CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil e o Ministério Público do Paraná investigam uma denúncia feita por uma ONG de que uma vereadora de Curitiba teria exibido imagens de abuso sexual infantil durante palestras sobre pedofilia. Oficialmente, os órgãos dizem que o caso é investigado sob sigilo. Uma sindicância chegou a ser aberta na Câmara Municipal, mas foi arquivada.

Procurada pela reportagem desde o último dia 10 por email e telefone, a vereadora Sargento Tânia Guerreiro (Podemos) não respondeu. Em 4 de junho, dois dias após o início da sindicância, ela publicou nota sobre o caso.

“O conteúdo dessas palestras é exclusivamente destinado a maiores de 18 anos, com aviso claro e explícito, devido à seriedade dos relatos baseados em mais de 30 anos de atuação na Polícia Militar do Paraná no enfrentamento a crimes contra crianças e adolescentes”, escreveu, na época.

Ela disse ainda que “a proteção da criança e a defesa de sua inocência são pautas inegociáveis que norteiam sua vida e seu mandato”, e afirmou acompanhar o processo com “serenidade e responsabilidade”.

Em outra postagem, a policial afirmou que entrou na política “para combater a pedofilia”. A Câmara de Curitiba confirmou o arquivamento, sem divulgar detalhes da decisão.

Segundo ofício da ONG Elos Invisíveis, durante uma palestra realizada em 10 de maio de 2024 na cidade de Colombo (na região metropolitana de Curitiba) a vereadora exibiu vídeos reais de crianças sendo abusadas sexualmente. Cerca de 130 pessoas estavam na plateia.

A reportagem teve acesso à íntegra do áudio de outra palestra ministrada por Guerreiro em abril de 2025, em uma faculdade privada de Curitiba. Durante mais de uma hora, a vereadora descreve em detalhes abusos sexuais sofridos por crianças e relata que guarda vídeos em seu próprio celular. Em um dos trechos, há sons de choro ao fundo. “Esse vídeo tem som. Ele grita”, diz a vereadora.

Uma das testemunhas, ouvida pela reportagem, disse ter ficado atônita durante a palestra. Segundo ela, um dos vídeos mostrava mulheres abusando de uma criança de quatro anos, e era possível ouvir os gritos dela. Ainda segundo essa pessoa, uma colega vomitou com a cena, e outra saiu chorando.

A testemunha disse que a vereadora justificou que os vídeos eram necessários “para que as pessoas entendessem o que é pedofilia”. Em outra palestra ministrada em 2021 na Câmara de Matinhos, no litoral paranaense, Guerreiro exibiu imagens de ferimentos nos órgãos genitais de crianças supostamente abusadas.

Segundo Ana Lúcia Oliveira, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da OAB-PR, a exibição de imagens reais de violência sexual contra crianças, mesmo em contextos educativos, pode configurar crime.

“Se comprovada a exibição desse tipo de material, há indícios de violação do artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que trata da posse e divulgação de pornografia infantil. A pena é de reclusão de um a três anos e multa”, afirma.

A especialista alerta para os impactos da divulgação desse tipo de material sensível. “A exposição de conteúdo pornográfico sem mediação técnica pode causar danos significativos e violar o princípio da proteção integral. Além disso, a banalização ou espetacularização da violência pode prejudicar as vítimas, reforçar estigmas e comprometer políticas públicas sérias.”

Oliveira conta que teve acesso ao áudio da palestra e a relatos de testemunhas. No entanto, destaca que o órgão não tem função investigatória. “Cobramos respostas e acompanhamos o caso com atenção”, disse, destacando que reiterou ofício ao Ministério Público. “Temos legislação clara sobre a proteção da criança e do adolescente. O princípio da proteção integral deve prevalecer sobre qualquer outro.”