SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Para terminar a semana pautada pela tarifa de Trump sobre o Brasil, detalhamos o que Lula falou de mais importante sobre o assunto nos últimos dias e outras notícias do mercado nesta sexta-feira (18).
FALA LULA
Enquanto a mensagem do empresariado e de aliados do governo é de parcimônia para lidar com o tarifaço de Donald Trump, Lula não esconde o seu descontentamento.
O presidente fez um pronunciamento em rede nacional ontem para abordar a sobretaxa de 50% imposta pelo líder americano às exportações brasileiras, acompanhada de uma investigação comercial contra o país.
Vamos ao que o chefe do Planalto disse na TV e em outras aparições nos últimos dias.
👑 Presidente, não imperador do mundo… foi como Lula descreveu Trump em entrevista à CNN International, canal americano de notícias.
A fala suscitou uma resposta da Casa Branca: O presidente com certeza não está tentando ser o imperador do mundo. Ele é um presidente forte dos EUA e também o líder do mundo livre.
💻 Sobrou para o Vale do Silício. Na abertura do 60º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), o líder brasileiro disse que planeja tarifar as grandes empresas de tecnologia.
O objetivo não é novo, apesar de ganhar mais destaque no momento. O governo tem planos de taxação de big techs ao menos desde o ano passado.
No vácuo. Lula ainda afirmou que o Brasil não recebeu respostas dos americanos às tentativas de negociação feitas desde o anúncio das primeiras tarifas, no começo de abril.
“A resposta que nós recebemos foi a matéria publicada no jornal dele [Trump], no zap dele, no portal dele. E a carta é o seguinte: ‘Ou dá ou desce. Essa é a lógica da carta, disse.
‘Chantagem inaceitável’. Foi como o brasileiro caracterizou a sobretaxa de 50% sobre os produtos do país em pronunciamento veiculado nas redes nacionais de rádio e TV.
São verdadeiros traidores da pátria. Apostam no quanto pior, melhor. Não se importam com a economia do país e os danos causados ao nosso povo, declarou sobre políticos que apoiaram a decisão dos EUA.
↳ A indireta tem CEP: o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu filho Eduardo, que negocia com correligionários nos Estados Unidos, e outros nomes do campo político da direita.
TAPA BURACO
O Orçamento do governo brasileiro segue aos trancos e barrancos como uma rua esburacada coberta de remendos. Para os passageiros desse ônibus, a jornada fiscal lembra mais um passeio turbulento de montanha-russa do que uma viagem tranquila.
Cálculos do Tesouro Nacional indicam que o Planalto precisará arranjar R$ 86,3 bilhões em receitas extras para alcançar a meta fiscal de 2026 mesmo com a ressurreição do decreto que aumenta o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e, consequentemente, eleva a arrecadação.
↳ Na edição de ontem da newsletter, detalhamos a decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes em derrubar a suspensão da medida presidencial pelo Congresso. Saiba mais aqui.
Como assim? A estimativa leva em conta o esforço necessário para atingir o centro da meta de resultado primário, que é de 0,25% do PIB (Produto Interno Bruto), sem precisar recorrer a congelamentos de gastos para compensar a arrecadação insuficiente.
Nos anos seguintes, o buraco estimado nas receitas é ainda maior: R$ 105,1 bilhões em 2027 e R$ 175,7 bilhões em 2028, considerando os alvos da política fiscal sinalizados no PLDO (Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias) do ano que vem.
↳ Os números dão um indicativo importante sobre o envio do PLOA (projeto de Lei Orçamentária Anual) de 2026, que ocorrerá até 31 de agosto o primeiro rascunho do que deve ser o plano de gastos para o próximo ano.
↳ Na hora de elaborar a proposta de Orçamento, a equipe econômica precisa demonstrar como pretende alcançar o centro da meta, sem margem de tolerância.
Isso significa que o governo tem até o final do mês de agosto (deste ano) para apresentar novas medidas capazes de preencher o buraco na arrecadação.
PAREM AS MÁQUINAS
Era uma vez uma cidade no interior de São Paulo de 126 mil habitantes, chamada Sertãozinho. Lá, funcionou uma usina por 89 anos. Fim da história.
A Raízen, principal grupo sucroenergético do país, anunciou o fim das operações por tempo indeterminado da icônica usina Santa Elisa e a venda de 3,6 milhões de toneladas de cana-de-açúcar.
A decisão faz parte da estratégia de reciclagem do portfólio de ativos para captura de eficiência agroindustrial” da companhia. Uma forma refinada de dizer sair da pindaíba.
💰Devo, não nego. A empresa do bilionário Rubens Ometto atingiu o pior patamar de endividamento desde que abriu o capital na bolsa brasileira, em 2021.
↳ Um levantamento da Elos Ayta Consultoria mostrou que seria necessário que a empresa fosse três vezes maior em patrimônio para conseguir quitar os débitos.
No quarto trimestre de 2024, a dívida bruta da Raízen foi de R$ 64,7 bilhões a dívida líquida foi de R$ 54,8 bilhões.
A companhia é controlada pela Cosan, que também não está no melhor momento.
Ela reportou um prejuízo de R$ 9,4 bilhões no ano passado.
Segundo a empresa, parte do resultado negativo se deve ao desempenho pior que o esperado da Raízen.
PARA LER
Estrada para lugar nenhum: O que o Vale do Silício não entende sobre o futuro dos transportes
Paris Marx. Editora Ubu. 320 páginas.
E se todos os problemas do mundo tivessem uma solução mágica? Aparentemente, é nessa versão da realidade que a indústria da tecnologia quer que você acredite.
Neste livro, o jornalista Paris Marx quer mostrar como a relação entre a política e as grandes empresas é conveniente para todos e, sem pensamento crítico, é fácil acreditar que tudo pode ser solucionado em um passe de mágica.
O principal exemplo da obra é a indústria dos veículos elétricos. Ainda que não liberem tantos poluentes quanto os carros a combustão, eles também geram impactos ambientais.
No entanto, a narrativa das empresas é que esta é a solução sustentável para o futuro do transporte: as montadoras continuam vendendo, o passageiro não precisa abrir mão do conforto e os políticos não precisam se aprofundar em questões ambientais, nem urbanísticas.
Parece tudo bem, exceto que a crise climática continua sem solução e o planeta continua em degradação o que não será resolvido por trocar seu carro antigo por um movido a eletricidade.
↳ A Folha entrevistou o autor da obra e debateu o assunto. Clique aqui para ler a conversa.
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Bala de prata. A venda da usina Santa Elisa é uma forma de tirar uma parte do corpo da areia movediça.
A expectativa da Raízen é ganhar R$ 1,045 bilhão com a venda de cana-de-açúcar própria produzida lá e usar o dinheiro para amortizar os débitos.
Ainda, ao encerrar a operação, ela para de pagar vários fornecedores. Mais um passo em direção à saúde financeira.
↳ A Santa Elisa foi muito importante para o desenvolvimento da região de Ribeirão Preto, que hoje é um polo importante para a cana-de-açúcar. A usina foi instalada depois da crise do café, gerada pela quebra da Bolsa de Nova York, em 1929.