SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Eslovênia se tornou, nesta quinta-feira (17), o primeiro país da União Europeia a colocar dois ministros da ala mais radical do governo de Israel na condição de persona non grata, proibindo os políticos de entrar no país do Leste Europeu, afirmou a Ministra das Relações Exteriores Tanja Fajon.
“De certa forma, pioneiros”, disse Fajon a jornalistas, embora tenha observado que “outros países fora do continente impuseram recentemente proibições de viagem a esses dois ministros”. “Estamos enviando uma mensagem clara ao governo israelense de que o massacre de civis inocentes deve acabar”, afirmou.
Segundo Fajon, a Eslovênia decidiu tomar essa medida depois de ministros de Relações Exteriores do bloco europeu não concordarem com uma ação conjunta contra Israel em relação a acusações de violações de direitos humanos em uma reunião em Bruxelas, na última terça-feira (15).
Os dois ministros israelenses em questão são os extremistas Itamar Ben Gvir, que comanda a pasta de Segurança Nacional, e Bezalel Smotrich, à frente de Finanças. Ambos compõem a coalizão liderada pelo primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, a mais à direita da história do Estado judeu.
Os políticos acumulam falas xenófobas e racistas há anos, o que fazia o mainstream político os repelir. Em 2022, porém, eles chegaram ao governo após seus respectivos partidos se aliarem na coligação Sionismo Religioso união apadrinhada por Netanyahu, que, brigado com quase todos as siglas de centro e de esquerda, resolveu fortalecer partidos religiosos e ultranacionalistas para voltar ao poder.
Ben Gvir, indiciado várias vezes por incitação ao racismo, é um advogado que se especializou em defender ativistas radicais, principalmente em casos ligados a confrontos com palestinos em Israel e nos territórios ocupados. Na juventude, passou a seguir as ideias do rabino Meir Kahana, ultranacionalista acusado de terrorismo nos Estados Unidos e em Israel, e integrou o movimento Kach, banido em 1994.
Smotrich é outro ativista de extrema direita desde jovem em 2005, aos 25 anos, foi preso ao protestar contra a retirada israelense da Faixa de Gaza promovida pelo então premiê Ariel Sharon e, no ano seguinte, participou de protestos contra a Parada do Orgulho LGBTQIA+ em Jerusalém, que chamou de abominável.
Com o início da guerra na Faixa de Gaza, após os atentados terroristas do Hamas no sul de Israel, em outubro de 2023, suas falas ganharam um novo peso.
Em maio deste ano, por exemplo, Smotrich pediu a destruição completa do território palestino. “Gaza será totalmente destruída, os civis serão enviados para o sul, para uma zona humanitária sem Hamas ou terrorismo, e de lá começarão a sair em grande número para outros países”, afirmou, traçando um plano que configuraria limpeza étnica, segundo especialistas em direito internacional.
Antes disso, em novembro do ano passado, ele afirmou que Tel Aviv deveria conquistar Gaza e “reduzir pela metade” a população palestina por meio de “emigração voluntária”. “Podemos e devemos conquistar Gaza. Não devemos ter medo desta palavra”, afirmou, durante um evento promovido pelo Conselho Yesha, que representa colonos israelenses na Cisjordânia.
Em outubro de 2023, Ben Gvir afirmou que, enquanto o Hamas não libertasse os reféns, a única coisa que deveria entrar em Gaza era “centenas de toneladas de explosivos da Força Aérea nem um grama de ajuda humanitária”. Toda a população do território palestino, bloqueado por Israel durante 11 semanas este ano, está em situação de insegurança alimentar, segundo projeção da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), iniciativa apoiada pela ONU.
Segundo um comunicado do governo da Eslovênia, eles foram proibidos de entrar no país por suas “declarações genocidas, que incentivam a violência extrema e graves violações dos direitos humanos palestinos”.
Ainda segundo a nota, ambas as autoridades “defendem publicamente a expansão de assentamentos israelenses ilegais na Cisjordânia, as expulsões forçadas de palestinos e incitam à violência contra a população civil palestina”.
A pressão internacional sobre Israel por sua ofensiva em Gaza aumentou nos últimos meses. Em junho, Reino Unido, Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Noruega também anunciaram sanções contra os dois ministros, que agora estão proibidos de viajar para esses países.
A Eslovênia, porém, há muito condena o conflito. A presidente do país, Natasa Pirc Musar, denunciou o genocídio perante o Parlamento Europeu em maio e, no ano passado, reconheceu o Estado palestino, juntando-se a Irlanda, Espanha e Noruega. Embora quase 150 nações tenham tomado essa medida, a maioria dos países ocidentais não o fez.
Não houve reação imediata do governo de Israel, que regularmente rejeita acusações de genocídio e afirma estar agindo em legítima defesa após o ataque de 2023, que matou 1.200 pessoas. A guerra em Gaza já matou mais de 58 mil palestinos, de acordo com as autoridades de saúde do território, controladas pelo Hamas.