RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Na cidade do Rio de Janeiro e em partes da Baixada Fluminense, pelo menos 35 áreas vivem disputas entre facções criminosas, com tiroteios frequentes. Os principais grupos envolvidos são o Comando Vermelho (CV), o Terceiro Comando Puro (TCP), milicianos e dissidências internas.
A reportagem obteve os registros tanto de disputas entre quadrilhas quanto de ferimentos por balas perdidas, sendo que os conflitos têm reflexo nos registros de baleados.
Nos cinco primeiros meses do ano, houve 335 registros de balas perdidas no estado; destes, 76 foram suspensos após o início das investigações apontarem outros motivos para a causa dos ferimentos, como feminicídio ou autolesão.
Os conflitos afetam diretamente a vida de 2,3 milhões de pessoas que moram nessas áreas conflagradas. A região metropolitana do Rio de Janeiro tem 13,4 milhões na habitantes, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A grande maioria (75%) ocorreu em áreas de conflito ou tem relação com criminosos ligados às facções criminosas.
Em março, no Campinho, zona norte da cidade, durante um confronto entre traficantes e milicianos na madrugada, uma bala perfurou a parede do quarto de um adolescente pela parede e feriu seu braço. Em Duque de Caxias, um homem foi socorrido em fevereiro com três tiros. Há a suspeita de que ele estaria em disputa com outra facção, segundo a investigação.
Já no final de maio, um homem foi baleado durante um assalto na Barra da Tijuca. A investigação aponta que o atirador seria da Muzema, na zona oeste.
De acordo com um morador que pediu para não se identificar, na Serrinha, também na zona norte, os celulares estão sendo revistados aleatoriamente por traficantes. Caso haja referência a facção rival, como um gesto suspeito ou foto, haveria ordem para matar.
Já em Bangu, motoristas de van dizem que são cobrados por diferentes grupos que querem dominar a região do Catiri.
De acordo com um motorista que também pediu para não se identificar, sem pagamento não se trabalha. Segundo ele, a situação teria começado com a morte de Marquinhos Catiri, chefe de milícia, em 2022. Depois, acrescentou, a parte do miliciano no esquema foi vendida para o Comando Vermelho, que também cobra os motoristas. A Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas) apura as denúncias.
Entre outras áreas instáveis na zona norte, estão o Complexo do Alemão, sob controle do CV, mas ameaça constante de milicianos.
No Complexo da Penha, há uma disputa ativa entre o CV e dissidências associadas a milicianos. O Complexo da Maré é dividido entre CV e TCP, com confrontos ocorrendo nas áreas de limite. A disputa se repete em Cidade Alta e em Parada de Lucas.
Vigário Geral, Jacarezinho e Serrinha também vivem conflitos entre os dois grupos. Manguinhos, Mandela e Arará estão sob influência do CV, mas com a presença de dissidências, o que mantém o controle sob constante vigilância. Juramento e Juramentinho vivem disputas diretas entre TCP e CV.
Em regiões como Cajueiro e Cantagalo, o domínio é considerado estável, sob o controle do TCP e do CV, respectivamente. Del Castilho, Costa Barros e Santo Amaro registram instabilidade ou disputas entre CV e TCP. Em Vila Kennedy e Vila Aliança, há conflito entre TCP e CV, com confrontos ativos ou instabilidade territorial.
Já na zona oeste, Senador Camará, Bangu e Realengo são áreas de disputa entre CV e milicianos, em diferentes estágios de conflito. Antares e Inhoaíba vivem conflitos entre TCP e milicianos. Em Santa Cruz e Campo Grande, há confrontos entre milicianos e o CV em regiões como Jesuítas, Aço, Vila Moretti e Guandu.
Gardênia Azul, Rio das Pedras e Muzema estão sob controle de milicianos, mas também há registros de conflitos esporádicos com traficantes. Tijuquinha apresenta instabilidade entre grupos. Pavão-Pavãozinho e Cantagalo são áreas sob domínio do CV, com situação considerada estável.
Na região central, Santo Amaro e Catumbi registram disputas esporádicas ou instáveis entre CV e TCP. Essa foi a justificativa para o Bope (Batalhão de Operações Especiais) realizar uma operação, que terminou com a morte do jovem Herus Guimarães Mendes, que estava em uma festa junina na comunidade. Um policial afirmou que atirou 13 vezes.
“Eles não viram o brilho das fantasias? Eles arrastaram o meu filho baleado pelas escadas”, disse a mãe de Herus, Mônica Guimarães. Duas investigações apuram a morte do jovem.
Em Nova Iguaçu, a região conhecida como KM 32 vive conflito entre milícia e CV. O mesmo ocorre em bairros de Duque de Caxias, como Pantanal e Parque das Missões, e em Belford Roxo, no bairro Santa Rita.
Em nota, a Polícia Militar afirma que há “complexidade da atuação dos policiais no cenário urbano. Ao longo dos 12 meses do ano passado, a corporação apreendeu 6.010 armas de fogo, sendo 638 fuzis, o maior número da série histórica. O montante é superior ao recorde de apreensões desse tipo de armamento até então registrado em 2019, quando 505 fuzis foram apreendidos”.
Ainda segundo a corporação, em 2025, já são mais de 2.000 armas de fogo apreendidas, sendo mais de 300 fuzis.