizados de produtos falsificados, consoles de jogos modificados e dispositivos de streaming ilícitos, sem remédios ou penalidades dissuasoras.

Também diz haver falha em combater a pirataria de conteúdo protegido por direitos autorais que impede a adoção de canais de distribuição de conteúdo legítimos, prejudicando os setores impulsionados pela inovação e criatividade dos EUA.

Afirma que a alta pendência média de pedidos de patentes, especialmente para aplicações biofarmacêuticas (quase 7 anos em média, e 9,5 anos para patentes farmacêuticas concedidas entre 2020 e 2024) reduz o prazo da patente.

Acesso ao mercado de etanol: Diz que o Brasil abandonou o tratamento recíproco e virtualmente livre de impostos para o etanol, que promovia o comércio bilateral, e impôs tarifas de importação íngremes e injustas sobre o etanol dos EUA.

Afirma que as exportações de etanol dos EUA para o Brasil caíram significativamente devido a essas tarifas, indicando uma desvantagem considerável para os produtores norte-americanos.

Desmatamento ilegal: Cita falta de fiscalização efetiva das leis e regulamentações ambientais do Brasil, que contribui para o desmatamento ilegal, com terras ilegalmente desmatadas sendo usadas para produção agrícola (pecuária, milho, soja), o que confere uma vantagem competitiva injusta às exportações agrícolas brasileiras.

Afirma haver relatos de níveis significativos de exploração madeireira ilegal, com estimativas de que mais de um terço da madeira amazônica seja de origem ilegal, e o uso de trabalho forçado.

Aponta corrupção no sistema, que permite que madeira colhida ilegalmente seja disfarçada como legal através de documentação fraudulenta e suborno de funcionários brasileiros, entrando no mercado dos EUA a preços mais baixos e criando uma vantagem injusta.